O Avarento
Texto
A encenação de Amir Haddad (1937) alia o apreço pela literatura e o culto às formas do teatro popular. O texto na íntegra e a valorização da clareza da palavra se misturam ao uso pontual de máscaras, à música de referência nordestina, ao uso lúdico do cenário de inspiração elisabetana, ao figurino que sugere uma trupe mambembe e à explicitação do jogo teatral.
O texto é construído em torno de Arpagão, um usurário que trata sua família como a extensão de seus negócios. Para ele, o dinheiro é o fator mais importante e crucial da vida. Numa crise de seu poder patriarcal, decide casar o filho com uma viúva rica e a filha com um homem igualmente abastado, embora ela esteja apaixonada por um rapaz, a princípio pobretão.
A encenação faz com que o público entre pelos bastidores do teatro, passando pela entrada dos camarins e atravessando o palco, recebido pelos atores, até chegar à platéia. O espetáculo se inicia com os intérpretes, anunciados por tambores, ocupando a entrada do público e descendo a platéia até o palco. Ao final, quando os espectadores atravessam o saguão, encontram novamente os atores, que lhes dão adeus. A música é tocada ao vivo, com os instrumentos que trazem a sonoridade das festas populares tradicionais - violino, bandolim e acordeão.
Na análise de alguns críticos, essa linguagem suaviza o conflito da peça e a densidade do protagonista e, dessa forma, torna superficial a contundente crítica que o autor faz à avareza. Barbara Heliodora (1923-2015), por exemplo, reclama por não ver em cena "o Arpagão dominado pelo vício, sofrendo realmente por amar seu dinheiro mais do que seus filhos".1 Mas o que enfraquece a montagem é a indisfarçável falta de intimidade que a maioria dos atores tem com a linguagem. Nesse sentido, os críticos são unânimes em apontar positivamente o desempenho de Angela Rebello, que "mostra os ardis da Frosina com maliciosa interpretação",2 e Tonico Pereira (1948) - que "encarna as suas fraquezas [da personagem] com a exuberância de um cômico popular".3 Segundo Bárbara Heliodora, "o trabalho de Amir com formas de teatro popular é responsável pelo que o espetáculo tem de simpático e atraente".4
Notas
1. HELIODORA, Barbara. Busca do riso prejudica verdade de Molière. O Globo, Rio de Janeiro, 8 jun. 2000.
2. LUIZ, Macksen. Vibração permanente. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 10 jun. 2000.
3. Ibid.
4. HELIODORA, Barbara. Op. cit.
Ficha Técnica
Molière
Tradução
Bandeira Duarte
Direção
Amir Haddad
Cenografia
Lidia Kosovski
Adereço
Ney Madeira
Figurino
Ney Madeira
Iluminação
Aurélio de Simoni
Direção musical
Tato Taborda
Trilha sonora
Tato Taborda
Música
Kiko Horta
Queca Vieira
Coreografia
Rossela Terranova
Elenco
Alessandra Negrini / Elisa
André Gonçalves / Valério
Ângela Rebello / Frosina
Daniel Rolim / Brindavoine
Dira Paes / Mariana
Emílio de Melo / La Fleche
Gaspar Filho / Comissário; Merluche
Ivo Fernandes / Mestre Jacques
Leonardo Vieira / Cleanto
Sandro Valério / Escrivão; D. Cláudio
Tonico Pereira / Harpagon (Prêmio Melhor Governador do Estado do Rio de Janeiro)
Xando Graça / Sr. Anselmo; Simão
Fontes de pesquisa 4
- HELIODORA, Barbara. Busca do riso prejudica verdade de Molière. O Globo, Rio de Janeiro, 8 jun. 2000.
- LUIZ, Macksen. Vibração permanente. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 10 jun. 2000.
- O AVARENTO. Direção Amir Haddad. Rio de Janeiro, 2000. 1 folder. Programa do espetáculo, apresentado no Centro Cultural Banco do Brasil em maio de 2000.
- O AVARENTO. Rio de Janeiro: Funarte/Cedoc. Dossiê Espetáculos Teatro Adulto.
Como citar
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O Avarento.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/evento392461/o-avarento. Acesso em: 05 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7