Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Literatura

Romantismo na literatura

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 07.02.2024
O desenvolvimento do Romantismo no Brasil pode ser melhor compreendido em conjunto com o processo de emancipação política do país, que culminou com a Independência, em 1822. As idéias que dariam forma ao movimento ganham impulso a partir de 1808, quando a família real portuguesa se instala no Rio de Janeiro, declara a cidade a nova sede da monar...

Texto

Abrir módulo

O desenvolvimento do Romantismo no Brasil pode ser melhor compreendido em conjunto com o processo de emancipação política do país, que culminou com a Independência, em 1822. As idéias que dariam forma ao movimento ganham impulso a partir de 1808, quando a família real portuguesa se instala no Rio de Janeiro, declara a cidade a nova sede da monarquia e promove melhorias que transformam o Rio em importante centro urbano. A fundação de institutos de ensino, bibliotecas, casas tipográficas e, principalmente, de órgãos de imprensa contribuiu para agilizar a circulação de informações e a fermentação de idéias no país.

Embora tenha traços próprios, como a valorização da figura literária do índio, o Romantismo no Brasil é uma derivação do Romantismo europeu, que começa a tomar forma nos primeiros anos do século XIX com a publicação da obra dos poetas ingleses Wordsworth e Coleridge. O alemão Goethe, os franceses Alexandre Dumas e Victor Hugo e o russo Pushkin são alguns dos nomes mais importantes do movimento.

Em linhas gerais, o Romantismo pode ser visto como uma rejeição aos preceitos de ordem, calma, harmonia, equilíbrio, idealização e racionalidade que eram próprios do Classicismo e do Neoclassicismo. Entre as atitudes características estão: apreciação da natureza; exaltação da emoção em detrimento da razão; exame meticuloso da personalidade humana; preocupação com o gênio, o herói, e o foco em seus conflitos interiores; nova visão do artista como criador individual supremo; ênfase na imaginação como ponto de partida para experiências transcendentes; interesse pelas origens históricas e culturais da nação; predileção pelo exótico, estranho, oculto, monstruoso, doentio e até satânico.

Contexto
No início do século XIX, o país assistiu a um fato decisivo para sua independência política e social: a chegada da corte de D. João VI. Assim que desembarcou no Rio de Janeiro, a família real adotou medidas para possibilitar a administração à distância. Entre elas, destacam-se a abertura dos portos, a fundação do Banco do Brasil, a criação dos tribunais de Finanças e de Justiça, a permissão para o livre funcionamento de indústrias, a implantação da imprensa. Ocorreram ainda as fundações da Academia Militar e da Biblioteca Real, com 60 mil volumes, que está na origem da Biblioteca Nacional. Paralelamente a isso, o florescimento do cultivo de café deslocava o eixo econômico de Minas Gerais para São Paulo, onde se concentravam as plantações. O Rio de Janeiro, porto de escoamento do produto, torna-se também capital literária e cultural do país.

A ascensão da burguesia, a emergência das profissões liberais e o desenvolvimento da instrução pública possibilitam a ampliação dos grupos letrados, que aos poucos quebram o monopólio de poder, até então concentrado nas mãos da aristocracia rural. Com a ampliação da classe média, o lazer torna-se parte importante do cotidiano da burguesia, a instrução feminina passa a ser valorizada, a educação melhora, fundam-se bibliotecas e a imprensa se torna mais atuante nos principais centros urbanos.

A curiosidade sobre o país, que então definia suas fronteiras geográficas, também aumenta. O interesse pelos estudos sobre economia, população, fauna, flora e costumes do país culmina na fundação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em 1838. As ciências naturais e os estudos históricos também se desenvolvem.

As tipografias e casas impressoras proliferam, e o livro começa a ser publicado com maior regularidade, circulando com mais facilidade pelo país. A qualificação do público e a ampliação do leitorado dão mais popularidade aos escritores que, pela primeira vez, conhecem o sucesso em vida. Imbuídos de missão civilizatória, eles atuam na imprensa, na política, na literatura e assumem a dimensão de figura pública engajada no debate das questões candentes do país. Política e letras caminham de mãos dadas. O período regencial e as revoltas que o marcaram, a prosperidade do Segundo Império, a Guerra do Paraguai e a campanha abolicionista são temas discutidos publicamente, com grande repercussão sobre a produção literária.

