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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

BR3

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 24.07.2020
22.03.2006 Brasil / São Paulo / São Paulo
A montagem de BR3, dirigida por Antônio Araújo (1966) e encampada pelo Teatro da Vertigem, marca a passagem da tematização do sagrado da Trilogia Bíblica, formada por Paraíso Perdido, 1992; O Livro de Jó, 1995; e Apocalipse 1,11, 2000. Dedica-se a uma abordagem mais aprofundada da identidade brasileira. Com dramaturgia de Bernardo Carvalho, é a ...

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Histórico

A montagem de BR3, dirigida por Antônio Araújo (1966) e encampada pelo Teatro da Vertigem, marca a passagem da tematização do sagrado da Trilogia Bíblica, formada por Paraíso Perdido, 1992; O Livro de Jó, 1995; e Apocalipse 1,11, 2000. Dedica-se a uma abordagem mais aprofundada da identidade brasileira. Com dramaturgia de Bernardo Carvalho, é a quarta e, do ponto de vista da logística, a mais ousada encenação da companhia, que atua sobre as águas do rio Tietê, em São Paulo.

Marca e fundamento do trabalho da companhia, o processo colaborativo entre os seus componentes e o dramaturgo se dá, no caso de BR3, ao longo de um apurado estudo sobre o Brasil e uma viagem para pesquisa de campo. O Teatro da Vertigem visita as cidades de Brasiléia, no Acre, Brasília e o bairro Brasilândia, na periferia de São Paulo, a fim de buscar - nesses lugares cujos nomes contêm a palavra 'Brasil' - o material do novo espetáculo. A relação centro-periferia e os contrastes sociais do país evidenciam-se na montagem.

Navegando sobre a sujeira, a poluição e o mau cheiro do rio Tietê, o público acompanha a história de três gerações de uma família entre o fim dos anos 1950 e o dos 1990. Depois que o marido morre na construção de Brasília, Jovelina (Marília de Santis) vai para São Paulo tentar a vida e se envolve com o tráfico de drogas, tornando-se chefe do movimento e assumindo o codinome Vanda. Ela mede forças com o policial Dono dos Cães (Sérgio Siviero), que quer controlar a área. Os dois filhos, Helianay (Daniela Carmona) e Jonas (Roberto Audio), sofrem com a violência do meio e a morte de parentes. Jonas acredita que todos os seus morreram e foge para o Acre, onde seus filhos vão procurá-lo tempos depois.

Mariangela Alves de Lima (1947) completa a análise sobre o enredo: "O percurso pelo traçado ficcional - estrada, via de acesso, cruzamento e fim último de todos os dejetos de uma civilização infeliz - transcende tanto a geografia do rio paulistano quanto a história imediata da cultura que o margeia. A narrativa de BR-3, parente em primeiro grau da tragédia grega na estrutura e no desígnio universalizante, tem exatamente a formalização altissonante que lhe permite manter em equivalência o estímulo estético e o experimento perturbador da viagem pelo rio. Na condução da história há uma família cujo destino é assinalado, ou seja, inelutável. Brasília é o ponto de origem do trajeto, a periferia paulistana o lugar de exílio e sobrevivência na economia do tráfico de drogas e o extremo norte do País o ponto final onde a terceira geração se extingue. Por onde quer que trafeguem, esses personagens encontram, em cada etapa do percurso, oráculos significando, entre outras coisas, a tentação do alívio místico. Igrejas evangélicas na periferia paulistana, seitas esotéricas no Planalto Central do País, cultos indígenas revividos e reformados por caboclos do Norte, aparecem intercalados entre as peripécias decisivas do espetáculo".1

Dentro da embarcação de três pavimentos, em uma voadeira que navega a seu lado ou nas margens do rio Tietê, as cenas se passam alternando passado e presente. A crítica louva a proeza do grupo que supera os deslocamentos entre margens e barcos e consegue manter audíveis os diálogos e discursos dos intérpretes. O espaço da encenação, formado por complexos viários e viadutos, começa na Ponte do Piqueri e tem três pontos-chave:  o anel de ligação entre as rodovias Anhangüera e Bandeirantes é Brasília; a Ponte dos Remédios, Brasilândia; e o Cebolão, o Acre. Segundo a crítica Beth Néspoli: "O espectador acompanha a trajetória histórica de um país que investiu no 'progresso', mas não planejou o que fazer com os resíduos desse projeto. Fossem só resíduos químicos e orgânicos, bastaria uma viagem pelo rio Tietê para revelar esse erro histórico trágico. Mas o mérito de BR3 é revelar que tal degradação vai muito além. (...) O destino dessa gente, inexorável rumo à degradação, é representativo de uma tragédia nacional, intrínseca a um modelo de desenvolvimento".2

A montagem evita o tom espetacular que um trabalho desse porte facilmente sugere e demanda. O grupo cuida para operar com comedimento. Nesse sentido, o uso de garrafas de plástico e latas no figurino, por exemplo, tem função dupla: fugir ao deslumbramento e chamar a atenção para a relação entre o enredo e o espaço da encenação, experiência sensorial já bastante rica em signos. O espetáculo conquista o Prêmio Shell nas categorias de melhor diretor, melhor iluminação, para Guilherme Bonfanti (1956), e categoria especial, para o grupo, pelo projeto do BR3.

A crítica Silvana Garcia (1951) reflete sobre a dimensão alegórica do meio na obra do grupo: "Ao dispor o seu trabalho na escavação, na perfuração, no sangramento dos espaços problemáticos que fazem parte e são o Brasil, re-significando esses espaços da perspectiva do trabalho artístico, o Vertigem re-estabelece a relação do teatro com a polis. (...) O re-situamento do espectador, agora, não se faz mais, como em Brecht, por meio de uma inserção na história, uma história que exige concepção e discernimento ideológicos; essa história ganha fisicalidade à vista e no contato físico com o espectador. O fedor que exala do rio Tietê assenta-o na mais inescapável realidade".3

Notas

1. LIMA, Mariangela Alves de. Teatro da Vertigem empreende viagem transformadora pelo Rio Tietê. O Estado de S. Paulo, São Paulo, Caderno 2, 15 abr. 2006.

2. NÉSPOLI, Beth. O Brasil em poética seca e dolorida. O Estado de S. Paulo, São Paulo, Caderno 2, 28 abr. 2006. 

3. GARCIA, Silvana. Teatro político: verso e reverso. Folhetim, Rio de Janeiro, n. 22, jul-dez 2005. p. 69-76.

 

Ficha Técnica

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Dramaturgia
Bernardo Carvalho

Supervisão
Maria Lucia de S. B. Pupo / BR3

Direção
Antônio Araujo

Direção (assistente)
Amilcar Farina / BR3
André Queiroz / BR3
Carol Pinzan / BR3
Carol Pinzan / BR3
Eliana Monteiro
Marília Akamine Risi
Suzana Aragão / BR3
Suzana Aragão / BR3

Cenografia
Márcio Medina
Paulo Ito / BR3

Cenotécnica
Vinicius Simões

Adereço
José Francisco de Paula
Nelson Kao

Criação de máscaras
Helô Cardoso

Confecção de máscaras
Helô Cardoso

Figurino
Marina Reis

Costureira
Maria Celia de Paula

Iluminação
Guilherme Bonfanti

Operação de luz
Edu Oliveira
Fernanda Almeida

Direção musical
Marcus Siqueira
Thiago Cury

Trilha sonora
Marcus Siqueira
Thiago Cury

Sonoplastia
Amilcar Farina
Kako Guirado

Música
Agnaldo Nicoleti / BR3
Agnaldo Nicoleti / BR3
Alessandra Grani / BR3
Aloísio Cézar
Amilcar Farina / BR3
Amilcar Farina / BR3
Gabriel Levy / BR3
Marcus Siqueira / BR3
Marília de Santis / BR3
Ricardo Campello / BR3
Thiago Cury
Thiago Cury

Operação de som
Daniel Lima
Jeyson Rocha

Preparação corporal
Cuca Bolaffi / BR3
Daniela Biancardi / BR3
Luciana Viacava

Preparação de atores
Inês Aranha

Preparação vocal
Laércio Resende / BR3
Mônica Montenegro

Elenco
Bruna Lessa / BR3
Bruno Batista / BR3
Cácia Goulart / BR3
Daniela Carmona / BR3
Denise de Almeida / BR3
Ivan Kraut / BR3
Luciana Schwinden / BR3
Marília de Santis / BR3
Roberto Audio / BR3
Rodolfo Henrique / BR3
Sérgio Pardal / BR3
Sérgio Siviero / BR3
Telma Vieira / BR3
Vanderlei Bernardino / Voz em off - Pastor

Direção de produção
Walter Gentil

Produção executiva
Carolina Di Deus
Daniela Renzo
Erlon Souza
Paula Micchi

Fotografia
Claudia Calabi / BR3
Edouard Fraipont / BR3
Marina Reis
Nelson Kao
Roberto Audio
Thiago Bortolozzo

Contrarregra
Helio Silva
Manoel da Silva Souza
Roberta Moreira
Ronaldo Ferreira

Técnico de palco
Leco

Coordenação
Carla Estefam Araújo Lima
Ivan Delmanto / BR3
Silvia Fernandes / BR3

Fontes de pesquisa 6

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  • GARCIA, Silvana. Teatro político: verso e reverso. Folhetim, Rio de Janeiro, n. 22, jul-dez 2005. p. 69-76.
  • LIMA, Mariangela Alves de. Teatro da Vertigem empreende viagem transformadora pelo Rio Tietê. O Estado de S. Paulo, São Paulo, Caderno 2, 15 abr. 2006.
  • NÉSPOLI, Beth. O Brasil em poética seca e dolorida. O Estado de S. Paulo, São Paulo, Caderno 2, 28 abr. 2006.
  • PONCIANO, Helio. O Brasil profano: a montagem. Bravo!, São Paulo, n. 97, out. 2005. p. 85.
  • SANTOS, Valmir. Rio é o "primeiro-ator" em BR3. Folha de S.Paulo, São Paulo, Ilustrada, 18 dez. 2005. p. 4.
  • ÁUDIO, Roberto e FERNANDES, Sílvia (orgs.). BR-3: Teatro da Vertigem. São Paulo: Perspectiva, 2006.

Como citar

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