Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Grotesco

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 06.02.2015
O termo, derivado do italiano grottesco (de grotta, "gruta" ou "cova"), surge na história da arte aplicado a um estilo ornamental inspirado em decorações murais da Roma antiga, descobertas em ruínas escavadas no Renascimento. Tais monumentos soterrados, conhecidos como grottes (por exemplo, a Domus Aurea de Nero, descoberta em torno de 1500), fo...

Texto

Abrir módulo

Definição
O termo, derivado do italiano grottesco (de grotta, "gruta" ou "cova"), surge na história da arte aplicado a um estilo ornamental inspirado em decorações murais da Roma antiga, descobertas em ruínas escavadas no Renascimento. Tais monumentos soterrados, conhecidos como grottes (por exemplo, a Domus Aurea de Nero, descoberta em torno de 1500), fornecem sugestões para ornamentos - pintados, desenhados ou esculpidos - baseados em combinações de linhas entrelaçadas com flores, frutos e outras formas, como figuras extravagantes, máscaras e animais fora do comum. O ornamento grotesco, de modo geral, se caracteriza pela criação de universos fantásticos - repletos de seres humanos e não-humanos, fundidos e deformados -, pelo apelo à fantasia e ao mundo dos sonhos e pela fabricação de outras formas de realidade.

Um dos primeiros exemplos do ornamento grotesco é o friso da Anunciação, 1486, de Carlo Crivelli (ca. 1430 - ca.1495), que se destaca pela deformação de elementos naturais e pela combinação original de volumes e cores. Nos grotescos de Luca Signorelli (ca.1450 - 1523) para a Catedral de Orvieto, pintados entre 1499 e 1504, emaranhados de objetos e criaturas estranhas constituem o fundo no qual se destacam cinco medalhões representando cenas da Divina Comédia, de Dante Allighieri (1265 - 1321). Entre os mais célebres e influentes ornamentos grotescos encontram-se aqueles realizados por Rafael (1483 - 1520) para o forro e pilares das loggie papais, compostos de arabescos e linhas onduladas verticais, com animais e espécies vegetais entrelaçados (ca.1515).

Iniciado em solo italiano no século XVI, o grotesco se difunde por toda a Europa, a partir de então. O trajeto da noção de grotesco no tempo retira dela o sentido técnico específico de um tipo de decoração romana tardia (e de um estilo renascentista nela inspirado), transformando-a freqüentemente em adjetivo, para designar o que é bizarro, fantástico, extravagante e caprichoso. Dessa maneira o Dicionário da Academia Francesa (1694) normatiza o vocábulo, que passa à linguagem crítica em acepção ampliada, muitas vezes associado também ao ridículo, ao absurdo e ao antinatural. Os motivos dos grotteschi são retomadas por Giovanni Battista Piranesi (1720 - 1778) e Robert Adam (1728 - 1792) no bojo do neoclassicismo e passam a constituir traços eventuais das artes decorativas em geral, embora despidos das fantasiosas combinações dos grotescos da Renascença. O movimento neoclássico, ao rejeitar a linha curva e retorcida dos estilos anteriores (barroco e rococó), descarta de modo geral o grotesco, considerado excessivo e despropositado. Valorizado pelos românticos (para os quais a arte deve representar tanto o belo como o feio e o deformado), o grotesco se transforma, posteriormente, em categoria estética e literária para fazer referência a um tipo de descrição ou de tratamento deformador da realidade, que pode ter como finalidade provocar o riso e/ou obter uma intencionalidade satírica de caráter moral ou político.

