Grupo Pão e Circo
Texto
Data/Local
1971 - São Paulo SP - Fundação
1975 - Rio de Janeiro RJ - Extinção
Histórico
O Pão e Circo é um dos grupos representativos do teatro nos anos 1970, em que o ator é o grande motivador e empreendedor da cena, que é construída coletivamente.
O grupo surge em 1971, no porão do Teatro Oficina, em São Paulo. Formado por jovens de 12 a 19 anos, seu primeiro espetáculo é um laboratório sobre cinquenta contos de fadas e três diferentes textos teatrais (Leonce e Lena, de Georg Büchner; A Tempestade, de William Shakespeare; e O Homem e o Cavalo, de Oswald de Andrade), que dá origem à ópera bufa Cypriano e Chan-ta-lan, espetáculo marcado pelo despojamento, com o próprio elenco criando e confeccionando os elementos de cena.
Em 1972, o grupo apresenta O Casamento do Pequeno Burguês, transformando a obra de Bertolt Brecht e Kurt Weill em um pastelão musical, já sob a direção de Luís Antônio Martinez Corrêa. A peça, exibida no porão do Teatro Oficina às segundas-feiras, acaba estendendo a área de encenação à parte externa e ao bar do teatro.
No mesmo ano, o grupo participa de Gracias, Señor, do Oficina, com direção de José Celso Martinez Corrêa, irmão de Luís Antônio. Segundo a pesquisadora Sílvia Fernandes: "A ligação do Pão & Circo com o Teatro Oficina começava pela afinidade evidente entre os irmãos-diretores e presseguia na mistura de elencos, pois Luís Antônio e Analu Prestes também participavam de Gracias, Señor e As Três Irmãs. Além disso, apontava a ascendência direta das companhias das décadas anteriores, Arena e Oficina, sobre os grupos teatrais do 70. Apesar de ainda se apoiarem no estatuto jurídico da empresa, as companhias assumiam um ideário artístico semelhante ao dos grupos e, como eles, perseguiam a unidade entre as diferentes encenações. A diferença entre grupo e companhia era que, no caso desta, a associação ainda preservava papéis definidos no processo de criação. O Oficina conservara, pelo menos até Gracias, Señor, o autor dramático, o diretor, o cenógrafo, o iluminador e os atores. Em grupos como o Pão & Circo, ao contrário, os criadores trabalhavam sem funções predeterminadas. Embora sendo discutidas, trabalhadas, modificadas e atuadas coletivamente. O objetivo do grupo, enquanto organização cooperativada, era permitir que todos os membros ganhassem exatamente a mesma porcentagem, independente das funções desempenhadas. O fim a atingir através da produção socializada era a liberdade de criação".1
Em 1973, o Pão e Circo faz com seu irreverente Brecht uma turnê na Europa, onde se apresenta no Festival de Teatro de Nancy, França, na Alemanha, na Suíça e na Itália. Na volta, o grupo realiza leilões de objetos de arte e uma exposição de desenhos de Analu Prestes para cobrir os gastos de viagem.
Em 1974, apresentam o consagrado O Casamento do Pequeno Burguês no Rio de Janeiro. No início de 1975, sediado temporariamente na cidade, agora com Buza Ferraz e Ítala Nandi em seus quadros, o grupo encena com Titus Andronicus, drama histórico de William Shakespeare, que, permanece três meses em cartaz, apesar das reações negativas da crítica e do público - alguns espectadores passam mal durante a apresentação, devido à violência do espetáculo. O produtor Guilherme Araújo impede a dissolução do grupo, que acumulava dívidas, patrocinando o espetáculo seguinte.
Para realizar o que viria a ser sua última obra coletiva, o grupo aluga uma garagem que serve de espaço de ensaio e moradia de três dos integrantes. Em Simbad, o Marujo, os sete atores se revezam em 64 personagens e misturam diversas linguagens - teatro de revista, comédia musical, desenho animado, estórias em quadrinhos, comédia pastelão, programa humorístico de TV, melodrama, contos de fadas, pornochanchada, protesto e teatro do absurdo - para debochar de tudo, dos musicais norte-americanos ao sentimentalismo das rádio-novelas brasileiras, da sociedade de consumo às reuniões políticas de esquerda. Os críticos, desconfortáveis diante de uma nova linguagem que negava os princípios teatrais da geração anterior, fazem restrições especialmente à fragmentação e à carência de estrutura dramática do espetáculo. Segundo o crítico Sábato Magaldi: "No Brasil, até hoje, a criação coletiva (aqui chamada adaptação) tem sido uma desgraça. Por falta de um escritor (leia-se dramaturgo), o resultado artístico não convence. [...] Não há uma fusão dramaticamente feliz entre as numerosas vicissitudes de Simbad e o momento de reflexão. A trama se dissolve no caos. Salvam-se os atores, que alguns deles são bons, embora fiquem lado a lado a formação profissional e o amadorismo".2
O Grupo Pão e Circo reunia, na opinião do crítico Alberto Guzik, "alguns dos mais brilhantes talentos jovens no teatro brasileiro",3 como comprova a carreira de Luís Antônio Martinez Corrêa.
Notas
1. FERNANDES, Silvia. Grupos teatrais: anos 70. Campinas: Unicamp, 2000.
2. Magaldi, SÁBATO: Talento e Beleza Plástica, Perdidos num Beco Sem Saída. São Paulo, Jornal da Tarde, 10 dez. 1975.
3. GUZIK, Alberto. Pão e circo, mas em excesso. Última Hora. São Paulo, 8 dez. 1975.
Espetáculos 7
Fontes de pesquisa 6
- FERNANDES, Sílvia. Grupos teatrais: aqnos 70. Campinas: Unicamp, 2000.
- GRUPO Pão e Circo. Rio de Janeiro: CEDOC / Funarte. Dossiê Grupos Artes Cênicas.
- GUZIK, Alberto. Última Hora, São Paulo, 8 dez. 1975.
- O CASAMENTO do Pequeno Burguês. São Paulo: Teatro Oficina Uzyna Uzona, [1972]. 1 programa do espetáculo realizado no Teatro Oficina.
- REBELDES do pão e circo explicam o naufrágio de Simbad, o marujo. In: Última Hora. São Paulo, 12 jan. 1976.
- SINBAD, o Marujo. Rio de Janeiro: CEDOC / Funarte. Dossiê Espetáculo Teatro Adulto.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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GRUPO Pão e Circo.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/grupo399365/grupo-pao-e-circo. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7