Museu Nacional
![Retrato de Debret, ca. 1836 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/002124002013.jpg)
Retrato de Debret, 1836
Manuel de Araújo Porto-Alegre
Óleo sobre tela
Texto
Sediado no Paço de São Cristóvão, na cidade do Rio de Janeiro, o Museu Nacional é a mais antiga instituição museológica e científica do Brasil. Até setembro de 2018, seu acervo, ligado às ciências naturais e antropológicas, era considerado um dos mais extensos da América Latina, com mais de 20 milhões de itens, boa parte dos quais se perderam em um incêndio.
A fundação do museu ocorre em 1818, durante a vigência do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, instituído em 1815. Ao lado de entidades como a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, a Biblioteca Real e o Jardim Botânico, representa uma das iniciativas do governo monárquico tomadas para impulsionar o desenvolvimento cultural e intelectual da nova metrópole.
Como “Museu Real”, surge com o objetivo declarado de promover o estudo e a divulgação das ciências naturais no Brasil, inspirado no funcionamento dos museus de história natural europeus. O decreto que o institucionaliza é promulgado em 6 de junho de 1818 por D. João VI, e o Campo de Santana, no Rio de Janeiro, é o local escolhido para sediá-lo inicialmente.
Embora o estudo dos recursos naturais seja, naquele momento, o principal objetivo do museu, objetos de valor histórico e artístico, grande parte deles doados pela família real, integram seu acervo inicial, que conta com uma coleção mineralógica comprada pela coroa portuguesa no século XVIII (a coleção Werner), quadros a óleo, peças de mármore, marfim, coral e prata, itens da Idade Média e da Antiguidade, exemplares da fauna brasileira resgatados da extinta Casa de História Natural, conhecida como "Casa dos Pássaros", inúmeros artefatos indígenas, vindos das diferentes províncias do Brasil, e uma grande quantidade de produtos coletados da natureza.
A heterogeneidade desse acervo prenuncia a importância que o museu desenvolverá ao longo dos anos no estudo da cultura de diferentes povos, sobretudo os povos indígenas do Brasil: os itens etnográficos que se acumulam paralelamente ao colecionamento prioritário de “itens da natureza” constituirão um conjunto amplo de artefatos que será útil aos pesquisadores da antropologia. Tal fato justificará a divisão, anos mais tarde, entre os acervos de ciências naturais e antropológicas.
Durante o governo de D. João VI, as atividades do museu se concentram na organização de suas instalações e de seu acervo, que cresce de maneira gradativa. O acesso do público às coleções só é liberado em 1821, mas seu caráter consultivo só se consolida no período imperial, depois da independência do Brasil. Nos reinados de D. Pedro I e sobretudo de D. Pedro II, o acervo é ampliado e recebe alguns de seus itens mais populares, como as múmias egípcias, os sarcófagos e outros itens doados pelos imperadores. Nesse período da monarquia, além de funcionar como uma instituição consultiva e de visitação, o museu passa a oferecer cursos públicos, desenvolve publicações (como o periódico Arquivos do Museu Nacional), ganha sua biblioteca e realiza intercâmbio de objetos e informações científicas com outras instituições.
O crescimento do museu no período imperial contribui para a associação que se costuma fazer entre ele e a monarquia, mas a construção desse imaginário também é explicada pelo fato de, em 1892, sua sede ter sido transferida para o Paço de São Cristóvão, antiga residência da família real, na Quinta da Boa Vista. Em virtude da transferência, o prédio do palácio sofre diversas reformas, mas as obras artísticas que integram sua estrutura são preservadas. Segundo a historiadora Regina Dantas, as pinturas renascentistas feitas no edifício pelo artista italiano Mario Bragaldi (1809-1873) durante a monarquia – e preservadas até 2018 – mantêm nas salas históricas do palácio um simbolismo mitológico que referencia as tradições da nobreza, o poder do imperador e seu conhecimento. Algumas dessas pinturas revelam o uso da técnica trompe l’oeil e, segundo administradores do museu, são as que mais chamam a atenção dos visitantes, devido à impressão ilusionista de alto-relevo que produzem.
Apesar do simbolismo que liga a memória do museu à monarquia, a transferência para o Paço de São Cristóvão o vincula à história política mais ampla do país, ao entrecruzar as memórias da colônia, do reino, do império e da república – note-se que, além de ter servido durante anos como residência da família dos monarcas, o palácio sediou, em 1889, a primeira Assembleia Constituinte da República.
Durante o século XX, o museu se consolida como instituição de ensino e pesquisa; é incorporado em 1946 à Universidade do Brasil (atual Universidade Federal do Rio de Janeiro) e passa por novas reformas e reestruturações. Em 2018, seu acervo consolidado reúne coleções de antropologia biológica, arqueologia, etnologia, geologia, paleontologia e zoologia, com itens de diversas regiões do mundo. Conta com nove cursos de pós-graduação, entre os quais está o pioneiro mestrado em línguas indígenas.
A produção do museu é afetada na noite de 2 de setembro de 2018, quando um incêndio destrói parte de seu prédio e acervo; pesquisas são interrompidas por dependerem do acesso ao edifício e às coleções. Além de gerar perda de conhecimento consolidado e potencial nas áreas de ciências naturais e antropológicas, a tragédia elimina registros históricos, culturais e artísticos do país e do mundo.
Mesmo depois da tragédia, o Museu Nacional continua sendo um dos pontos de acesso à memória do país, pois perpassou em 200 anos importantes momentos e processos históricos, registrados no que restou de seu acervo, de sua edificação e dos documentos que narram seu desenvolvimento.
Obras 1
Retrato de Debret
Exposições 1
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 6
- BANCO SAFRA. O Museu Nacional. São Paulo: Safra, 2007.
- DANTAS, Regina Maria Macedo Costa. A Casa do Imperador: do Paço de São Cristóvão ao Museu Nacional. 2007. 297 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Pós-graduação em Memória Social, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.
- JORNAL O GLOBO (Ed.). As ilusões da Sala do Trono de Pedro II, no Museu Nacional. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=rq7UDqjDLvw>. Acesso em: 11 jul. 2018.
- LACERDA, João Baptista de. Fastos do Museu Nacional do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1905.
- PAMPLONA, Nicola; MEIRELES, Maurício; FIORATII, Gustavo. Incêndio destrói Museu Nacional: com 200 anos, era o mais antigo do Brasil. Folha de S. Paulo. São Paulo, 03 set. 2018. Cotidiano, p. 1-2.
- PIRES, Débora de Oliveira (Org.). 200 anos do Museu Nacional. Rio de Janeiro: Associação Amigos do Museu Nacional, 2017.
Como citar
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MUSEU Nacional.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/instituicao222790/museu-nacional. Acesso em: 02 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7