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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

A Vida É Cheia de Som e Fúria

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 05.10.2022
17.03.2000 Brasil / Paraná / Curitiba – Teatro José Maria dos Santos
Realização que consagra, no eixo Rio-São Paulo, Felipe Hirsch como encenador, e Guilherme Weber como ator, ambos da Sutil Companhia de Teatro, de Curitiba, em 2000.

Texto

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Realização que consagra, no eixo Rio-São Paulo, Felipe Hirsch como encenador, e Guilherme Weber como ator, ambos da Sutil Companhia de Teatro, de Curitiba, em 2000.

O texto original denomina-se High Fidelity, romance escrito por Nick Hornby sobre a vida do DJ Rob Flemming, retratando a geração dos anos 80, envolvida com o caos das informações múltiplas e a fugacidade dos relacionamentos afetivos.

Hirsch assina, além da encenação, a adaptação cênica do texto e a cenografia, criando um espetáculo altamente pessoal. Apoiado nos belos efeitos de luz de Beto Bruel, seu colaborador constante, o encenador alcança a fluidez necessária entre os espaços e ambientes requeridos pelo fluxo da ação, que mescla autoconfissão com evocações dos relacionamentos de Rob. A crise central, desencadeada após seu rompimento com a namorada Laura, torna o eixo dramático organizado em torno das seqüelas da separação.

Os figurinos de Erica Migon são sóbrios, eloqüentes na caracterização de cada figura, traçados em justa sensibilidade com o diretor, que privilegia os meios-tons, as discretas cores escuras e sólidas. Papel central ocupa a trilha sonora, criada por Rodrigo Del Rei e L. A. Ferreira, com acréscimos do próprio Felipe, muito mais do que simples ambientação, uma vez que a música é o próprio universo do DJ e com ele estabelece um incessante diálogo. Da mesma forma, as projeções em computação gráfica sobre duas telas que formam o cenário, somadas a uma terceira que cobre toda a caixa preta, contribuem para a revelação do espetáculo.

Guilherme Weber sai consagrado desta interpretação, toda ela modulada no limite entre uma expressividade solta e liberada e um agudo senso de composição, que flagra em instantes de puro virtuosismo seus gestos e entonações. Imprime veracidade a Rob ao mesmo tempo que grifa, não sem certo sarcasmo e humor, as contradições nas quais a personagem percorre seu périplo existencial.

O espetáculo rende o Prêmio Shell de melhor direção para Felipe Hirsh, que a partir desta montagem realiza uma série de espetáculos marcantes, sendo constantemente solicitado como diretor pelos atores de primeiro time do nosso panorama teatral, tais como Marco Nanini (1948), Marieta Severo (1946), Renata Sorrah (1947) e Andréa Beltrão (1963), entre outros.

O crítico Jobabê Medeiros registra, em seu comentário sobre a realização: "A geração hippie teve em Hair um retrato estilizado, que endossava o heroísmo e o pioneirismo dos contraculturalettes. Alta Fidelidade não endossa, apenas retrata. A maior parte do público ri e se reconhece nas gags da peça. Há um grande charme em ser um perdedor, nos mostra o diretor curitibano Felipe Hirsch. A irmandade (brotherhood) substituiu a célula familiar em tudo que ela possui de mais tênue: a ausência de compreensão, a falta de diálogo, o mutismo coletivo e o equilíbrio frágil e inexplicável. Ainda assim, é uma saída. A música dos Smiths, Joy Division, Echo and the Bunnymen e o som negro da Motown são a trilha sonora (algumas licenças, embora bem-vindas, constituem alta traição à arqueologia musical de Hornby, como a inclusão de Manu Chao na trilha). Um só personagem carrega sua história, enquanto outros - principalmente as mulheres - são apenas coadjuvantes quase mudos. Machismo? Não, Rob não é suficientemente personagem para ser machista. O fato de saber que algo está errado com ele não o torna especial, mas apenas um amargurado. A sua ética, que distribui responsabilidades entre ex-namoradas e a mãe possessiva, também não o credencia a macho. A vida, como verão os espectadores, não é cheia de som e fúria. Mas Felipe Hirsch parece intuir que o pop também não admite demasiada convicção. E faz um espetáculo bom de se ver, agradável e leve como um show de rock".1

Notas
1

MEDEIROS, Jotabê. A vida é de novo cheia de som e fúria. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 26 jul. 2000. Caderno 2, p. E-2.

 

Ficha Técnica

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Autoria
Nick Hornby

Adaptação
Felipe Hirsch

Direção
Felipe Hirsch (Prêmio Shell)

Direção (assistente)
Guilherme Weber

Direção de cena
Marcos Lesqueves

Cenografia
Felipe Hirsch

Cenografia (assistente)
Sergio Richter

Figurino
Erica Migon

Iluminação
Beto Bruel

Iluminação (assistente)
Daniele Régis

Operação de luz
Daniela Régis

Trilha sonora
L. A. Ferreira
Rodrigo Del Rei

Operação de som
Guto Gevaerd

Elenco
Caio Marques
Daniel Cardoso
Erica Migon
Fabíola Werlang
Fernanda Farah
Glaucia Domingos
Guilherme Weber
Marcio Abreu
Maureen Miranda
Olga Nenevê

Camareira
Consuelo Gomes de Sá

Fontes de pesquisa 4

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  • CYPRIANO, Fábio. A vida é cheia de som e fúria. Folha de S.Paulo, São Paulo, 3 ago. 2000. Ilustrada, p. E-5.
  • HELIODORA, Bárbara. Belo retrato do homem globalizado. O Globo, Rio de Janeiro, 21 mar. 2000. Segundo Caderno, p. 4.
  • MEDEIROS, Jotabê. A vida é de novo cheia de som e fúria. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 26 jul. 2000. Caderno 2, p. E-2.
  • SANTOS, Valmir. Estréia melhor peça do Festival de Curitiba. Folha de S.Paulo, São Paulo, 26 jul. 2000. Ilustrada, p. E-5.

Como citar

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