Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Teatro Universitário do Rio Grande do Sul

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 05.02.2021
1955 Brasil / Rio Grande do Sul / Porto Alegre
1958 Brasil / Rio Grande do Sul / Porto Alegre
O Teatro Universitário, sucessor do Teatro do Estudante do Rio Grande do Sul, marca sua curta trajetória pela inovação no repertório, a realização de festivais em que encena várias peças no mesmo programa e o engajamento na formação do Curso de Arte Dramática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CAD/UFGRS).

Texto

Abrir módulo

O Teatro Universitário, sucessor do Teatro do Estudante do Rio Grande do Sul, marca sua curta trajetória pela inovação no repertório, a realização de festivais em que encena várias peças no mesmo programa e o engajamento na formação do Curso de Arte Dramática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CAD/UFGRS).

O grupo é fundado em abril de 1955, logo depois de o estudante paulista Antônio Abujamra assumir a direção do Departamento de Teatro da União Estadual dos Estudantes (UEE), na gestão de Flavio Tavares na presidência da entidade. De certa forma, repete-se a história do Teatro do Estudante, também nascido no âmbito da UEE, em 1941, mas que, posteriormente dela se desvincula.

Com a dispersão do Teatro do Estudante, em 1953, vários de seus integrantes, como Fernando Peixoto, Nilson Carlos Scotti, Armando Piazza Filho e o próprio Abujamra, aderem à proposta de organização de um novo grupo, que mantenha, no entanto, a mesma preocupação com a criação de um repertório de qualidade e a investigação a respeito dos problemas do teatro.

Pouco mais de um mês depois de sua criação, o Teatro Universitário inicia suas atividades com um programa duplo, apresentando O Marinheiro, de Fernando Pessoa, com direção de Abujamra; e Feliz Viagem a Trenton, de Thornton Wilder, encenação do diretor carioca Carlos Murtinho, que estabelece um parâmetro de qualidade na linguagem da equipe. Seu surgimento do grupo é encarado como uma possibilidade de reverter a crise que atravessa o teatro gaúcho nesse momento, conforme registra a Revista do Globo. "A razão principal dos fracassos - sem falar nas dificuldades financeiras, má escolha das peças - é, em primeiro lugar a frágil estrutura do grupo onde predomina francamente o estrelismo em detrimento do trabalho de equipe que é norma para elencos novos. Daí as brigas. Mas há exceções que dão esperança, como é o caso do recém-criado Teatro Universitário".1

O espetáculo seguinte, Recital de Poemas, dirigido por Paulo Hecker Filho, aproxima ainda mais o grupo da intelectualidade da cidade. Hecker Filho é editor da revista de vanguarda Crucial, juntamente com José Paulo Bisol e Linneu Dias. Este, em seguida, passa a fazer parte do Teatro Universitário.

Seus integrantes estão engajados na luta por um verdadeiro curso de teatro dentro da universidade. Em 1955, promovem um ciclo de palestras com o italiano Ruggero Jacobbi, radicado em São Paulo há alguns anos. Essas conferências na Faculdade de Filosofia servem de combustível para a mobilização pela criação do curso.

O Teatro Universitário passa a produzir de forma intensa. A adesão de novos membros, como Luiz Carlos Maciel, Linneu Dias e Milton Mattos, permite que, em outubro, se realize o chamado "festival de repertório", com a remontagem de Feliz Viagem a Trenton e a estréia de três peças: Uma Mulher e Três Palhaços, de Marcel Achard, Entre o Vermute e a Sopa, de Artur Azevedo, e O Muro, de Jean-Paul Sartre. Paulo José, então estudante de arquitetura, junta-se ao grupo.

