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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

João Farkas

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 06.03.2024
27.06.1955 Brasil / São Paulo / São Paulo
João Paulo Farkas (São Paulo, São Paulo, 1955). Fotógrafo, diretor. Possui longa trajetória na fotografia, com ênfase na fotografia documental. Em suas imagens, explora a interferência humana na natureza em localidades-chave no Brasil, por meio de retratos e paisagens.

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João Paulo Farkas (São Paulo, São Paulo, 1955). Fotógrafo, diretor. Possui longa trajetória na fotografia, com ênfase na fotografia documental. Em suas imagens, explora a interferência humana na natureza em localidades-chave no Brasil, por meio de retratos e paisagens.

Filho do fotógrafo Thomaz Farkas (1924-2011) e da psicanalista e professora Melanie Farkas (1929-2021), nasce em uma das famílias mais importantes para a história da fotografia no país. Seu avô, Desidério Farkas, empresário húngaro, inaugurou no Brasil a primeira loja da rede Fotoptica e seu pai é considerado um dos grandes expoentes da fotografia moderna brasileira.

Forma-se em filosofia, na Universidade de São Paulo (USP). Em 1980, muda-se para Nova York, onde cursa fotografia no International Center of Photography e na School of Visual Arts. Inicia sua trajetória profissional como assistente de fotografia na rede Globo em Nova York. Atua como correspondente fotográfico e editor para as revistas Veja e Isto É, entre 1981 e 1985.

Seu trabalho se caracteriza por longas relações com regiões afastadas de grandes centros urbanos, produzindo uma amostra visual que, ao mesmo tempo, cumpre uma função estética e documental. Em 1977, começa a demonstrar a predileção por retratos, que se repete ao longo de sua carreira, quando começa a registrar a vila baiana de Trancoso, para onde viaja com frequência até 1993. Em 2016, lança o livro Trancoso, composto de parte das imagens dessas viagens, expostas no mesmo ano na Galeria Paulo Darzé, em São Paulo. As fotos apresentam composições coloridas que evidenciam as formas da paisagem, da população local e de sua cultura. 

O mesmo acontece com suas viagens à região amazônica, realizadas entre os anos 1984 e 1993 a convite de garimpeiros, interessados em mostrar sua realidade. Registra cerca de 12 mil imagens que exibem a diversidade do processo de ocupação do local, os efeitos da exploração do garimpo, o intenso fluxo de migrantes, o aumento da prostituição e as mudanças na paisagem e na cultura dos povos indígenas. Em 2015, publica o livro Amazônia ocupada e realiza uma exposição homônima no Sesc Bom Retiro, reunindo retratos realizados durante quase 10 de viagens em composições que mostram a relação de pessoas da região com o local em que habitam.

Em 2018, lança o livro Caretas de Maragojipe. Durante cinco anos, Farkas registra o carnaval de Maragojipe, no sul da Bahia, e se dedica a fotografar a tradição dos Caretas, em que moradores se fantasiam como personagens coloridos, com os rostos cobertos. As fotografias seguem um padrão vertical de composição, próprio do retrato. Os personagens, sem identidade, são registrados contra uma parede azul clara, vestidos com suas máscaras e fantasias, com poses ora enigmáticas, ora descontraídas, reforçando a marca registrada da composição imprevisível do autor. De acordo com o curador Agnaldo Farias (1955), em ensaio sobre o livro de Farkas, durante os dias de carnaval, os maragojipanos, tal como os habitantes de Veneza, mas com um passado que não é o desta cidade milenar, reinventam-se, tornam-se seres estranhos, alforriados do cotidiano limitado, com um pé no chão e outro no sonho. 

Fruto de um período de cinco anos e diversas viagens à região pantaneira, realizadas entre 2014 e 2019, o livro Pantanal (2020) registra as especificidades e mudanças decorrentes da intervenção humana no bioma. Por meio de fotografias de paisagem, fauna e retratos de seus moradores, guiadas por uma construção muitas vezes geométrica, mescla diversos códigos da fotojornalismo. Com o pior nível de queimadas em duas décadas, o período de trabalho do livro coincide com a acelerada mudança da região, tanto no modo de vida tradicional, quanto na sua paisagem.

Apesar do cenário desastroso, Farkas opta por registros que exploram o deslumbre da natureza e imagens que exibem possibilidades de composição a partir da paisagem. Para ele, o procedimento permite a aproximação do público para conhecer o bioma e, então, se conscientizar sobre sua importância. No livro, Farkas enfatiza “imagens ainda não feitas”, que fogem do imaginário visual frequentemente associado ao local. O fotógrafo, que possui uma relação duradoura com a região, é um dos responsáveis pelo projeto Documenta Pantanal, organização que atua na documentação e estímulo ao diálogo com órgãos e instituições ligados a questões de sustentabilidade1.

Outra abordagem da região pantaneira ocorre também em 2019, quando Farkas co-dirige, em parceria com o cineasta Jorge Bodanzky (1942), o documentário Ruivaldo, o homem que salvou a Terra, dedicado à vida do fazendeiro Ruivaldo Nery de Andrade (1962), pantaneiro engajado na defesa do bioma. Em 2020, dedica-se principalmente ao cinema, dirigindo o documentário São Paulo, uma cidade segregada (2020). O filme registra a dinâmica defasada do deslocamento nas diferentes regiões da cidade a partir do depoimento de moradores e especialistas em moradia e urbanização.

No conjunto de sua obra, Farkas prioriza a fotografia como uma linguagem universal e se posiciona como instrumento do que é fotografado, afastando-se da figura de autor. De acordo com o artista, sua fotografia deve ser um veículo entre a pessoa retratada e o mundo. O mesmo dispositivo é utilizado por ele na mediação entre fotógrafo e natureza, resultando em composições que retratam as florestas e outros biomas como protagonistas da cena, ora enaltecendo a fauna e a flora, ora denunciando as intervenções cataclísmicas do ser humano sobre o planeta.

Nota

1. RANIERI, Gustavo. Pantanal ardendo: fotógrafo João Farkas fala sobre as queimadas na região. Sesc São Paulo, 25 set. 2020. Editorial. Disponível em: https://m.sescsp.org.br/pantanal-ardendo-fotografo-joao-farkas-fala-sobre-as-queimadas-na-regiao/. Acesso em: 3 nov. 2021.

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