O Mentiroso
![O Mentiroso, 1952 [Enciclopédia de Teatro. Espetáculo]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/013302008069.jpg)
Carlos Vergueiro (Arlequim), Sérgio Cardoso (Lélio), Célia Biar (Colombina), Cleyde Yáconis (Rosaura) no espetáculo O Mentiroso, 1952
Fredi Kleemann, Carlos Vergueiro, Sergio Cardoso, Célia Biar, Cleyde Yáconis
Acervo Idart/Centro Cultural São Paulo
Texto
Histórico
Primeiro texto clássico encenado no Teatro Brasileiro de Comédia, em 1949, no início da fase profissional da companhia, com direção de Ruggero Jacobbi. O espetáculo evidencia o talento de Sergio Cardoso.
Tanto o encenador quanto o ator vinham de uma experiência carioca: a montagem de Arlequim, Servidor de Dois Amos, do mesmo Carlo Goldoni, empreendida pelo Teatro dos Doze.
Como em Arlequim, Servidor de Dois Amos, O Mentiroso apóia seu enredo sobre as artimanhas perpetradas pelas máscaras da commedia dell'arte, dela aproveitando a comicidade, o espírito buliçoso e a ótima oportunidade para o desempenho que exige do ator vivacidade e brilho. Figurinos e cenários são resolvidos com capricho por Aldo Calvo. Os tecidos especialmente importados, sedas, rendas e veludos italianos, são usados em casacas elegantes e vestidos primorosamente cortados e drapeados. Por meio de dois palcos giratórios - e um terceiro que avança do fundo - Calvo fornece ao elenco e ao encenador um espaço cênico redimensionado e eficiente. Com isso, propicia rapidez, fluência às cenas e contorna as limitações do palco, que tem pouca altura e praticamente não tem caixa. Segundo o ator Sergio Britto, "Calvo soube captar na arquitetura e numa certa cor local imponderável, que só aos artistas cabe a compreensão, toda Veneza romântica em que Lelio dos Bisonhos viveu mentindo. Tanto o cenário da rua com a gôndola que passa ao fundo, como a casa do Doutor ou a casa de Pantaleão, as duas surgindo em golpes de mágica, são de rara beleza".1
Jacobbi imprime à encenação não apenas o toque do bom gosto e da espontaneidade, mas, sobretudo, a eficiência de uma marcação controlada como por um cronômetro. Põe em destaque, desse modo, o conjunto dos intérpretes: Sergio Cardoso, Zilah Maria, Elizabeth Henreid, Renato Consorte, Carlos Vergueiro, Waldemar Wey, Célia Biar, Maurício Barroso, secundados pela figuração.
O destaque do crítico Décio de Almeida Prado para Sergio Cardoso é absoluto: "(...) é um extraordinário comediante não apenas no sentido menor de ator engraçado (estes os possuímos em abundância) mas também no sentido mais alto, de artista capaz de nos falar antes à imaginação e ao espírito do que aos sentidos. A sua graça é essa graça aérea, levíssima, de certas músicas de Mozart, que parecem dirigir-se, principalmente, à inteligência".2
Prossegue, o mesmo crítico, sobre a encenação: "cada um dos aspectos do espetáculo, a música, as máscaras, os cenários, foi analisado inteligentemente, dentro de uma tradição que o encenador recebeu ao nascer para a arte. A prova do sentimento de intimidade que lhe inspiram a peça e o autor, está nas modificações que introduziu confiantemente no texto, sem modificar de forma alguma a qualidade e tonalidade própria da peça: a commedia dell'arte admite tais liberdades".3
Notas
1. BRITTO, Sérgio. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 2 dez.1949 (arquivo Maria Thereza Vargas) apud RAULINO, Berenice. Ruggero Jacobbi: Presença Italiana no Teatro Brasileiro. São Paulo: Perspectiva, 2002. p. 95.
2. PRADO, Décio de Almeida. Apresentação do teatro brasileiro moderno. São Paulo: Perspectiva, 1996. p. 241.
3. PRADO, Décio de Almeida. 'O Mentiroso'. In: ______. Apresentação do teatro brasileiro moderno. São Paulo: Perspectiva, 1996. p. 240.
Ficha Técnica
Carlo Goldoni
Tradução
Ruggero Jacobbi
Adaptação
Ruggero Jacobbi
Direção
Ruggero Jacobbi
Cenografia
Aldo Calvo
Figurino
Aldo Calvo
Elenco
A. C. Carvalho / O Mentiroso
Carlos Vergueiro / O Mentiroso
Célia Biar / O Mentiroso
Elizabeth Henreid / O Mentiroso
José Expedito de Castro / O Mentiroso
Maurício Barroso / O Mentiroso
Maury Lopes / O Mentiroso
Nelson Ernesto Coelho / O Mentiroso
Renato Consorte / O Mentiroso
Ruy Affonso / O Mentiroso
Sebastião Ribeiro / O Mentiroso
Sergio Cardoso / O Mentiroso
Waldemar Wey / O Mentiroso
Zilah Maria / O Mentiroso
Zilda Hamburger / O Mentiroso
Produção
Franco Zampari
Obras 1
Espetáculos 3
Fontes de pesquisa 3
- GUZIK, Alberto. TBC: crônica de um sonho. São Paulo: Perspectiva, 1986.
- GUZIK, Alberto; PEREIRA, Maria Lúcia (Org.). Teatro Brasileiro de Comédia. Dionysos, Rio de Janeiro, n. 25, set. 1980. Edição especial.
- PRADO, Décio de Almeida. Apresentação do Teatro Brasileiro Moderno. São Paulo: Perspectiva: 1996.
Como citar
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O Mentiroso.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/evento398269/o-mentiroso. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7