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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Edifício do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ)

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 10.06.2024
1958
O edifício do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ) é de autoria do arquiteto Affonso Eduardo Reidy (1909-1964). A instituição é fundada em 3 de maio de 1948. Em janeiro do ano seguinte, o museu é instalado no último andar do prédio do Banco Boavista, projetado por Oscar Niemeyer (1907-2012), na Avenida Presidente Vargas. Em 1952, tra...

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O edifício do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ) é de autoria do arquiteto Affonso Eduardo Reidy (1909-1964). A instituição é fundada em 3 de maio de 1948. Em janeiro do ano seguinte, o museu é instalado no último andar do prédio do Banco Boavista, projetado por Oscar Niemeyer (1907-2012), na Avenida Presidente Vargas. Em 1952, transfere-se para o térreo do edifício do Ministério da Educação e Saúde, atual Palácio Gustavo Capanema. Nesse período, começam as tratativas para a construção da sede definitiva do MAM. A prefeitura da cidade doa o terreno, em um trecho da água da Baía de Guanabara, cujo aterro é feito com solo proveniente do desmonte do morro de Santo Antônio, também no centro da cidade. Affonso Eduardo Reidy recebe o convite e inicia o projeto em 1953.

As obras começam em 1954. O MAM é projetado como três blocos independentes, porém comunicantes. Cada uma dessas partes é concluída e inaugurada em anos distintos: a Escola de Criação, em 1958, e a galeria de exposições, em 1967. O teatro tem o projeto modificado e é concluído apenas em 2006, não fazendo, institucionalmente, parte do museu. Um fato marcante na cronologia do MAM é o incêndio de julho de 1978, que destrói parte considerável do acervo.

A construção está localizada junto à Baía de Guanabara, na extremidade superior do Aterro do Flamengo, na área contígua ao parque público por meio dos jardins de Burle Marx (1909-1994). O MAM insere-se em uma paisagem natural, envolvida pela Marina da Glória e pelo Pão de Açúcar.

Tal cenário é aspecto fundante do partido arquitetônico. Segundo o próprio arquiteto, vem daí “o predomínio da horizontal em contraposição ao movimentado perfil das montanhas e o emprego de uma estrutura extremamente vazada e transparente, que permitirá manter a continuidade dos jardins até o mar, através do próprio edifício, o qual deixará livre uma parte apreciável do pavimento térreo” [1].

Ao suspender o bloco de exposições, Reidy opta por uma solução de continuidade  entre a histórica malha urbana, o Parque do Flamengo e as águas da Baía de Guanabara, estabelecendo reciprocidade entre cidade – construção humana – e natureza. O arquiteto Paulo Mendes da Rocha (1928) reconhece a importância do projeto do Museu de Arte Moderna e de Reidy: “O MAM tornou-se uma construção insubstituível na formação do arquiteto brasileiro, [...] representa uma estrutura construída exemplar na sua implantação suspensa do chão, recompondo um largo recinto, em que situações de interior e exterior se articulam, realizando espaços de rara beleza e controle de escalas entre a paisagem monumental e os lindíssimos recintos inesperados – sempre ainda no chão da cidade” [2].

O bloco principal, destinado a exposições, posiciona-se no centro do conjunto. Com dois pavimentos acima do rés do chão, sua forma remete ao Colégio Brasil-Paraguai, projetado por Reidy, em Assunção, um ano antes, em 1952. O MAM Rio tem a estrutura em pórticos, composta por uma sequência de 14 quadros de concreto armado, com distância de 10 metros entre eles. Esses pórticos são constituídos de pilares que se bifurcam a partir do térreo. Com formato de V, o braço menor e interno de cada pilar escora a laje do primeiro piso, e o braço maior apoia a viga mestra superior de 2,70 metros de altura, a 16,93 metros de altura em relação ao solo. Essa estrutura cria um vão de 39 metros entre os pontos de apoio. Ligados à trave superior estão os tirantes que suspendem as lajes do segundo pavimento e as lajes de cobertura. A cobertura foi planejada de forma a permitir que a luz natural penetre no ambiente através de diversas aberturas. Uma  grande viga curva corre paralelamente as fachadas, protegendo-as da insolação excessiva e operando como contraventamento entre os pórticos.

Não há ligação estrutural entre os pisos do primeiro e do segundo andares. A sala de exposições, localizada no primeiro pavimento, tem 130 metros de comprimento por 26 metros de largura, sem qualquer pilar ou obstáculo estrutural, liberando o espaço para ser livremente configurado conforme cada exposição. O pé-direito varia de 8 metros – em trechos com pé-direito duplo, com acesso pela escada em espiral feita de concreto – a 3,60 metros – nas áreas com dois andares expositivos. Essa estrutura independente permite que as fachadas laterais, do piso ao teto, sejam feitas em superfícies de vidro, possibilitando uma relação visual plena entre interior e exterior ou entre arte e paisagem.

Segundo o arquiteto e historiador João Masao Kamita, “Classificação das funções em setores distintos, individualidade das formas, estrutura portante exposta, volume aberto e, por fim, evidência da técnica que propicia a materialização do edifício são, em suma, táticas empregadas para conferir clareza estrutural ao objeto, em outros termos, conferir-lhe transparência” [3].

O princípio da estrutura independente corresponde à ideia moderna de museu, galerias expositivas livres de estruturas e francas à exterioridade. Não se trata mais de instituição de guarda de obras de arte, apartada da vida mundana, em ambientes enclausurados para serem admiradas sem perturbações.

Seguindo a experiência do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), a instituição ainda abriga o bloco-escola, com o Centro de Documentação e Pesquisa, a cinemateca, um pequeno auditório, a reserva técnica, as salas para aulas e apresentações, o restaurante e o terraço-jardim.

Notas
[1] REIDY, Affonso Eduardo. Memorial Descritivo. In: COELHO, Frederico (Org.). Museu de Arte Moderna: arquitetura e construção. Rio de Janeiro: Cobogó, 2010, p. 22.
[2] MENDES DA ROCHA, Paulo. Depoimento. In: COELHO, Frederico (Org.). Museu de Arte Moderna: arquitetura e construção. Rio de Janeiro: Cobogó, 2010, p.121.
[3] KAMITA, João Masao. Espaço moderno e país novo. Tese (Doutorado) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1999. p.134.

Fontes de pesquisa 10

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  • ANDREOLI, Elisabetta; FORTY, Adrian. Arquitetura moderna brasileira. Londres; Nova York: Phaidon, 2004.
  • BONDUKI, Nabil. Affonso Eduardo Reidy. Lisboa: Editorial Blau, 2000.
  • BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1981.
  • COELHO, Frederico (Org.). Museu de Arte Moderna: arquitetura e construção. Rio de Janeiro: Cobogó, 2010.
  • DEPOIMENTO de uma geração: arquitetura moderna brasileira. rev. ampl. Organização Alberto Xavier. São Paulo: Cosac Naify, 2003.
  • KAMITA, João Masao. Engenho construtivo do MAM/RJ, de Affonso Eduardo Reidy. AU – Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, n. 246, set. 2014.
  • KAMITA, João Masao. Experiência moderna e ética construtiva: a arquitetura de Affonso Eduardo Reidy. Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1994.
  • KAMITA, João Massao. Espaço Moderno e País Novo. Arquitetura moderna no Rio de Janeiro. 1999. 184p. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. São Paulo, 1999.
  • MINDLIN, Henrique. Arquitetura moderna no Brasil. Rio de Janeiro: Aeroplano, 1999.
  • SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil, 1900-1990. 2.ed. São Paulo: Edusp, 1999.

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