Ao comentar o festival, a Revista do Globo. O assinala: "Uma das maiores virtudes do Teatro Universitário é a disciplina e a ausência de conflitos entre seus membros. O trabalho, com um entusiasmo fora do comum, é feito em equipe, mas, como é natural, debaixo da orientação da diretoria encarregada da administração geral".2

Em 1956, vários integrantes do Teatro Universitário participam da ousada montagem de Hamlet, de William Shakespeare, com direção de Silva Ferreira, do grupo Comédia da Província. Em novembro, apresentam o seu único trabalho do ano: À Margem da Vida, de Tennessee Williams, com direção de Antonio Abujamra, com um pequeno elenco formado por Paulo José, Yetta Moreira e a estreante Lilian Lemmertz. A encenação recebe o Prêmio Negrinho do Pastoreio para o melhor espetáculo e para a melhor direção do ano. Com isso, o Teatro Universitário é convidado a participar do 1º Festival Brasileiro de Teatro Amador, no Rio de Janeiro, promovido pela atriz Dulcina de Moraes, e recebe menção honrosa. Abujamra e Peixoto conhecem o trabalho de Mario de Almeida, diretor paulista radicado no Rio de Janeiro, e o convencem a trabalhar em Porto Alegre.

Ele estréia em abril de 1957, dirigindo O Provocador, de Paulo Hecker Filho, em mais um festival do Teatro Universitário. O programa inclui O Caso das Petúnias Esmagadas, de Tennessee Williams, e Os Cegos, de Michel de Ghelderode. O programa do festival traz um texto assinado por Antonio Abujamra: "Um espetáculo de três peças curtas é realmente muito mais trabalhoso para a produção. Gasta-se muito e quase nunca se obtém um sucesso de público que compensa financeiramente. Sabemos que não vamos cobrir as despesas. Mas não importa. Queremos organizar um espírito sensato dentro de nós mesmos, fazendo teatro com o que procuramos sempre: lucidez".

Nessa época, a classe artística inicia formalmente a mobilização pela criação do Curso de Arte Dramática. O Teatro Universitário lidera a campanha. "A perspectiva de um curso de teatro em nível universitário, a exemplo de outros estados, nos parecia uma batalha a ser travada cotidianamente através de todos os meios disponíveis. Começamos a escrever muito sobre isso".3

O Macaco da Vizinha, de Joaquim Manuel de Macedo, com direção de Mario de Almeida, ganha a maioria das categorias Prêmio Negrinho do Pastoreio de 1957, incluindo melhor espetáculo e direção. No programa, Abujamra redige um novo manifesto: "Não é possível que tenhamos sempre que gritar que só um teatro dentro da universidade é que virá, como complemento estético de educação, a nos colocar num nível elevado de criação artística. Isso não deve ser descuidado, senhores diretores: dêem-nos o curso para o próximo ano! E trabalhemos!"4

No fim de 1957, o Teatro Universitário investe no teatro de vanguarda. O festival realizado em novembro apresenta Um Gesto por Outro, de Jean Tardieu, e duas peças de Eugène Ionesco: A Lição e A Cantora Careca. Em março, quando o Teatro Universitário ensaia A Máquina de Escrever, de Jean Cocteau, a UFRGS confirma a contratação de Ruggero Jacobbi para dirigir o novo Curso de Arte Dramática, agregado à Faculdade de Filosofia.

A conquista do sonhado curso acaba, paradoxalmente, provocando uma dispersão no Teatro Universitário. A volta de Antonio Abujamra a São Paulo e o fim do contrato de Mario de Almeida, que permanece em Porto Alegre integrado ao Teatro de Comédia criado por Glênio Peres, contribuem para enfraquecer o grupo.

Em setembro de 1958, Mario de Almeida, Paulo José e Milton Mattos, os três remanescentes, mais o jovem Paulo César Peréio, fundam o Teatro de Equipe, que, na prática, ocupa o espaço deixado pelo Teatro Universitário. A última peça encenada pelo Teatro Universitário é uma coprodução com o Teatro de Equipe: Esperando Godot, com direção de Luiz Carlos Maciel.

Notas

1. Teatro de cabeça baixa, in Revista do Globo 13/11/1943

2. Festival em outubro, in Revista do Globo, 09/07/1955

3. Teatro é realidade, in Revista do Globo, 12/11/1955

4. PEIXOTO, Fernando. Teatro Fora do Eixo: Editora Hucitec, 1983

Fontes de pesquisa 4

Abrir módulo
  • Festival em outubro, in Revista do Globo, 09/07/1955.
  • PEIXOTO, Fernando. Teatro Fora do Eixo: Editora Hucitec, 1983.
  • Teatro de cabeça baixa, in Revista do Globo 13/11/1943.
  • Teatro é realidade, in Revista do Globo, 12/11/1955.

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: