Um Edificio Chamado 200
Texto
Primeiro texto de Paulo Pontes que não resulta de parceria com outros colaboradores, a comédia ambientada em Copacabana satiriza as ambições da baixa classe média carioca. Protagonizado por Milton Moraes, no papel do apostador de loterias, obtém mais sucesso de público que de crítica.
Inspirado nas chanchadas, o autor chama a atenção do público para uma novidade dos anos 1970: a loteria esportiva. Alfredo Gamela, que veio da zona norte da cidade do Rio de Janeiro para Copacabana, sonhando com dias melhores, só pensa em ficar rico por meio das apostas. Enquanto ele passa os dias sem trabalhar obcecado pelo sonho de uma fortuna fácil, sua mulher luta pelo pão de cada dia. A loteria serve como pretexto para o autor analisar satiricamente a mentalidade do brasileiro comum, sua ambição, sua descrença na possibilidade de conseguir alguma coisa por si mesmo e sua fé exacerbada na sorte que mudará o seu destino.
Os críticos elogiam, no texto, a observação atenta dos costumes, o senso de humor, a dose de fantasia e o controle da tensão dramática. Mas são também unânimes em considerar que a direção não se empenha em remediar o esquematismo do texto e o espetáculo não se realiza plenamente.
Yan Michalski, depois de enaltecer o "diálogo deliciosamente colorido e autêntico", escreve, no Jornal do Brasil: "Assim como está, 'Edifício' dá a impressão de ser pouco mais do que o primeiro ato de uma obra cujo segundo ato simplesmente não foi escrito. O autor parece ter-se deixado contaminar pela congênita preguiça do seu personagem principal, e em vez de fazer uma verdadeira comédia [...] contentou-se em criar apenas uma pequenina e óbvia anedota cênica [...]. A preguiça de Alfredo Gamela e Paulo Pontes parece ter também contaminado o diretor José Renato, que construiu o espetáculo mais simples e rotineiro ao qual o texto poderia conduzir [...]. A comunicação muito direta do espetáculo deve-se sobretudo à forte presença de Milton Moraes, que se identificou gostosamente com o personagem, e valeu-se do seu conhecido histrionismo cômico para compor um tipo divertido, no qual ele se livra finalmente das sombras de Pedro Mico e Boca de Ouro que vinham marcando há muito a sua carreira".1
Depois de ter a estreia adiada por um processo judicial, o título original, Barata Ribeiro 200, é vetado a pedido dos moradores que temem que a má fama do prédio se espalhe pela cidade. A disputa, que acaba nos jornais, rende divulgação ao espetáculo e ao endereço, e não impede que a expressão "um edifício chamado duzentos" vire sinônimo de cortiço.
Notas
1. MICHALSKI, Yan. Sonho dos Treze Pontos. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 25 ago. 1971.
2. idem.
3. ARARIPE, Oscar. Um Edifício Difícil. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 31 ago. 1971.
4. MICHALSKI, Yan. Sonho dos Treze Pontos. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 25 ago. 1971.
Ficha Técnica
Paulo Pontes
Direção
José Renato
Direção (assistente)
Raimundo B. de Mello
Cenografia
Fernando Pamplona
Elenco
Angela Valério / Carla
Eva Christian / Ana
Milton Moraes / Alfredo Gamela
Stênio Garcia / Alfredo Gamela - substituição 1972
Fontes de pesquisa 3
- ARARIPE, Oscar. Um Edifício Difícil. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 31 ago. 1971.
- MICHALSKI, Yan. Sonho dos Treze Pontos. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 25 ago. 1971.
- UM EDIFÍCIO Chamado 200. (Dossiê Espetáculo Artes Cênicas) Rio de Janeiro: CEDOC/Funarte.
Como citar
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UM Edificio Chamado 200.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/evento403873/um-edificio-chamado-200. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7