Benjamin Seroussi
Texto
Benjamin Seroussi (Paris, França, 1980). Curador, editor e gestor cultural. Importante colaborador do processo de revitalização da Casa do Povo (SP) a partir de novas ferramentas de gestão, com abordagem mais democrática da cultura, a fim de fortalecer o engajamento da comunidade local com o espaço.
Em 2001, gradua-se em Economia na Universidade Paris 1 Panthéon-Sorbonne. Em 2004, conclui o mestrado em Sociologia na École Normale Supérieure e, em 2006, o mestrado em Gestão Cultural e de Mídia na Sciences Po, ambas na França. Realiza estágios em produtoras de cinema e, em 2006, participa da organização do Festival de Cinema Brasileiro em Paris e se dedica à promoção de filmes franceses no mercado brasileiro. Essa experiência garante sua escolha como adido cultural do Ministério de Assuntos Estrangeiro francês. Entre 2008 e 2009, durante o Ano da França no Brasil, atua como produtor executivo do Panorama do Cinema Francês, realizado pela Unifrance, associação francesa de apoio aos profissionais do cinema. Ainda nesse período, produz e edita em parceria com o artista francês Chris Marker (1921-2012) a edição especial franco-brasileira da publicação Pop’lab, da Poptronics, lançada em 2009.
Entre 2009 e 2012, participa como diretor de programação do Centro da Cultura Judaica (CCJ-SP)1 e organiza a Mostra Audiovisual Israelense. O evento, que seleciona e exibe gratuitamente documentários e filmes de diversos gêneros oriundos da produção recente de Israel, tem como objetivo principal difundir uma imagem multifacetada do país, valorizando sua diversidade de religiões, etnias e culturas. Também é o editor entre 2010 e 2012 da Revista 18, publicação da CCJ na qual colabora com o escritor Michel Laub (1973) e o artista gráfico e editor Joca Reiners Terron (1968). Na publicação, incentivam a reflexão sobre temas constitutivos da identidade judaica e seus aspectos contemporâneos.
Em 2013, Seroussi passa a integrar a equipe da 31ª Bienal de São Paulo (2013-14) como curador associado. Liderado pelo curador escocês Charles Esche (1962) e sob o mote “Como falar de coisas que não existem”, são exibidos 81 projetos sobre conflitos do cotidiano, como misoginia, intolerância religiosa e violência policial.
A reforma de um conjunto arquitetônico na região central de São Paulo dá início a uma série de discussões sobre o direito à moradia e suscita a instalação do projeto experimental “Vila Itororó Canteiro Aberto”, do qual Seroussi é curador entre 2015 e 2018. A Vila, um empreendimento residencial privado do início do século XX e tombado em 2002, é nomeada área de utilidade pública e desapropriada. O projeto de restauro proposto pelo Instituto Pedra inclui atividades de educação patrimonial e ativação cultural que se desdobram na intervenção Canteiro Aberto, cujo intuito é refletir sobre as funções de um centro cultural e quais atividades devem ser oferecidas por um patrimônio público.
A descentralização é um importante aspecto da proposta curatorial do Canteiro Aberto. Conduzido pela ideia dos usos espontâneos, o público é incentivado a realizar experimentações de forma livre. Incentivando a presença da população local e o engajamento de ativistas e moradores, são desenvolvidos programas como um cineclube e cursos de ioga, circo e culinária com o objetivo de aumentar a participação no processo de restauro e a discussão sobre os usos futuros do espaço. Durante 2017 e 2018, é estabelecida uma parceria com o Instituto Goethe para promoção da residência artística “Goethe na Vila”, que contempla 18 projetos sobre políticas urbanas e dinâmicas de ocupação da cidade. São produzidos audioguias, documentários, livros, um portal online para arquivar a documentação do processo e é instalada uma clínica pública de psicanálise.
Entre 2017 e 2020, Seroussi assume a coordenação de “Coincidência – Intercâmbios culturais entre Suíça e América do Sul”, programa da fundação suíça Pro Helvetica com o objetivo de fomentar o intercâmbio cultural entre os profissionais das artes.
