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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Uma Rua Chamada Pecado

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 14.08.2019
23.06.1948 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Registro fotográfico autoria desconhecida

Uma Rua Chamada Pecado, 1948
Acervo Cedoc/FUNARTE

Primeira montagem brasileira de Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee Williams, o espetáculo reúne ao autor, considerado um dos expoentes da moderna dramaturgia americana, a direção de Ziembinski, a produção de Os Artistas Unidos e a atriz Henriette Morineau no papel principal. 

Texto

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Primeira montagem brasileira de Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee Williams, o espetáculo reúne ao autor, considerado um dos expoentes da moderna dramaturgia americana, a direção de Ziembinski, a produção de Os Artistas Unidos e a atriz Henriette Morineau no papel principal. 

A mudança do título da peça (A Streetcar Named Desire) para Uma Rua Chamada Pecado, pelo tradutor Carlos Lage, é condenada pela crítica da época, que aponta sua gratuidade. A montagem brasileira estréia no Rio de Janeiro no ano seguinte à primeira montagem americana. Tennessee Williams já era conhecido do público brasileiro pela representação de sua primeira peça, À Margem da Vida, pelo Grupo de Teatro Experimental - GTE, dirigido por Alfredo Mesquita, em 1947. 

No texto, a personagem Blanche Du Bois aparece como símbolo de uma aristocracia decadente e empobrecida que, após perder a mansão familiar e ser expulsa da escola onde lecionava, por seduzir menores, vai pedir abrigo à irmã Stella, casada com Stanley Kowalsky, homem pobre, rude e descendente de imigrantes poloneses. Blanche não consegue compreender como a irmã, educada de maneira refinada e sensível, tenha se apaixonado por um polonês grosseiro e ignorante, e acima de tudo não consegue suportar o ambiente em que os Kowalsky moram - um cortiço em uma rua marginal de New Orleans. O choque entre esses dois mundos é o tema central da peça e, por sentir-se incompreendida, Blanche vai mergulhando progressivamente num processo de desagregação mental até enlouquecer. Tennessee Williams constrói as personagens com mestria e tece sua trama empregando um forte realismo pontuado por momentos de lirismo.

Na apreciação do espetáculo pela crítica, o caráter universal do texto é enfatizado, apesar de retratar moradores de um bairro pobre em New Orleans, no sul dos Estados Unidos. A direção de Ziembinski é considerada "valiosa e acertada".1 Para Roberto Brandão, do Diário Carioca, Ziembinski faz bem em insurgir-se contra as indicações do autor referentes à ambiência fantástica do terceiro ato - os elementos do cenário deveriam tornar-se transparentes - como forma de destacar a própria progressão da loucura da protagonista, recurso que, na opinião do crítico, é um tanto simplório e quebra com o estilo realista impecável do autor. Contendo sua tendência expressionista, o diretor mantém a atmosfera realista da peça e chega, pela fidelidade a esta linguagem, a eliminar algumas possibilidades poéticas do texto - mais marcadamente na composição dos ambientes exteriores. Louva-se na direção o trabalho de "articulação e harmonização dos diversos intérpretes do elenco, e da linha interpretativa dos papéis transmitida a cada um deles".2 

Henriette Morineau, no papel da protagonista, supera a falta de um tipo físico mais propício ao papel e as dificuldades de articular em português as frases em ritmo mais veloz, que o nervosismo da personagem exige. O desempenho de Graça Mello é considerado um dos melhores de sua carreira, compondo o papel com riqueza de detalhes e autenticidade, embora com certo exagero nas reações temperamentais e impetuosas. Flora May no papel de Stella atua com naturalidade e emoção. Os demais atores acompanham o trio central, com destaque para Ambrósio Fregolente, Margarida Rey e Jacy Campos, que sabem extrair o máximo de seus pequenos papéis.

O cenário, de autoria de Ziembinski, encontra uma solução curiosa, e certamente mais econômica, para a dualidade de cenas exteriores e interiores: a parede externa da casa é removível (na versão americana ela é transparente) e funciona com precisão. A iluminação, também feita pelo diretor, é elogiada, em especial o recorte de luz que forma janelas nas cenas em que a parede é removida.

A escolha do texto pela companhia Os Artistas Unidos é corajosa para os padrões do teatro brasileiro da época. O espetáculo, considerado um dos melhores do ano de 1948, com excelentes interpretações e um texto de vanguarda, é, na opinião da Coluna Novos Críticos, do Correio da Manhã, "outra vitória do teatro brasileiro nesta luta por engrandecer".3 

Notas

1. BRITTO, Sergio. A interpretação de 'Uma Rua Chamada Pecado', no Ginástico. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 29 jul. 1948. Coluna Novos Críticos.
2. BRANDÃO, Roberto. Ainda a rua e o bonde e etc. Diário Carioca, Rio de Janeiro, 11 jul. 1948.
3. BRITTO, Sergio. A interpretação de 'Uma Rua Chamada Pecado', no Ginástico. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 29 jul. 1948. Coluna Novos Críticos.

Ficha Técnica

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Autoria
Tennessee Williams

Tradução
José Carlos Lage

Direção
Ziembinski

Direção (assistente)
Jacy Campos

Cenografia
Ziembinski

Trilha sonora
Claude Austin

Elenco
Arthur Costa / O Médico
Dary Reis / O Cobrador
Flora May / Stella Kowalsky
Fregolente / Harold Mitchell
Graça Mello / Roberto Kowalsky
Henriette Morineau / Blanche Du Bois
Jacy Campos / Pablo Gonzalez
Joyce Oliveira / Vendedora de Tomates; A Enfermeira
Luiz Fróes / Steve Gunter
Margarida Rey / Eunice Gunter
Maria Castro / Vendedora de Flores
Zeny Pereira / Uma Preta

Obras 1

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Fontes de pesquisa 7

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  • BRANDÃO, Roberto. Ainda a rua e o bonde e etc. Diário Carioca, Rio de Janeiro, 11 jul. 1948.
  • BRANDÃO, Roberto. O bonde que virou rua. Diário Carioca, Rio de Janeiro, 04 jul. 1948.
  • BRITTO, Sergio. A interpretação de 'Uma Rua Chamada Pecado', no Ginástico. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 29 jul. 1948. Coluna Novos Críticos.
  • OLIVEIRA, Oswaldo de. 'Uma Rua Chamada Pecado', première no Ginástico. A Manhã, Rio de Janeiro, 26 jun. 1948.
  • QUEIROZ, Geraldo Alves. 'Uma Rua Chamada Pecado', no Ginástico. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 24 jul. 1948. Coluna Novos Críticos.
  • UMA RUA Chamada Pecado. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 05 nov. 1948. Coluna Palcos e Circos.
  • UMA RUA Chamada Pecado. Rio de Janeiro: Funarte / Cedoc. Dossiê Espetáculos Teatro Adulto.

Como citar

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