Piza
![La Chute du Rouge, 1977 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/013302044999.jpg)
La Chute du Rouge, 1977
Piza
Gravura em metal, goiva, c.i.e.
27,00 cm x 14,50 cm
Texto
Arthur Luiz Piza (São Paulo, São Paulo, 1928 – Paris, França, 2017). Gravador, desenhista, escultor. Apesar de ser pouco conhecido pelo público, é reconhecido pela crítica como um dos maiores artistas na história da gravura. Tratado como o mestre das gravuras construtivistas em relevo, tem uma vasta produção que reflete sua constante pesquisa por novos materiais e os modos de empregá-los. Explorando o contraste entre linhas fluidas e formas geométricas, equilibra o racionalismo do construtivismo e a liberdade do informalismo, vertentes da arte abstrata, destacando-se como um dos mais importantes gravuristas do mundo.
Inicia a formação artística em 1943, estudando pintura e afresco com Antonio Gomide (1895-1967). Após participar da 1ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1951, viaja para a Europa e passa a residir em Paris. Lá estuda com o alemão Johnny Friedlaender (1912-1992), importante artista do século XX, e se aperfeiçoa nas técnicas de gravura em metal, água-forte, talho-doce, água-tinta e ponta-seca. Suas primeiras gravuras dialogam com as de Friedlaender pelo grafismo irregular e pelas nuances surrealistas.
Gradualmente, suas obras apresentam maior preocupação construtiva, com a geometrização dos elementos. Introduz na gravura uma nova forma de trabalho: passa a esculpir, na placa de metal, formas geométricas – arredondadas, retangulares ou triangulares – com a utilização de buril, diferentes goivas, prego e martelo. As gravuras geradas exploram a transição entre as áreas de diferentes profundidades e também o jogo criado com a luz. Segundo Alan Silva, diretor do Museu do Senado brasileiro, o artista “se utiliza, com maestria, de um jogo de luzes para dar a ideia de espaço e dimensão às peças, que parecem saltar da tela e ganhar vida própria”1.
Piza percebe então que é possível traduzir esse procedimento para a pintura. Em 1959, passa a fazer relevos, picotando algumas aquarelas feitas à época e aproveitando os pequenos fragmentos para realizar colagens sobre tela, papel, cobre e madeira, à maneira de mosaicos, que, por vezes, são recobertos com camadas de tinta. Segundo o artista, o material é organizado com base na procura do ritmo próprio de cada composição, independentemente das outras já prontas.
Nesse processo, como aponta a pesquisadora Stella Teixeira de Barros, a cor se insinua cada vez mais na produção do artista, assim como o ritmo das partículas em relevo, e as formas tendem a se aglomerar em tramas mais saturadas. Para o crítico Paulo Sérgio Duarte (1946), há nesses relevos uma vontade de ordem que não se concretiza. Embora contenham algo que remete à seriação e à repetição, as pequenas partículas, sutilmente irregulares, combinam-se e convivem com liberdade de direções, às vezes quase caóticas. Ainda em 1959, é contemplado com o grande prêmio nacional de gravura na 5ª Bienal Internacional de São Paulo.
Na série Capachos (1979), a tendência do artista em ocupar o espaço se torna mais visível. Os trabalhos são compostos de triângulos acoplados em alfinetes de metal sobre pedaços de sisal. Como aponta o crítico Tiago Mesquita (1978), nessas obras, o que antes sugeria volume e fluxo se transforma em tridimensionalidade.
O artista realiza a série Cortes e recortes (1984-1985), com base em incisões profundas em folhas de papel. Em alguns desses trabalhos, a cor amplia a percepção dos volumes. Em outros, como aponta Barros, a preservação do branco do papel faz com que a obra atinja o ápice da luminosidade modulada e cambiante. É possível ainda perceber na matéria as marcas do gesto do artista, similar ao que ocorre na gravura.
Em 1986, cria um mural tridimensional para o Centro Cultural da França, em Damasco, na Síria, com uma poética próxima àquela apresentada nas obras da série Capachos. Nos anos 2000, inicia-se a fase dos aramados. Nessas obras, articula redes de arames, cuja trama produz volume ao mesmo tempo que revela o fundo da tela, tal como ocorre com a pintura em um quadro.
Segundo o colecionador de arte e galerista Murilo Castro, essa é uma fase importante da carreira do artista, pois ele finalmente chega ao que busca ao longo de suas pesquisas: a forma ideal de espacializar a gravura. A partir desses trabalhos, chega aos elementos livres. Nessas obras, dispõe, em uma caixa similar a um quadro, peças dos mesmos materiais dos aramados, mas sem fixá-las. Assim, os elementos se organizam no quadro a partir do movimento da caixa feito por quem a manipula, rearranjando-se em diferentes configurações espaciais. Atinge, então, o ápice do contraste que marca sua produção: liberdade versus ordem.
O cuidado com que Arthur Luiz Piza concilia ordem e liberdade, assim como a constante exploração de novos materiais e meios para produzir suas obras, faz dele um dos grandes nomes da gravura no cenário internacional e também da arte abstrata no Brasil.
Nota
1.ARTHUR Piza: mestre modernista das gravuras construtivistas. Senado Federal. Brasília, 30 nov. 2022. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/institucional/museu/bloco-noticias-destaques/arthur-piza-mestre-modernista-das-gravuras-construtivistas. Acesso em: 28 jul. 2023.
Obras 52
Anamorphose
Arrengement
Avenir Certain
Avenir Probable
Avenir Probable
Exposições 493
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20/10/1951 - 23/12/1951
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13/12/1954 - 26/2/1953
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2/7/1955 - 12/10/1955
Fontes de pesquisa 19
- ARTE e artistas plásticos no Brasil 2000. São Paulo: Meta, 2000.
- Arte de Arthur Luiz Piza ganha retrospectiva em SP. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 22 ago. 2002. Disponível em: https://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,arte-de-arthur-luiz-piza-ganha-retrospectiva-em-sp,20020822p7525. Acesso em: 30 mar. 2021.
- BARROS, Stella Teixeira de. Universo construtivo/inverso barroco. In: PIZA. Arthur Luiz Piza. Tradução Maria Toledo, Maria do Carmo Branco Ribeiro. São Paulo: MAM, 1994. 43 p., il. p&b. color. p. 9-19.
- BIENAL BRASIL SÉCULO XX, 1994, São Paulo, SP. Bienal Brasil Século XX: catálogo. Curadoria Nelson Aguilar, José Roberto Teixeira Leite, Annateresa Fabris, Tadeu Chiarelli, Maria Alice Milliet, Walter Zanini, Cacilda Teixeira da Costa, Agnaldo Farias. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 1994. Disponível em: https://issuu.com/bienal/docs/name049464.
- DUARTE, Paulo Sérgio. A intimidade absurda. In: PIZA. Arthur Luiz Piza. São Paulo: Gabinete de Arte Raquel Arnaud, 2002. s.p.
- GRAVURA moderna brasileira: acervo Museu Nacional de Belas Artes. Curadoria Rubem Grilo. Rio de Janeiro: Museu Nacional de Belas Artes, 1999.
- GRAVURA: arte brasileira do século XX. São Paulo: Itaú Cultural: Cosac & Naify, 2000.
- PERFIL da Coleção Itaú. Curadoria Stella Teixeira de Barros. São Paulo: Itaú Cultural, 1998.
- PIZA. 1980 - 1988, 50 nouvelles gravures de Piza. São Paulo: Gabinete de Arte Raquel Arnaud, 1988. , il. p&b. color.
- PIZA. Arthur Luiz Piza. Gabinete de Arte. São Paulo: Gabinete de Arte Raquel Arnaud, 1986. , il. p&b color.
- PIZA. Arthur Luiz Piza. Texto Christine Frérot, Michel Nuridsany. São Paulo: Cosac & Naify, 2003. 376 p., 169 il.
- PIZA. Arthur Luiz Piza. Tradução Vera Adami. São Paulo: Gabinete de Arte Raquel Arnaud, 1983. , il. p&b.
- PIZA. Arthur Luiz Piza: gravuras e relevos. Belo Horizonte: Gesto Gráfico Galeria e Escola de Arte, 1989. folha dobrada, il. color.
- PIZA. Arthur Luiz Piza: relevos - 1958/2002. Curadoria Paulo Sérgio Duarte; versão em inglês Izabel Murat Burbridge. São Paulo: Pinacoteca do Estado, 2002.
- PIZA. Espace en Relief: oeuvres récentes de Piza. Paris: Galerie Bellechasse, 1982. , il. p.b.
- PIZA. Gravures à la gouge: 1989-1996. Paris: Editions Jacqueline de Champvallins, s.d. s.p., il. color.
- PIZA. Relevos. Texto Bernard Gheerbrant, Jayme Maurício, Roberto Pontual. São Paulo: Galeria Arte Global, 1977. 2 fs. dobradas, il. p.b. color.
- PIZA. Trabalhos recentes: aquarelas, desenhos e colagens. Texto Antonio Fernando De Franceschi. São Paulo: Instituto Moreira Salles, s.d. 56 p., il. p.b. color.
- POÉTICA da resistência: aspectos da gravura brasileira. Curadoria Armando Mattos, Denise Mattar, Marcus de Lontra Costa. Rio de Janeiro: MAM, 1994.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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PIZA.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa9617/piza. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7