No início dos anos 2010, conhece a Casa do Povo, associação cultural judaica no bairro paulista do Bom Retiro. Erguida em 1953 como lugar de reflexão antifascista, o imóvel se encontra em grave estado de deterioração quando Seroussi se une à administração em 2012. É nomeado diretor executivo e revoluciona a gestão a partir da implementação de princípios sociocráticos, sobretudo de auto-organização, de inteligência coletiva e de consentimento que valorizam a vocação histórica da entidade no campo da experimentação de vanguarda.
Entende a instituição como “monumento vivo”, o que significa que a gestão atua no contexto contemporâneo reavivando seus princípios judaicos, progressistas e humanistas. Elege como eixos de trabalho a preservação da memória, o incentivo a práticas coletivas e o diálogo com o entorno, especialmente as populações imigrantes de origens boliviana e coreana.
O processo passa pela democratização do acesso à casa a partir da abertura a diversos coletivos e associações culturais, bem como da descolonização do próprio conceito de cultura, com promoção de atividades como o ateliê de costura e a academia de boxe. O compromisso da governança com a alteridade radical possibilita o encontro de culturas, gerações e povos diversos.
A trajetória profissional de Benjamin Seroussi e o êxito das experiências analisadas demonstram a viabilidade da implementação de ferramentas inovadoras e radicalmente comprometidas com a promoção da diversidade e da participação nos espaços culturais, aspectos extremamente necessários ao futuro das instituições.
Notas
1. Posteriormente, Unibes Cultural, localizada no bairro paulistano de Pinheiros.
Exposições 1
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1/9/2014 - 7/12/2014
Fontes de pesquisa 8
- FUNDAÇÃO BIENAL DE SÃO PAULO. 31ª Bienal de São Paulo: Como (…) coisas que não existem. Fundação Bienal de São Paulo, São Paulo, 2014. Disponível em: http://www.31bienal.org.br/pt/mediation/2046. Acesso em: 14 de maio de 2023.
- GARIANI, Lucas Pinheiro. Entre patrimônio e cidade: conflitos e mediações na produção do Canteiro Aberto Vila Itororó. Disponível em: https://www.easyplanners.net/alas2017/opc/tl/8257_lucas_gariani.pdf. Acesso em: 24 maio 2022.
- LIVES BETH-EL: cultura judaica na Casa do Povo, c/ Benjamin Seroussi, dir. executivo da Casa do Povo. São Paulo: Congregação Beth-El SP, 25 maio 2020. (50min). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=o72nBC-NqkQ&ab_channel=Congrega%C3%A7%C3%A3oBeth-ElSP. Acesso em: 24 maio 2022.
- PODCAST BDMG CULTURAL: Vizinhanças e diferenças. [Locução de] Tatiana Carvalho Costa, [entrevistado] Benjamin Seroussi. Lourdes: BDMG Cultural, 9 mar. 2022. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=JPj3tTnVirk&ab_channel=BDMGCultural. Acesso em: 24 maio 2022.
- PODCAST DO IMPACTO #14: Benjamin Seroussi: a construção de um espaço cultural colaborativo. [Locução de] Rodrigo Cavalcante, [entrevistado] Benjamin Seroussi. [S.l.]: Phomenta, 13 abr. 2021. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=gDYtpiPZQ0Y&ab_channel=Phomenta. Acesso em: 24 maio 2022.
- SEROUSSI, Benjamin. Vila Itororó canteiro permanente. ArteBrasileiros, São Paulo, 2 abr. 2020. Disponível em: https://artebrasileiros.com.br/arte/nas-bordas/vila-itororo-canteiro-permanente/. Acesso em: 24 maio 2022.
- TALKS SP-Arte 2019 – A instituição de arte na contemporaneidade. São Paulo: SP-Arte, 23 abr. 2019. (65min). Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=SK7ytcQ3kq8. Acesso em: 24 maio 2022.
- VICINI, Lorena. "Southern" perspectives about cultural management: some thoughts. Zeitschrift für Kulturmanagement, [s.l.], v. 5, n. 1, p. 75-90, 2019. Disponível em: https://www.degruyter.com/document/doi/10.14361/zkmm-2019-0105/html. Acesso em: 24 maio 2022.
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BENJAMIN Seroussi.
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Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7