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Enciclopédia Itaú Cultural
Literatura

Eliane Potiguara

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 26.05.2023
1950 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Reprodução fotográfica Eduardo Fujise e Gideoni Junior/Itaú Cultural

Eliane Potiguara, 2016

Eliane Potiguara (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1950). Escritora, professora, intelectual, ativista, empreendedora social. Nome fundamental para o debate sobre as questões indígenas no país, inscreve sua trajetória de luta em defesa dos povos originários ao longo de mais de quatro décadas de atuação por meio da publicação de cartilhas e livros...

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Eliane Potiguara (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1950). Escritora, professora, intelectual, ativista, empreendedora social. Nome fundamental para o debate sobre as questões indígenas no país, inscreve sua trajetória de luta em defesa dos povos originários ao longo de mais de quatro décadas de atuação por meio da publicação de cartilhas e livros, bem como pela participação em organizações civis e em instâncias políticas voltadas aos direitos humanos no Brasil e no mundo.

Pertencente ao povo indígena potiguara, cujo território tradicional se estende por uma grande faixa do litoral da região Nordeste, entre os estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, nasce na cidade do Rio de Janeiro, depois da migração forçada de sua família, vitimada pela violência dos homens brancos contra a população indígena do estado da Paraíba. Na capital carioca, começa a exercitar a escrita ainda na infância, redigindo cartas a pedido de sua avó Maria de Lourdes, para que a família mantivessem os vínculos com os parentes paraibanos e não se afastasse das tradições de seu povo. A avó, referência de luta e ancestralidade, é figura central na produção literária da escritora e na aguerrida atuação que ela encampa pelos direitos, sobretudo, das mulheres indígenas. É a partir da história de dispersão mandatória de sua linhagem materna, ocorrida no começo do século XX e perpetuada em tantas vidas de outras mulheres indígenas, que se firmam o compromisso e a resistência da trajetória pessoal, profissional e política da ativista. Adulta, conclui a graduação e a licenciatura em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) no ano de 1979 e se torna professora da rede municipal de educação, ofício que exerce por quase vinte anos.

Precursora do que hoje é definida por estudiosos e pesquisadores como "literatura indígena", inicia a divulgação de seus textos no final da década de 1970, utilizando-se da tecnologia disponível à época para produções independentes – os mimeógrafos –, reproduzindo artesanalmente o que ela mesma define como “poemas-pôsteres”. Nesse período, tem a oportunidade de trabalhar em parceria com o fotógrafo Januário Garcia (1943-2021) na criação do poema-pôster “Ato de amor entre os povos”, de 1978. Em 1989, publica o seu primeiro livro-cartilha A terra é a mãe do índio, tornando-se a primeira escritora indígena a publicar no Brasil. A esse trabalho de estreia, que tem grande repercussão, seguem-se mais seis obras lançadas, entre livros de poemas, ensaios, literatura infantojuvenil e obras paradidáticas.

Definido pelo líder indígena Ailton Krenak (1953) como o “livro totem"1, Metade cara, metade máscara (2004) é uma obra que sintetiza, por meio do lirismo inerente à ancestralidade e da escrita de resistência, o projeto de engajamento literário da autora. Segundo a análise da pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Julie Dorrico, “a identidade literária de Eliane denota e conota ancestralidade e resistência política”. Ainda de acordo com a pesquisadora, ao criar o casal Jurupiranga e Cunhataí, personagens complexos que representam não apenas as atrocidades sofridas pelas populações indígenas com o processo da colonização, mas também a resistência desses povos em manter os seus territórios e a sua humanidade, a escritora consegue fazer da história de sua família e de seu povo uma narrativa universal e atemporal. Como autora de literatura infantojuvenil, publica obras que tratam da importância das heranças e costumes indígenas para a cultura brasileira e para a preservação dos saberes tradicionais. É o caso de O pássaro encantado (2014), que conta a história de como a Grande Avó ensina às crianças de seu povo sobre a beleza das memórias e o respeito aos antepassados.  

Para além do trabalho como escritora, exerce a profissão de educadora não só em escolas públicas do Rio de Janeiro, mas também em comunidades indígenas de outras cidades do estado. Utiliza-se do método criado pelo educador Paulo Freire (1921-1997) para desenvolver a cartilha de alfabetização indígena Akajutibiró: terra do índio potiguara, publicada em 1994 e distribuída para todo o país com apoio da

Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Na década de 1980, implicada como voz crucial no debate sobre as questões e os desafios impostos às mulheres indígenas, funda o Grupo Mulher-Educação Indígena (Grumin). Essa organização civil se dedica ao fortalecimento da identidade feminina indígena, sobretudo no que se refere à luta por direitos, como acesso à saúde, educação, trabalho, direitos reprodutivos e preservação do meio ambiente. Por sua atuação no Grumin, é designada pelo Conselho das Mulheres do Brasil como uma das “Dez mulheres do ano de 1988”.  Nas décadas de 1990 e 2000, integra comitês e conselhos de instituições representativas de sua luta, como a Fundação Cultural Palmares, a Organização das Nações Unidas (ONU) e a ONG Ashoka. Tem participação importante em eventos e tratados importantes para o debate sobre as questões raciais em todo o mundo, como a Conferência de Durban, realizada na África do Sul em 2001.2 Em 2011, recebe da ONU o título de Embaixadora Universal da Paz em reconhecimento ao seu percurso como promotora da paz entre os povos e defensora dos direitos das populações indígenas.

Seu ativismo diligente, sempre conectado à ancestralidade do povo potiguara e traduzido em obras literárias que buscam transmitir e perpetuar saberes tradicionais, faz de Eliane Potiguara uma figura basilar nos estudos, pesquisas e aprofundamentos acerca da contribuição indígena, em especial das mulheres originárias, para a sociedade brasileira.

Notas

1. Krenak considera esta obra um marco sólido, uma representação simbólica e emblemática do trabalho de escrita de Eliane Potiguara. Dessa maneira, a denomina “obra totem”, referindo-a como a mais importante e consistente produção literária da autora, tanto pelo tempo que levou para ser maturada e escrita, quanto pela importância como autoria feminina indígena no Brasil.

2. 3ª Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e as Formas Conexas de Intolerância, ocorrida em agosto de 2001, em Durban, na África do Sul. O evento teve o objetivo de reconhecer a contribuição de povos originários, discutir o tema das discriminações sofridas pelos povos racializados em todo o mundo e propor políticas públicas para o enfrentamento à intolerância. 

Obras 6

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Eventos 1

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Exposições 1

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Mídias (1)

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Eliane Potiguara – culturas indígenas (2016)
A escritora, ativista e professora Eliane Potiguara conta o que é ser Potiguara. Parte do processo da colonização do Brasil foi a proibição de que os nativos falassem a própria língua, e com isso muitas delas morreram. Esse é um dos temas que mais atraem a autora, que colabora em trabalhos de vivificação do tupi antigo. Eliane destaca também a dança, elemento sagrado para seu povo, e como ela reforça a identidade indígena.

Depoimento gravado durante o evento Mekukradjá – Círculo de Saberes de Escritores e Realizadores Indígenas, em setembro de 2016, em São Paulo/SP.

Créditos
Presidente: Milú Villela
Diretor-superintendente: Eduardo Saron
Superintendente administrativo: Sérgio Miyazaki
Gerente do Núcleo de Comunicação e Relacionamento: Ana de Fátima Sousa
Coordenadores do Núcleo de Comunicação e Relacionamento: Carlos Costa e Jader Rosa
Entrevista: Thiago Rosenberg
Gerente do Núcleo de Audiovisual e Literatura: Claudiney Ferreira
Coordenadora de conteúdo audiovisual: Kety Fernandes Nassar
Produção audiovisual: Ana Paula Fiorotto e Caroline Rodrigues
Captação: Bela Baderna
Edição: Anna Lucchesi (terceirizada)
Roteiro: Rosani Madeira (terceirizada)
Músicas: “Krikok Tondon” e “Nak Inhauit”, do CD GRI Kandhan – Músicas do Povo Krenak

Fontes de pesquisa 10

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