Acompanhar o itinerário dessa noção no tempo e no espaço obriga a consideração de diferentes artistas, escolas e movimentos. Entre os flamengos, Pieter Brueghel, o Velho (ca.1525 - 1569), lança mão do recurso do grotesco em obras ilustrativas de provérbios (Parábola dos Cegos, 1568). Elementos grotescos também povoam as "paisagens infernais", de Pieter Brueghel, o Moço (1564 - 1638), por exemplo, Inferno com Virgílio e Dante, 1594. Mas entre eles é Hieronymus Bosch (ca.1450 - 1516) que se destaca pela composição de obras não convencionais, em que se mesclam elementos fantasiosos, criaturas meio-humanas e meio-animais, demônios e seres deformados, imersos em ambientes paisagísticos e arquitetônicos fantásticos (O Jardim das Delícias e A Tentação de Sto. Antão, ambas sem datação precisa). Dos alemães, podem ser citadas obras de Matthias Grünewald (ca.1480 - 1528), em especial a Crucificação do altar da Abadia Antonita em Isenheim, Alsácia, finalizado em 1515, que dá destaque ao corpo deformado e marcado de Cristo, e as de Albrecht Dürer (1471 - 1528), por exemplo, a série de gravuras que compõem o Apocalipse, 1498.

Na Inglaterra, as expressões do neogótico, com suas inclinações para os efeitos insólitos e surpreendentes, assim como a produção de Heinrich Füssli (1747 - 1825), cuja obra aspira a um sublime que tende ao fantástico e ao horrendo (O Pesadelo, 1781), podem ser mencionadas como possibilidades de uso do grotesco. Em solo espanhol, Francisco de Goya (1746 - 1828) é responsável por ampla produção em que os elementos grotescos se sucedem, seja em telas como Visão Fantástica, 1820/1821, seja nas séries de gravuras Caprichos, 1799, e Desastres de Guerra, 1810/1814. O universo monstruoso do belga James Ensor (1860 - 1949), com suas máscaras, esqueletos e anjos decaídos - aproxima-se dos de Bosch e Brueghel pelo recurso ao grotesco.

Os espaços tenebrosos, a temática da morte e as construções macabras ligam o nome do austríaco Alfred Kubin (1877 - 1959) à tradição do grotesco. Da mesma forma, a pintura de Edvard Munch (1863 - 1944) e o expressionismo de Ernst Ludwig Kirchner (1880 - 1938) aparecem como atualizações do grotesco, em obras que reeditam, e radicalizam, os ensinamentos românticos, por meio da deformação das figuras e imagens (O Grito, 1893, de Munch, e Marcella, 1910, de Kirchner). As vanguardas das primeiras décadas do século XX - sobretudo o surrealismo e o dadaísmo - se valem do grotesco em suas representações do fantástico, da dor e da loucura, bem como no tratamento dado ao sexo, ao erotismo e ao corpo.

Tomando o grotesco em sua acepção mais ampla, é possível pensar que o recurso à deformação de figuras humanas, com sentido dramático, pode ser encontrado na arte brasileira desde as obras do Aleijadinho (1730 - 1814). A produção de Alvim Correa (1876 - 1910) deve ser mencionada no que diz respeito à composição de ambiências grotescas; sua série A Guerra dos Mundos, 1903, com paisagens devastadas, seres estranhos - meio máquinas, meio animais - e formas humanas enlaçadas por animais, é exemplar do ponto de vista da criação de paisagens insólitas e fantásticas, com tom tragicômico.

Fontes de pesquisa 7

Abrir módulo
  • A AVENTURA MODERNISTA - Coleção Gilberto Chateaubriand. São Paulo; Rio de Janeiro: SESI; MAM, 1994.
  • CALDERÓN, Demetrio Estébanez. Diccionario de términos literarios. Madrid: Alianza Editorial, 1999, 1134 pp. [El libro universitario].
  • CHILVERS, Ian (org.). Dicionário Oxford de arte. Tradução Marcelo Brandão Cipolla. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
  • KAYSER, Wolfgang. The Grotesque in art and literature. Translated from the German by Ulrich Weisstein. New York ; Toronto: McGraw-Hill Book Company ; Indiana University Press, 1975, 224 pp. il. P&b.
  • La nuova enciclopedia dell'arte Garzanti. Milano: Garzanti, 1986.
  • MARCONDES, Luiz Fernando. Dicionário de termos artísticos. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1998. 381 p., il. p&b.
  • MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, SÃO PAULO, SP. Imagens do inconsciente. Curadoria Nise da Silveira, Luiz Carlos Mello; tradução John Norman. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000.

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: