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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Vila Operária da Gamboa, Rio de Janeiro

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 10.06.2024
1933

Vila Operária da Gamboa, Rio de Janeiro, 1933
Lucio Costa, Gregori Warchavchik

O conjunto habitacional Vila Operária da Gamboa está localizado no bairro de Santo Cristo, no Rio de Janeiro. Projetado pelos arquitetos Lúcio Costa (1902-1998) e Gregori Warchavchik (1896-1972), e planejado pelo empresário e médico Fábio Carneiro de Mendonça (1896-1982) na década de 1930, foi uma das primeiras habitações modernistas operárias d...

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O conjunto habitacional Vila Operária da Gamboa está localizado no bairro de Santo Cristo, no Rio de Janeiro. Projetado pelos arquitetos Lúcio Costa (1902-1998) e Gregori Warchavchik (1896-1972), e planejado pelo empresário e médico Fábio Carneiro de Mendonça (1896-1982) na década de 1930, foi uma das primeiras habitações modernistas operárias do Brasil. Ainda hoje, caracteriza-se pelo seu uso como moradia popular.

Após o primeiro contato na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro (ENBA), Costa e Warchavchik iniciam uma parceria na década de 1930, fundando o escritório da Sociedade de Construções Warchavchik-Lucio Costa1, com o intuito de materializar o que vinham estudando na academia sobre as rupturas no cenário da arquitetura mundial. Contavam com a colaboração do arquiteto Carlos Leão (1906-1983), e, mais tarde, Oscar Niemeyer (1907-2012) se juntaria a eles.

A Vila Operária da Gamboa foi o segundo projeto do escritório. O primeiro foram duas casas geminadas na Rua Rainha Elizabeth, também no Rio de Janeiro. Através da cliente Dona Maria Gallo, conheceram o médico Fábio Carneiro de Mendonça, que encomendou o projeto de habitação popular. É o único projeto que ainda existe da parceria entre os arquitetos.

O projeto consiste em catorze unidades habitacionais alocadas na rua Barão da Gamboa, em um terreno pequeno e irregular de um bairro tipicamente industrial e, portanto, ocupado por  residências operárias. Os apartamentos, superpostos dois a dois, compartilham um acesso comum através de uma extensa varanda circular. Esta quebra a geometria dos volumes cúbicos aplicada ao conjunto. Em relação à conformação interna, cada unidade configura-se em um quadrado dividido em quatro partes iguais. Um destinado à sala, outros 2 aos quartos e o último divide-se entre banheiro e cozinha. A área de circulação foi reduzida e um pequeno hall central cumpre a função de circulação entre os ambientes. Desta maneira, foi possível o máximo aproveitamento do terreno.

No projeto original, a cobertura era composta por uma laje plana e a pintura das fachadas era em verde e marrom. O uso combinado de cores, segundo os arquitetos José Simões Pessoa e Maria Araújo, foi possivelmente influenciado pela Vila Pessac, projetada pelo arquiteto Le Corbusier (1987-1965), em Bordeaux, na França.2

O volume puro da obra, as lajes em balanço sobre as portas, as esquadrias basculantes em ferro, o aproveitamento máximo do terreno e o uso de concreto armado são qualidades frequentemente atribuídas à arquitetura modernista. Àquela época, o tema da habitação coletiva popular passa a ser um enfoque para os arquitetos dessa vanguarda. É desse período a elaboração da Carta de Atenas. O documento resulta do IV Congresso Internacional de Arquitetura (CIAM) e serve de referência e guia para a arquitetura e o urbanismo ao afirmar que a unidade habitacional passa a representar o "núcleo inicial do urbanismo" e, portanto, a célula que poderia transformar as cidades.3

Com a Revolução Industrial e o aumento da densidade populacional urbana, a revisão no modo de fazer e pensar as cidades tornou-se uma questão urgente.4 No Brasil, a aceleração da indústria em 1930 agravou a precariedade das condições das moradias operárias das grandes cidades e chamou a atenção das autoridades públicas e da sociedade civil. Até aquele momento, as habitações populares consistiam em pequenos sobrados remanescentes ainda do período colonial.5 

A quebra de paradigmas no âmbito da arquitetura acontece em paralelo a transformações em outros campos. A semana de Arte Moderna de 1922 difunde novos preceitos na arte, na música e na cultura, em geral. Em 1925, Warchavchik publica no Jornal II Piccolo o manifesto Acerca da Arquitetura Moderna – o primeiro artigo publicado no Brasil sobre o tema. No seu manifesto, descreve os edifícios residenciais como "máquinas para habitação"6, ilustrando a necessidade de otimizar sua funcionalidade. É neste contexto que a Vila Operária da Gamboa é inaugurada em 1933.

Na década de 1980, o Projeto Sagas realiza o tombamento do edifício e conserva seu uso residencial.8 Outros exemplos de conjuntos habitacionais modernistas desse período são as moradias populares projetadas pelo arquiteto Afonso Reidy (1909-1964), como o Conjunto do Pedregulho e o Marquês de São Vicente, ambos no Rio de Janeiro (capital federal brasileira na época).