O Romantismo na literatura européia começa a ganhar corpo por volta da década de 1790, com a publicação das Lyrical Ballads, dos poetas ingleses William Wordsworth e Samuel Taylor Coleridge. Escrito em 1800, o prefácio de Wordsworth à segunda edição de Lyrical Ballads, em que descrevia a poesia como o fluxo espontâneo de sentimentos poderosos, transformou-se no manifesto do Romantismo inglês no campo da poesia. William Blake era o terceiro poeta importante da fase inicial do movimento na Inglaterra. A primeira fase do Romantismo na Alemanha foi marcada por inovações tanto de conteúdo quanto de estilo e por uma preocupação com o místico, o subconsciente e o sobrenatural. Uma série de autores talentosos, como Friedrich Hölderlin, o jovem Johann Wolfgang von Goethe, Friedrich Schlegel e Friedrich Schelling pertence a esse período inicial. Na França revolucionária, Chateaubriand e Madame de Stäel foram os iniciadores do Romantismo, principalmente em razão de seus escritos históricos e teóricos.

Compreendida pelo período de 1805 a 1830, a fase seguinte do Romantismo europeu foi marcada pela aceleração do nacionalismo cultural e uma nova atenção às origens nacionais, como atestam o interesse repentino pelo folclore nativo (dança, música e poesia) e a revalorização de trabalhos esquecidos do período medieval e da Renascença. Essa apreciação pela história foi transformada em ficção por Walter Scott, considerado o inventor do romance histórico. Na mesma época, a poesia romântica inglesa atingia seu ápice com o trabalho de John Keats, Percy Bysshe Shelley e Lord Byron, este último especialmente relevante para a compreensão da produção poética da segunda geração do Romantismo brasileiro, pela sua influência sobre escritores como Fagundes Varela (1841 - 1875) e Álvares de Azevedo (1831 - 1852).

A partir da década de 1820, o Romantismo havia se desenvolvido a ponto de abarcar as literaturas de quase toda a Europa. Nessa fase, o movimento fica menos universal e ganha expressão principalmente pelo exame da herança histórica e cultural de cada país e pela exploração das paixões e conflitos de indivíduos excepcionais. Um breve panorama de autores influentes do período na Europa teria de conter os nomes de Thomas De Quincey, William Hazlitt e as irmãs Brontë, na Inglaterra; Victor Hugo, Alfred de Vigny, Alphonse de Lamartine, Alfred de Musset, Stendhal, Prosper Mérimée, Alexandre Dumas pai e Théophile Gautier, na França; Alessandro Manzoni e Giacomo Leopardi, na Itália; Aleksandr Pushkin e Mikhail Lermontov, na Rússia; José de Espronceda e Ángel de Saavedra na Espanha.

O Romantismo brasileiro deve ser compreendido em conjunto com o processo de emancipação política. A intenção de criar uma literatura independente e diferente da portuguesa deveria equivaler, no plano cultural, ao que a proclamação da independência representou no plano político. Assim, Portugal deixa de ser a principal referência literária, função que passa a ser exercida por França e Inglaterra. Embora identificado com o período de 1836 a 1880, as origens do movimento romântico brasileiro remontam ao contexto europeu e aos anos de transição entre os séculos XVIII e XIX, quando panfletos e sermões ganham destaque como veículos de idéias novas e a atividade jornalística começa a se adensar. Rica de contatos com a cultura européia do tempo, essa atividade teve papel crucial para a articulação do que alguns críticos chamam de "pré-Romantismo" e para a definição das linhas ideológicas do Primeiro Reinado e da Regência. Frei Caneca (1779-1825), Visconde de Cayru (1756-1835), Monte Alverne (1774-1823), José Bonifácio (1763-1838), além de Hipólito da Costa e Evaristo da Veiga, são alguns dos nomes mais influentes nesse momento de transição.

Convém ainda ressaltar que o Romantismo, com letra maiúscula, deve ser diferenciado do romantismo, com minúscula. O primeiro termo designa o movimento literário. O segundo, um comportamento social e afetivo sem época determinada. E o formato romance, embora tenha se desenvolvido no período, origina-se na Europa no século XVII. É, pois, anterior ao Romantismo.

Estilo - características gerais
O Romantismo é a atitude ou orientação intelectual que caracterizou diversos trabalhos de literatura, pintura, música, arquitetura, crítica e historiografia da civilização ocidental durante o período que vai do fim do século XVIII até meados do século XIX. O Romantismo pode ser visto como uma rejeição aos preceitos de ordem, calma, harmonia, equilíbrio, idealização e racionalidade que eram próprios do Classicismo em geral e do Neoclassicismo do século XVIII em particular. Até certo ponto, foi também uma reação contra o Iluminismo e o racionalismo que dele deriva. A ênfase no individual, subjetivo, irracional, imaginativo, pessoal, espontâneo, emocional, visionário e transcendental é comum a grande parte das produções artísticas do Romantismo.

