Manhas e Manias
Texto
Data/Local
1980/1985 - Rio de Janeiro RJ
Histórico
Trabalhando via de regra com criação coletiva, e empreendendo também uma direção coletiva, o Manhas e Manias procura falar simultaneamente ao adulto e à criança, em espetáculos de variedades que se baseiam no humor, no circo e na música.
O grupo estreia com Diante do Infinito, 1980, e em seguida apresenta Manhas e Manias, 1981. Ambas as montagens levam para a cena um jogo em que o teatro se torna objeto de si mesmo. Com músicos ao vivo, os espetáculos se constituem de números de music-hall, que combinam atrações circenses, danças, canções e esquetes satíricos cujo alvo principal são os chavões do cinema americano. Com atores provenientes de outros grupos, o Manhas e Manias soma influências: o encanto juvenil e a malícia de Maria Clara Machado e do grupo O Tablado, a turbulência e o violento nonsense do Teatro do Ornitorrinco, e os cortes que conferem agilidade à linguagem do Asdrúbal Trouxe o Trombone. Segundo o crítico Yan Michalski, Diante do Infinito é "apenas uma brincadeira", "amena, animada e agradável" que mostra "um grupo de jovens dotado de grande energia lúdica, e que deve ter trabalhado muito para aprender as técnicas que escolheu para dar vazão a essa energia".1
Ainda em 1981, o Manhas e Manias cria Brincando com Fogo, desta vez sob a direção do ator José Lavigne. No ano seguinte, o grupo se transfere para São Paulo, onde elabora e estréia três espetáculos. O primeiro conta com a colaboração do poeta Chacal no roteiro do Show Manhas e Manias, e novamente com a direção de José Lavigne. O segundo, Zíper Aberto, inteiramente coletivo, é feito a partir de uma oficina realizada no Sesc Pompeia. No terceiro espetáculo da temporada paulista, o grupo faz sua primeira - e única experiência - com um texto teatral. A montagem de O Dragão, de Eugène Schwartz, também é resultado de uma oficina.
De volta ao Rio de Janeiro, o grupo repete a experiência de incorporar atores menos experientes, selecionados a partir de oficinas, e estreia Teatro Enredo, 1983, no Circo Voador, com texto e direção coletivos. O espetáculo reúne diversos quadros, fazendo uma antologia de suas criações. Por exemplo, dois atores fazem um jogo de espelho em que a imagem, depois de reproduzir doce, poética e fielmente o corpo e seu estado, começa a trair aquele que se vê e termina por lhe dar um pontapé; um pastelão é feito no palco, com ovos e massa jogados de um lado a outro, e termina com um cozinheiro engolindo fogo enquanto as roupas de outro se incendeiam. Com os atores Cláudio Baltar, Andréa Beltrão, Márcio Trigo, Mário Dias Costa e José Lavigne, o conjunto começa a incluir, ao lado do humor das ações, o uso cômico da palavra: sátira a cantores caipiras e paródia de Stevie Wonder em que as letras se tornam listas de comida. No mesmo ano, o grupo retoma as parcerias com Chacal, sob a direção de José Lavigne, sem abandonar a criação coletiva, em Recordações do Futuro. A atriz Débora Bloch se integra ao grupo. Em 1984, o Manhas e Manias estreia Vida de Cachorro, musical infantil de Flávio de Souza, com direção de José Lavigne. O último espetáculo é o show de variedades Manhas & Manias e Poesias, 1985.
Entre seus fundadores e principais integrantes estão: José Lavigne, Dora Pellegrino, Chico Diaz, Vicente Barcellos, Mário Dias Costa, Márcio Trigo, Carina Cooper, Débora Bloch, Andrea Beltrão e Pedro Cardoso.
A crítica Flora Süssekind, ao comentar um dos espetáculos do grupo, define a sua linguagem: "Tudo rápido, sem margens para erro, como no circo. Susto para o espectador que pensava assistir apenas a um número cômico e vê a sua progressiva transformação em performance cheia de riscos. Corda bamba para um grupo que se equilibra numa linha difícil onde se cruzam a criança, o adolescente e o adulto; a linguagem visual, a palavra e a música; o circo, o show e o teatro: o sucesso, a repetição e o risco".2
Notas
1. MICHALSKI, Yan. Manhas e manias adquiridas em outros grupos. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 5 mai. 1980.
2. SÜSSEKIND, Flora. Os irmãos manhas. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 17 jun. 1983.
Espetáculos 19
Fontes de pesquisa 5
- ANUÁRIO Brasileiro de Artes Cênicas 1981. Rio de Janeiro: MinC / Fundacen, 1988.
- MANHAS e Manias. Rio de Janeiro: Funarte / Cedoc. Dossiê Grupos Teatro Adulto.
- MICHALSKI, Yan. Manhas e manias adquiridas em outros grupos. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 5 mai. 1980.
- RECORDAÇÕES do Futuro. Rio de Janeiro: Funarte / Cedoc. Dossiê Espetáculos Teatro Adulto.
- SÜSSEKIND, Flora. Os irmãos manhas. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 17 jun. 1983.
Como citar
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MANHAS e Manias.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/grupo399362/manhas-e-manias. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7