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Enciclopédia Itaú Cultural
Literatura

A Moreninha

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 06.10.2017
1844
Publicado em 1844, A Moreninha é o romance de estreia de Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882). O autor é reconhecido como um dos precursores do romantismo brasileiro por ser o primeiro a captar, no gênero romance, tipos e situações urbanas nacionais.   

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Análise

Publicado em 1844, A Moreninha é o romance de estreia de Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882). O autor é reconhecido como um dos precursores do romantismo brasileiro por ser o primeiro a captar, no gênero romance, tipos e situações urbanas nacionais.   

O enredo discorre sobre quatro amigos e estudantes de medicina: Filipe, Fabrício, Leopoldo e Augusto. Decidem, a convite do primeiro, passar o feriado de Sant’Ana na ilha de Paquetá, onde vive D. Ana, a avó do rapaz. Mais do que o prazer de conhecer “a velha mais patusca do Rio de Janeiro”,1 o passeio tem motivação sentimental: as duas primas de Filipe (D. Joana e D. Joaquina), mais sua irmã, D. Carolina (a Moreninha) e amigas da família estarão na casa para o deleite dos românticos garotos e, em especial, para Augusto. Conhecido por sua inconstância amorosa e espírito de fuzarca, Augusto recusa-se a crer, como lhe diz Filipe, que acabará a viagem apaixonado por uma das moças. Dessa teimosia, trava-se uma aposta: caso retorne enamorado, Augusto deverá escrever um romance sobre sua paixão; caso vença a inconstância, a escrita caberá a Filipe.

Tendo por protagonistas Augusto (que, apesar do distanciamento narrativo, identificamos ao narrador) e D. Carolina, a Moreninha, o romance versa sobre o amor do casal. O herói conhece alguns obstáculos para o enlace amoroso. O principal deles é a fama de Augusto, revelada em pleno jantar por Fabrício em represália à recusa do amigo de auxiliá-lo a refrear os ímpetos de D. Joana. Augusto defende-se da revelação de Fabrício com cômica sinceridade, para o desagrado das moças. D. Ana, por sua vez, interessa-se pelo jovem protagonista e surge a oportunidade de este contar-lhe suas desventuras amorosas. Dentre os casos, está aquele que dá origem a sua inconstância – um antigo amor de infância por uma garotinha mais nova, que conhece na praia, e com a qual assiste aos últimos minutos de vida de um pobre pescador. Antes de morrer, o homem abençoa o casal e faz com que ambos troquem lembranças a serem guardadas por toda a vida: ele, um botão de esmeralda do vestido da menina, envolto em uma fita branca; ela, um camafeu de ouro que o garoto portava, enrolado em uma fita verde. Estabelecido o laço de confiança entre Augusto e D. Ana, o garoto tem de enfrentar a resistência das primas e amigas de Moreninha. O destino faz com que se veja preso no quarto de vestir das garotas, conhecendo seus compromissos amorosos mais secretos com rapazes da corte, e uma ajuda “anônima” (evidentemente, de Moreninha), poupa-o de receber o castigo preparado pelas garotas por sua inconstância. O incidente com as moças termina, ao fim da visita dos amigos à ilha, com o primeiro encontro a sós entre Augusto e Carolina. A irmã de Filipe, que em algumas situações da visita mostra-se como sombra discreta a seguir os passos de Augusto, revela-se portadora de seus segredos. Espantado com a perspicácia e a beleza da moça, vê-se a ponto de declarar-se apaixonado. Acaba por fazê-lo, porém, duas semanas mais tarde, depois de duas novas visitas à ilha, já completamente dominado pelos encantos de Moreninha. O casal vive as agruras de uma brevíssima separação e a paixão resulta, na sequência, em pedido de casamento. Durante o pedido, os “breves” do pescador são revelados e Augusto e Moreninha descobrem-se prometidos um ao outro desde a infância. Assim, o estudante perde a aposta.

Em A Moreninha, Macedo empenha as qualidades literárias que fazem sua fama e importância futuras. Seus “esquemas de efeito novelístico” remontam a fórmulas de modelos narrativos que o aproximam da fábula. Neles, estão presentes: namoros difíceis, mistérios sobre a identidade, conflitos entre dever e paixão, situações cômicas e reconhecimento final, para recordar alguns dos elementos folhetinescos explicitados pelo crítico literário Alfredo Bosi (1936).2 Como pano de fundo, há a anotação documental de costumes e tipos, o tom coloquial e a postura moral, cuja correção busca identificar-se com o leitor. Remetem a um entendimento superficial de uma sociedade em fase de estabilização. Segundo o crítico Antonio Candido (1918-2017), se José de Alencar (1829-1877) dá ao romance brasileiro um “mito heroico” (O Guarani, de 1857), Macedo, com A Moreninha, dá-lhe um “mito sentimental”. Nele, prossegue Candido, lê-se a contrapartida estética – “Realidade, mas só nos dados iniciais; sonho, mas de rédea curta; incoerência, à vontade; verossimilhança, ocasional; linguagem, familiar e espraiada”– de uma “sociedade acanhada de comerciantes, funcionários e fazendeiros”.3 Ou seja, as ingênuas intrigas sentimentais e todo o modo de narrar são cúmplices dos moldes excludentes e desiguais da sociedade brasileira

Retratando com fidelidade a sociedade, Joaquim Manuel de Macedo tem mérito de colocar a prosa brasileira no caminho do estudo dos costumes e circunscrever um meio: a corte carioca do Segundo Reinado. Sem o elenco de personagens e motivos que seus livros trazem, escritores como José de Alencar e Machado de Assis (1839-1908) não teriam diante de si as primeiras balizas de uma cultura literária, que constituem a maior realização da obra do autor, da qual A Moreninha é o exemplo mais bem acabado.

Notas

1. MACEDO, Joaquim Manuel de. A Moreninha. Porto Alegre: L&PM, 2013. p.15.
2. BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 32 ed. São Paulo: Cultrix, 1994. p.130.
3. CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. 4. ed. São Paulo: Martins, 1971. 2 v.

Fontes de pesquisa 3

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  • BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 32. ed. rev. e aum. São Paulo: Cultrix, 1994.
  • CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. 4. ed. São Paulo: Martins, 1971. 2 v.
  • MACEDO, Joaquim Manuel de. A Moreninha. Porto Alegre: L&PM, 2013.

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