Entre as atitudes características do período, é possível listar as seguintes: o aprofundamento da apreciação da natureza; a exaltação da emoção em detrimento da razão e dos sentidos em detrimento do intelecto; o exame meticuloso da personalidade humana e de suas potencialidades mentais; a preocupação com o gênio, o herói e a figura excepcional de modo geral, e o foco em seus conflitos interiores; uma nova visão do artista como criador individual supremo, cujo espírito criativo é mais importante que a adesão a regras formais e procedimentos tradicionais; a ênfase na imaginação como ponto de partida para experiências transcendentes e para a verdade espiritual; o interesse obsessivo pelo folclore e pelas origens históricas e culturais da nação; a predileção pelo exótico, remoto, misterioso, estranho, oculto, monstruoso, doentio e até satânico.

Em boa medida, é possível dizer que o Romantismo brasileiro repete as mesmas características do Romantismo europeu. Ao serem adaptadas à realidade do país, no entanto, possibilitam o surgimento de traços peculiares. Segundo o crítico Antonio Candido (1918), essa adaptação pode ser sugerida por meio do estudo de três processos: transposição, substituição e invenção. A transposição consiste em passar para o contexto brasileiro as expressões, concepções, lendas, imagens, situações ficcionais e estilos das literaturas européias, numa apropriação que se integra e dá ao leitor a impressão de familiaridade, e ao mesmo tempo faz sentir a presença das raízes culturais. A substituição, para o crítico, é um processo mais profundo do ponto de vista da linguagem e da interpenetração cultural. Nele, o escritor brasileiro põe de lado a terminologia, as entidades, as situações da literatura européia e as substitui por outras, claramente locais, com a intenção de obter o mesmo efeito. Por exemplo: substitui-se o cavaleiro pelo índio, o fidalgo pelo fazendeiro, o torneio pela vaquejada, como no romance O Sertanejo, de José de Alencar. Pode-se falar em invenção quando o escritor parte do patrimônio europeu para criar variantes originais, como ocorre num poema de Álvares de Azevedo, Meu Sonho, no qual ele fecunda o modelo da balada macabra de tipo alemão (como a Lenora, de Bürger), deformando-o a fim de obter algo diferente.

Os três processos se fazem presentes nas diferentes fases do Romantismo brasileiro, tradicionalmente subdividido em três gerações. A primeira seria compreendida entre os anos de 1836, quando se publica o livro Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães (1811 - 1882), e 1852, quando morre Álvares de Azevedo. O segundo momento teria início a partir da publicação da obra poética desse poeta, em 1853. O ponto de transição para a terceira fase seria o ano de 1870, quando Castro Alves (1847 - 1871) publica Espumas Flutuantes. Como se vê, a divisão comumente adotada tem a poesia como parâmetro. No campo da prosa literária e da crônica jornalística, os marcos são menos nítidos. Para fins didáticos e cronológicos, no entanto, procurou-se respeitar essa divisão para os verbetes que tratam das três gerações do Romantismo.

Mídias (1)

Abrir módulo
Ivan Teixeira - Romantismo - São Paulo na Literatura (2004)
O professor e ensaísta Ivan Teixeira fala sobre o Romantismo em São Paulo, geração literária que se reunia em torno da Faculdade de Direito e do nome de Álvares de Azevedo, mas que também atraiu para a cidade escritores como Castro Alves e José de Alencar, consolidando uma vocação literária que, num momento pós-romântico, foi marcada pela presença de Raul Pompéia. São Paulo na Literatura é uma série programas que tratam da cidade de São Paulo no imaginário da literatura brasileira. Com curadoria do jornalista e ensaísta Manuel da Costa Pinto e participação do grupo teatral Bendita Trupe, a série é formada por quatro programas -- Romantismo, Modernismo, Concretismo e Realismo Urbano. Gravado em fevereiro de 2004, no Itaú Cultural, em São Paulo/SP.

Fontes de pesquisa 8

Abrir módulo
  • AMORA, Antonio Soares. A literatura brasileira: o romantismo. 2. ed. São Paulo: Cultrix, 1967.
  • BARBOSA, Francisco de Assis. Prefácio. In: ALENCAR, José de. Ao correr da pena. São Paulo: Melhoramentos, 1956.
  • BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 2. ed. São Paulo: Cultrix, 1974. 571 p.
  • BROCA, Brito. Românticos, pré-românticos, ultra-românticos: vida literária e romantismo brasileiro. São Paulo: Polis; Brasília: INL, 1979.
  • CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. 4. ed. São Paulo: Martins, 1971. 2 v.
  • CANDIDO, Antonio; CASTELLO, José Aderaldo. Presença da literatura brasileira. I - das origens ao realismo. ed. ver. e ampl. São Paulo: Difel, 1985.
  • COUTINHO, Afrânio (org). A literatura no brasil: era romântica. 3. ed. Rio de Janeiro: J. Olympio; Niterói: UFF, 1986.
  • Romanticism. In: Encyclopaedia Britannica. Acesso em: 3 de jun. 2002.

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: