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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Navalha na Carne

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 14.07.2023
03.10.1967 - 02.1968 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro – Teatro Maison de France
Registro fotográfico Arquivo Sarah Feres

Tônia Carrero (Neusa Suely) em cena de Navalha na Carne, 1967
Tônia Carrero
Acervo Idart/Centro Cultural São Paulo

A peça, de Plínio Marcos, se passa em um quarto de bordel, onde a prostituta Neusa Sueli, o cafetão Vado e o homossexual Veludo, empregado do estabelecimento, encarnam a existência subumana e marginalizada. A montagem, proibida pela Censura, na sequência ganha repercussão no Rio de Janeiro, dirigida por Fauzi Arap e trazendo Tônia Carrero no pap...

Texto

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A peça, de Plínio Marcos, se passa em um quarto de bordel, onde a prostituta Neusa Sueli, o cafetão Vado e o homossexual Veludo, empregado do estabelecimento, encarnam a existência subumana e marginalizada. A montagem, proibida pela Censura, na sequência ganha repercussão no Rio de Janeiro, dirigida por Fauzi Arap e trazendo Tônia Carrero no papel feminino.

Retrato naturalista do submundo brasileiro em que as gírias, a violência das relações humanas, a situação opressora e a luta de cada personagem constroem um quadro cuja dramaticidade sobrevive ao tempo, Navalha na Carne é a obra mais encenada do dramaturgo, ao lado de Dois Perdidos Numa Noite Suja. A peça pode ser vista como metáfora dos mecanismos de poder entre as classes sociais brasileiras, uma vez que as personagens, embora pertençam ao mesmo estrato social, se dedicam a uma contínua disputa pelo domínio sobre o outro. Nessa disputa, as personagens vão da força física à chantagem pela autopiedade, da sedução à humilhação, da aliança provisória entre dois na tentativa de isolar o terceiro, mas a possibilidade de juntar suas forças para lutar contra a situação que os oprime nunca é cogitada.

A peça é levada a público em 1967, inicialmente, em parceria com George, texto de John Anthony West, no Centro de Estudos Teatrais que tem suas récitas na cobertura do apartamento de Cacilda Becker e Walmor Chagas, em São Paulo. O objetivo do "Centro" é divulgar, através de leituras dramáticas, originais brasileiros. Esta apresentação, porém, trata-se da encenação que, já pronta para estrear, é interditada pela Censura.

Cacilda e Walmor convidam o grupo para uma encenação em sua residência a fim de mostrar a peça aos críticos e intelectuais atuantes na cena teatral do momento. Após as apresentações dos textos, os presentes firmam um parecer, a ser encaminhado ao ministro da Justiça, Luiz Antonio da Gama e Silva, não só protestando contra a proibição da peça, como pedindo a sua liberação imediata, atendendo assim os compromissos do grupo.

A encenação paulista é realizada em setembro de 1967. Mas o texto chama a atenção na montagem carioca, em outubro do mesmo ano, encabeçada por Tônia Carrero. Ressalta o crítico Yan Michalski: "A impiedosa autenticidade psicológica dos personagens, a clareza da análise dos problemas da sua integração no subumano mundo em que vivem, a extrema densidade do clima, o virtuosismo do diálogo. [...] uma peça à qual se assiste com a respiração presa, e a cujo fascínio não escapa nem o público mais conservador, a priori menos disposto a enfrentar cara a cara a crueldade e a violência [...]".1

Fauzi Arap dirige o espetáculo obtendo o máximo de sintonia entre o texto e as idéias expressas pelas ações das personagens. Sem fazer concessões ao público, o diretor trabalha sobre a violência física, que explode da vida interior das personagens. Tônia Carrero dá à prostituta, por meio de uma construção detalhada e emocional, uma existência própria que, segundo os críticos da época, fazem esquecer a imagem bela e apolínea da atriz. Yan Michalski, considerando seu trabalho o mais sensível e completo de sua carreira, escreve: "Por mais que os grandes momentos dramáticos me tenham emocionado, a lembrança mais forte que guardarei do seu desempenho é a das suas cenas de segundo plano, quando, com gestos apenas esboçados ou com discretas reações fisionômicas, ela traduz a poética e atormentada alma de Neusa Sueli".2

Parcialmente censurada em 1967, a peça só retorna aos palcos montada na íntegra treze anos depois.

 

Notas

1. MICHALSKI, Yan. Reflexões sobre o teatro brasileiro no século XX. Rio de Janeiro: FUNARTE, 2005. p. 97.

2. Idem. p. 99.

Ficha Técnica

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Autoria
Plínio Marcos

Direção
Fauzi Arap

Cenografia
Sara Feres

Figurino
Sara Feres

Coreografia
Klauss Vianna

Elenco
Emiliano Queiroz / Veludo
Nelson Xavier / Wado
Tônia Carrero / Neusa Suely (Prêmio Molière; Associação de Críticos Cariocas)

Direção de produção
Carlos Kroeber

Obras 2

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Espetáculos 1

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Fontes de pesquisa 5

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  • CARVALHO, Tânia. Tônia Carrero: movida pela paixão. São Paulo: Imprensa Oficial, 2009. 276 p. (Coleção Aplauso). Acesso em: 14 jul. 2023.
  • MAGALDI, Sábato; VARGAS, Maria Thereza. Cem anos de teatro em São Paulo (1875-1974). São Paulo: Senac, 2000.
  • MICHALSKI, Yan. O teatro sob pressão: uma frente de resistência. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1989.
  • MICHALSKI, Yan. Reflexões sobre o Teatro Brasileiro no Século XX. Rio de Janeiro: Funarte, 2004.
  • NAVALHA NA CARNE. Formulário de identificação da pesquisa. São Paulo, P1630, Centro Cultural São Paulo, CCSP - Divisão de Pesquisas/Idart.

Como citar

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