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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Dias & Riedweg

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 26.09.2018
1993 Suíça
O trabalho da dupla inicia-se em 1993, quando os artistas Maurício Dias (1964) e Walter Riedweg (1955) conhecem-se na Suíça. Antes do encontro, o brasileiro Maurício trabalha com pintura e gravura; o suíço Walter, com teatro e música. Ambos compartilham dúvidas e descontentamentos em relação ao sistema da arte e apresentam o impulso por experime...

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Histórico

O trabalho da dupla inicia-se em 1993, quando os artistas Maurício Dias (1964) e Walter Riedweg (1955) conhecem-se na Suíça. Antes do encontro, o brasileiro Maurício trabalha com pintura e gravura; o suíço Walter, com teatro e música. Ambos compartilham dúvidas e descontentamentos em relação ao sistema da arte e apresentam o impulso por experimentações. O trabalho da dupla, construído majoritariamente em vídeo, procura investigar a alteridade: “Falamos das relações entre as pessoas. Isso pode ser em um nível psicológico, psicanalítico – entre dois indivíduos, por exemplo –, ou em um âmbito sociopolítico: como os grupos sociais se relacionam” .1

A experiência da imigração faz parte da vivência dos artistas, sobretudo de Maurício, que vive na Suíça por 12 anos. O tema aparece no primeiro trabalho da dupla, Serviços Internos (Innendienst), de 1995, realizado no Shedhalle, em Zurique, Suíça. Nessa obra, 280 crianças estrangeiras recorrem a um sentido comum, o olfato, para associarem experiências de seus locais de origem e do país em que se encontram. O corpo e os sentidos humanos são recorrentes nos trabalhos da dupla: tato, em Devotionalia (1994-2003); corpo, tato e olfato, em Question Marks (1996); olfato, audição e visão, em Inside & Outside the Tube (1998); paladar, em Sugar Seekers (2004).

Para Dias&Riedweg, a condição real ou simbólica do imigrante relaciona-se ao tema da alteridade e tem implicações sociopolíticas: por um lado, o imigrante, sub-integrado, deseja sentir-se membro de uma coletividade na qual vive e da qual participa; por outro, o indivíduo integrado, rejeita, de modo implícito ou explícito, os processos de inclusão e de convivência. Esse viés político confere às obras da dupla o nome de “arte pública”.

Em Os Raimundos, os Severinos, os Franciscos (1998), Dias&Riedweg trabalham com porteiros de São Paulo, comumente migrantes de regiões mais pobres do Brasil, que trabalham em prédios de classes abastadas na cidade, mas passam os dias confinados a cubículos. Em Mera Vista Point (2000), os artistas registram a produção econômica informal de camelôs, em sua maioria migrantes de regiões menos ricas do país. Em Voracidade Máxima (2003), os protagonistas são os chaperos, como são conhecidos os garotos de programa em Barcelona, invariavelmente imigrantes de países pobres, que se relacionam com membros integrados da população. A temática de refugiados políticos aparece em Dentro e Fora do Tubo (1998) e em Mama & Ritos Viciosos (2000), cujo tema é o conflito entre os dois lados da fronteira entre Estados Unidos e México. Em Tutti Veneziani (1999), criado para a Bienal de Veneza, os artistas projetam, na passagem principal da mostra, 36 moradores de diferentes segmentos sociais da cidade. Nas naves laterais, vídeos mostram esses personagens trocando de roupa e, com voz em off, contando sobre a experiência imaginada da própria morte. Nessa obra, as relações histórico-sociais são invertidas: o espectador-turista-consumidor testemunha os moradores invisíveis de Veneza tornarem-se protagonistas do principal evento de arte da cidade.

Em todos esses trabalhos, os artistas suscitam a alteridade, sem intenção de  vitimizar o outro, mas para romper fronteiras fictícias e dar respostas às questões e aos impulsos artísticos. No encontro com esse outro desconhecido, a dupla opera com a chave da macropolítica: mapeia interesses, consensos e dissensos de um grupo, recurso comumente utilizado em pesquisas político-ideológicas. A diferença do trabalho da dupla reside na conjugação dessa chave com processos micropolíticos de subjetivação, que desestabilizam a comunicação de massa e as visões homogeneizantes de mundo.

Na divulgação do trabalho, a dupla leva a arte para além dos espaços tradicionais de exposição e do público especializado. Dias & Riedweg criam formas de comunicar suas obras a outros públicos, sem recorrer à proposta de “arte fora do museu” – segundo os artistas, o que está fora pode ser igualmente impenetrável.

Desenvolvendo uma poética que articula macro e micropolítica, Dias & Riedweg inserem-se na linhagem da arte contemporânea brasileira de Lygia Clark (1920-1988) e Hélio Oiticica (1937-1980). A primeira produz obras baseadas no encontro entre o artista e os participantes; o segundo, na relação ousada que estabelece com o público.

Do ponto de vista formal, a obra de Dias&Riedweg coloca em perspectiva também a diferença, por vezes artificial, entre documentação e ficção: as imagens de pessoas comuns são captadas com proposições fictícias. Assim, são tensionadas também as divisões entre documentário e videoarte.

Exemplo desse prolongamento entre documentário e ficção é a instalação Funk Staden, na qual Dias&Riedweg montam o enredo de História Verdadeira e Descrição de uma Terra de Selvagens.., do aventureiro alemão Hans Staden (ca. 1525-ca.1579). O livro narra a captura do escritor por índios tupinambás, durante sua viagem ao Brasil. A encenação recriada pela dupla traz, como personagens, os funkeiros das favelas do Rio de Janeiro. Com essa obra, Dias&Riedweg reinterpretam o exotismo dos arquétipos da história brasileira desde o século XVI. Trabalham, também, as distâncias temporais e geográficas: criada para ser apresentada na Documenta de Kassel em 2007, a obra contrapõem a Kassel do século XVI (subúrbio de origem de Staden) ao Brasil do século XXI.

Desde 2006, Dias&Riedweg realizam diversas exposições individuais e participam de importantes coletivas, como a Bienal de Veneza, em 1999, a Bienal Internacional de São Paulo, em 1999 e 2002, e a Emoção Art.Ficial 2.0, em 2004.

Notas

 ¹ LUGÃO, Juliana. Kassel e funk carioca: Dias e Riedweg na "documenta". Deutsche Welle, online, 10 jun. 2007. Disponível em: < http://www.dw.com/pt-br/kassel-e-funk-carioca-dias-e-riedweg-na-documenta/a-2580616 >. Acesso em: dez. 2012.

Exposições 26

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Mídias (1)

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Dias e Riedweg - Enciclopédia Itaú Cultural
“Cada um percebe o mundo de uma forma, e isso torna interessante ouvir cada um”. Partindo dessa constatação, a dupla suíço-brasileira Dias e Riedweg produz vídeos que desafiam os limites entre realidade e ficção, partindo sempre de entrevistas com pessoas comuns para discutir temas como imigração e alteridade. “Uma das coisas que caracterizam o nosso trabalho é possibilitar que o outro participe da elaboração, não apenas atuando, mas também no resultado final”, afirma Maurício Dias. Walter Riedweg observa que o trabalho da dupla não se insere no contexto usual do cenário artístico. “Nosso trabalho não é voltado para criar um objeto fetiche, e alguns elementos do mundo das artes ainda estão muito fixados no objeto”, afirma. Para Dias, uma função da arte é “contradizer o consenso”, algo que a dupla busca em sua produção. “Essa é uma função política da arte. Ela é mais abstrata, menos funcional e imediata”, conclui.

Produção: Documenta Vídeo Brasil
Captação, edição e legendagem: Sacisamba
Intérprete: Carolina Fomin (terceirizada)
Locução: Júlio de Paula (terceirizado)

Fontes de pesquisa 5

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