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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Cemitério de Automóveis

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 01.07.2022
10.09.1968 Brasil / São Paulo / São Paulo – Teatro 13 de Maio
Digitalizado do original

Cena do espetáculo Cemitério de Automóveis, 1968
Derly Marques
Acervo Idart/Centro Cultural São Paulo

Primeira encenação do franco-argentino Victor García (1934-1982) no Brasil, espetáculo já montado por ele em Paris, em 1967. Utiliza quatro textos do espanhol Fernando Arrabal (1932), "Oração", "Cemitério de Automóveis", "Os Dois Carrascos" e "A Primeira Comunhão", criador do chamado Teatro Pânico, importante corrente de vanguarda da década de 1...

Texto

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Primeira encenação do franco-argentino Victor García (1934-1982) no Brasil, espetáculo já montado por ele em Paris, em 1967. Utiliza quatro textos do espanhol Fernando Arrabal (1932), "Oração", "Cemitério de Automóveis", "Os Dois Carrascos" e "A Primeira Comunhão", criador do chamado Teatro Pânico, importante corrente de vanguarda da década de 1960.

García toma o grotesco e inusual universo das personagens de Arrabal como eixo e alcança a densidade de um espetáculo perturbador, pontilhado de personagens alegóricos, envoltos em situações ao mesmo tempo estranhas, poéticas e grotescas. Numa peça, Emanu, que vive entre as carcaças de automóveis, é traído por um e renegado por outro dos seus amigos; acaba crucificado na bicicleta de um policial, repetindo de certo modo a paixão de Cristo.

Noutro texto, uma insólita e grotesca cerimônia de iniciação religiosa e sexual é empreendida, preparando-se uma jovem para a vida adulta. Tangenciando os limites da amoralidade, do lirismo, do absurdo e da violência, as personagens exigem intérpretes corajosos, sem pudor, decididos a levar a cena aos extremos. Os papéis centrais cabem a Stênio Garcia (1932) e Ruth Escobar (1936-2017), que se mostram à vontade em meio a máquinas, carcaças de veículos, motores, guindastes e demais apetrechos mecânicos que, adaptados, compõem a ambientação cênica do espetáculo.

Uma antiga garagem de automóveis é transformada e adaptada para receber a encenação. A platéia é acomodada em assentos giratórios individuais, o que permite uma visão em 360º de toda a sala. Motocicletas desabaladas, uma adestradora de cobras, sons metálicos, roupas exóticas de couro e peles naturais, além de muita nudez, encarregam-se de causar o forte impacto almejado pela montagem.

A realização recebe elogiosos comentários do crítico Sábato Magaldi (1927-2016): "O desempenho liberto da dicção realista, o desenvolvimento antipsicológico dos conflitos, a violência física e as evoluções acrobáticas punham diante de nós um universo inédito, cujos paralelos teóricos parecem irmanar-se ao ritual artaudiano ou mesmo grotowskiano. [...] Momento de suprema beleza visual, sintetizando simbolicamente o significado de A Primeira Comunhão: enquanto a avó solene e majestosa dava conselhos, a neta, respondendo apenas um 'sim mamãe', era paramentada em círculos concêntricos de diferentes tamanhos, até transformar-se em verdadeiro bolo de noiva. Era a primeira vez que se construía, à nossa frente, metáfora tão poderosa".1

Esta exótica mistura entre celebração da fé e festa pagã dos sentidos converge para a estética artaudiana, como também cria conexões com a obra do autor maldito francês Jean Genet (1910-1989). No ano seguinte o espetáculo é remontado no Rio de Janeiro e, em 1969, Victor García estréia em São Paulo uma nova produção de Ruth Escobar: O Balcão, agora do próprio Jean Genet.

Notas

1. MAGALDI, Sábato. Victor Garcia. In: ______. Depois do espetáculo. São Paulo: Perspectiva, 2003, p.217-218.

Ficha Técnica

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Autoria
Fernando Arrabal

Adaptação
Victor García

Direção
Victor García

Direção (assistente)
Sylvio Zilber

Cenografia
Victor García

Figurino
Victor García

Iluminação
José P. F. Sainz

Direção musical
Carlos Castilho

Música
Aluísio Silva
Tião

Elenco
Antônio Vasconcelos / Fodere (Cemitério de Automóveis); O Menino Assassinado (Oração); O Marido João Laguna (Os Dois Carrascos)
Assunta Perez / Habitante do Carro; Contra-Regra Macho (Cemitério de Automóveis); Mãe Conceição (Os Dois Carrascos); A Avó (Primeira Comunhão)
Carlos Augusto Strazzer / Fíbio (Oração)
Dolly Solar / Habitante do Carro; Contra-Regra Macho (Cemitério de Automóveis); A Morta (Primeira Comunhão)
Fábio Camargo / Tiósido (Cemitério de Automóveis)
Flávio Porto / Lasca (Cemitério de Automóveis)
Íris Bruzzi / Dila (Cemitério de Automóveis); Lilbé (Oração)
Jacques Jover / Tiósido (Cemitério de Automóveis)
Jaime Soares / Habitante do Carro; Contra-Regra Macho (Cemitério de Automóveis); Carrasco (Os Dois Carrascos); Coveiro; Carrasco (Primeira Comunhão)
João Luís Amaral / Habitante do Carro; Contra-Regra Macho (Cemitério de Automóveis) / Carrasco (Os Dois Carrascos) / Coveiro; Carrasco (Primeira Comunhão)
Jonas Mello / Lasca (Cemitério de Automóveis)
Luiz Serra / Substituição para Portugal
Margot Baird / Habitante do Carro; Contra-Regra Macho (Cemitério de Automóveis) / A Menina (Primeira Comunhão)
Osmiro Campos / Milos (Cemitério de Automóveis) / O Filho Benito (Os Dois Carrascos)
Paulo César / Habitante do Carro; Contra-Regra Macho (Cemitério de Automóveis) / O Necrófilo (Primeira Comunhão)
Paulo Goya / O Necrófilo - Primeira Comunhão
Paulo R. Ramalho / Topê (Cemitério de Automóveis) / Contra-Regra Macho da Menina (Primeira Comunhão)
Renato Dobal / Fodere (Cemitério de Automóveis) / O Menino Assassinado (Oração) / O Marido João Laguna (Os Dois Carrascos)
Ruth Escobar / Dila (Cemitério de Automóveis) / Lilbé (Oração) / Mãe Conceição (Os Dois Carrascos)
Selma Caronezzi / Dila (Cemitério de Automóveis); Lilbé (Oração)
Stênio Garcia / Emanu (Cemitério de Automóveis); Fíbio (Oração); O Filho Maurício (Os Dois Carrascos)
Sylvio Zilber / Milos (Cemitério de Automóveis); O Filho Benito (Os Dois Carrascos)
Walderez Bruno / Habitante do Carro; Contra-Regra Macho (Cemitério de Automóveis); A Menina (Primeira Comunhão)

Produção
Ruth Escobar
Wladimir Cardoso

Obras 1

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Fontes de pesquisa 5

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  • ASLAN, Odette. Le Cimitière des Voitures. In: Les Voies de la Création Théâtrale, vol 1. Paris, Centre National de la Recherche Scientifique, 1970.
  • CEMITÉRIO DE AUTOMÓVEIS. Direção Victor Garcia. São Paulo, 1968. 1 folder. Programa do espetáculo, apresentado no Teatro 13 de Maio em setembro de 1968.
  • FERNANDES, Rofran. Teatro Ruth Escobar: 20 anos de resistência. Prefácio Sábato Magaldi; design da capa Levi Leonel, Tânia Mara Coelho. São Paulo: Global, 1985. 276 p.
  • TEATRO Paulista 1968. São Paulo: Comissão Estadual de Teatro: Niamar, [19--?].
  • ZILBER, Sylvio. [Currículo]. Enviado pelo artista em: 2 out. 2017.

Como citar

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