A parceria entre dois arquitetos da vanguarda da arquitetura brasileira modernista ao redor do tema da habitação popular e o pioneirismo da obra na história da arquitetura moderna nacional corroboram sua relevância como patrimônio arquitetônico.

Notas

1. PESSOA, José Simões de Belmont; ARAÚJO, Maria Silvia Muylaert. Gamboa: Vila operária da Gamboa, Rio de Janeiro, 1933/83. Módulo, Rio de Janeiro, n. 76, pp. 52-55, 1983. disponível em: http://www.jobim.org/lucio/handle/2010.3/1453

2. PESSOA, José Simões de Belmont; ARAÚJO, Maria Silvia Muylaert. Gamboa: Vila operária da Gamboa, Rio de Janeiro, 1933/83. Módulo, Rio de Janeiro, n. 76, pp. 52-55, 1983. disponível em: http://www.jobim.org/lucio/handle/2010.3/1453

3. COELHO, Carla Maria Teixeira. Habitação coletiva moderna no Rio de Janeiro: considerações sobre sua preservação. Revista CPC, São Paulo, n. 22 especial, p. 15-40, abr. 2017. Disponível em:  

4. COELHO, Carla Maria Teixeira. Habitação coletiva moderna no Rio de Janeiro: considerações sobre sua preservação. Revista CPC, São Paulo, n. 22 especial, p. 15-40, abr. 2017. Disponível em:  

5. COELHO, Carla Maria Teixeira. Habitação coletiva moderna no Rio de Janeiro: considerações sobre sua preservação. Revista CPC, São Paulo, n. 22 especial, p. 15-40, abr. 2017. Disponível em:  

6. WARCHAVCHIK, Gregori. Arquitetura do século XX e outros escritos. Organização: Carlos Ferreira A. Martins. São Paulo: Cosac Naify, 2006. 

7. FARIAS, Agnaldo. Gregori Warchavchik. In: Brasil faz design: criatividade brasileira no cenário internacional. São Paulo: Olhares, 2017.

8. NASCIMENTO, Flávia Brito do. Blocos de memórias: habitação social, arquitetura moderna e patrimônio cultural/ Flávia Brito do Nascimento - São Paulo, 2011. 396 p. : il. Tese (Doutorado - Área de Concentração: Habitat) - FAUUSP. Orientador: Nabil Georges Bonduki.

Fontes de pesquisa 11

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  • BARBOSA, Antônio Agenor. Relembrando o professor Lúcio Costa. Vitruvius, São Paulo, set. 2002. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/03.028/754 >. Acesso em: 01 abr. 2019
  • BONDUKI, Nabil. Origens da habitação social no Brasil: arquitetura moderna, lei do inquilinato e difusão da casa própria. 4. ed São Paulo: Estação Liberdade, 2004. 344 p., il. p&b.
  • COELHO, Carla Maria Teixeira. Habitação coletiva moderna no Rio de Janeiro: considerações sobre sua preservação. Revista CPC, São Paulo, n. 22 especial, p. 15-40, abr. 2017. Disponível em: < http://dx.doi.org/10.11606/issn.1980-4466.v0iesp22p15-40 >. Acesso em: 02 abr. 2019
  • FARIAS, Agnaldo. Gregori Warchavchik. In: Brasil faz design: criatividade brasileira no cenário internacional. São Paulo: Olhares, 2017.
  • MOREIRA, Pedro. Alexandre Altberg e a Arquitetura Nova no Rio de Janeiro. Arquitextos, 058.00, ano 05, mar. 2005. Disponível em: https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.058/484. Acesso em 02 abr. 2019
  • NASCIMENTO, Flávia Brito do. Blocos de memórias: habitação social, arquitetura moderna e patrimônio cultural/ Flávia Brito do Nascimento - São Paulo, 2011. 396 p. : il. Tese (Doutorado - Área de Concentração: Habitat) - FAUUSP. Orientador: Nabil Georges Bonduki.
  • PESSOA, José Simões de Belmont; ARAÚJO, Maria Silvia Muylaert. Gamboa: Vila operária da Gamboa, Rio de Janeiro, 1933/83. Módulo, Rio de Janeiro, n. 76, pp. 52-55, 1983. disponível em:< http://www.jobim.org/lucio/handle/2010.3/1453 >. Acesso em 01 abr. 2019.
  • RUBIN, Graziela Rosatto. Movimento Moderno e Habitação Social no Brasil. Geografia Ensino & Pesquisa, Santa Maria, v. 17, n.2, mai-ago 2013.
  • RUBIN, Graziela Rosatto; BOLFE, Sandra Ana. O desenvolvimento da habitação social no Brasil. Ciência e Natura, Santa Maria, v.36, n.2, p. 201-213, mai-ago 2014.
  • TRAMONTANO, M. ; SOUZA, M. D. Encontros e Desencontros: Modernismo e Conjuntos Habitacionais na Metrópole Paulistana. In: I Seminário Docomomo São Paulo, 2004, São Paulo. I Seminário Docomomo São Paulo, 2004. Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/site/livraria/livraria.html>.
  • WARCHAVCHIK, Gregori. Arquitetura do século XX e outros escritos. Organização: Carlos Ferreira A. Martins. São Paulo: Cosac Naify, 2006.

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