Classicismo
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Definição
O termo, correlato a clássico, é empregado na história e na crítica da arte com sentidos diversos. Em acepção mais estrita, referida ao contexto da arte grega, "clássico" designa a produção específica da fase entre os anos 510 a.C. e 460 a.C., considerada o auge da produção artística grega (Mirón, Policleto, Fídias e Praxíteles estão entre os maiores escultores do período). Mais freqüentemente, "classicismo" é pensado por oposição a romantismo. Se o termo "clássico" remete à ordem, ao equilíbrio e à objetividade, a designação "romântico" apela às paixões, às desmedidas e ao subjetivismo. O belo clássico define-se na arte grega, com base em um ideal de perfeição, harmonia, equilíbrio e graça que os artistas procuram representar pela simetria e proporção (Praxíteles, Hermes com o Jovem Dionisio, 350 a.C.). As formas humanas apresentam-se como se fossem reais e, ao mesmo tempo, exemplares aperfeiçoados (Vênus de Milo, século I a.C.).
A arte renascentista italiana reanima o projeto de representação do mundo com base nos ideais clássicos. Algumas obras de Michelangelo Buonarrotti (1475 - 1564) exemplificam a realização desse modelo, seja nos estudos de anatomia para composições maiores, Estudo para uma das Sibilas, no teto da capela Sistina, seja em escultura, como o célebre Davi, 1501/1504. As imagens de Rafael (1483 - 1520), dão expressão aos valores da arte renascentista, destacando-se pela beleza projetada segundo os padrões idealizados do universo clássico, como A Ninfa Galatéia, ca.1514. Na arquitetura, especificamente, o clássico tal como formulado por Leon Batista Alberti (1404 - 1472), o mais importante teórico da arte na Renascença, também se orienta pelas regras da arquitetura greco-romana e por seu modelo de beleza arquitetônica que prega ser "a harmonia e a concórdia de todas as partes, atingida mediante a aplicação de regras bem fundamentadas e resultando numa unidade tal que nada possa ser acrescentado, retirado ou modificado sem prejuízo das obras". A partir daí fala-se no clássico arquitetônico, por oposição ao gótico.
Tanto o clássico quanto o romântico são teorizados entre a metade do século XVIII e meados do século XIX. O clássico constitui a base da reflexão de Anton Raphael Mengs (1728 - 1779) e de Joachim Johann Winckelmann (1717 - 1768), que defendem a retomada da arte antiga, especialmente a greco-romana, considerada modelo de equilíbrio, clareza e proporção. À linha curva e retorcida do barroco e do rococó, o neoclassicismo - como se convenciona chamar a retomada do modelo clássico na passagem do século XVIII ao XIX - opõe a retidão e a geometria, como se vê nas telas de Jacques-Louis David (1748 - 1825) e nas esculturas de Antonio Canova (1757 - 1822). O romântico, por sua vez, é sistematizado histórica e criticamente pelo grupo reunido com os irmãos Schlegel na Alemanha, a partir de 1797, ao qual se ligam Novalis, Tieck, Schelling e muitos outros. Se a dicotomia clássico/romântico é útil para definir contornos mais amplos, não deve levar ao estabelecimento de uma oposição radical entre os modelos, que se encontram combinados em diversos artistas e obras. Por exemplo, as pinturas visionárias e fantásticas do inglês William Blake (1757 - 1827), indica Giulio Carlo Argan, ainda que próximas à dicção romântica, tomam como modelo as formas clássicas.
Os termos clássico e classicismo podem ser empregados com base em uma mescla de juízos de valor - como se a arte greco-romana estabelecesse um padrão para toda a arte produzida posteriormente - e periodização histórica. Heinrich Wölfflin (1864 - 1945), por exemplo, em A Arte Clássica, 1899, pensa a noção como indicadora dos exemplos artísticos mais representativos de qualquer período. Assim, é possível utilizar a noção de "clássico" e também "romântico", como fazem alguns críticos, como orientações mais gerais, descoladas de localizações cronológicas marcadas, o que levaria a distinguir tendências "clássicas" ou "românticas" em diferentes épocas. A oposição clássico/romântico permitiria explicar, no limite, o desenvolvimento das artes e da cultura na Europa e Estados Unidos nos séculos XIX e XX. Em sentido mais corrente, próximo ao senso comum, é possível ainda utilizar o termo como referência à clareza de expressão ou como índice de conservadorismo.
Fontes de pesquisa 4
- ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna: do iluminismo aos movimentos contemporâneos. Tradução Denise Bottmann, Frederico Carotti. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
- ARGAN, Giulio Carlo. Clássico anticlássico. O Ranascimento de Brunelleschi a Bruegel. Introdução, tradução e notas de Lorenzo Mammì. São Paulo: Cia. das Letras, 1999, 497 p.
- CHASTEL, André. A arte italiana. Tradução de Antonio de Pádua Danesi. São Paulo: Martins Fontes, 1991. 738 p., il. p&b.
- CHILVERS, Ian (org.). Dicionário Oxford de arte. Tradução Marcelo Brandão Cipolla. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
Como citar
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CLASSICISMO.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/termo5355/classicismo. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
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