Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Amélia Sampaio

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 05.09.2023
1973 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Amélia Sampaio Possidonio (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1973). Artista visual, performer, professora. A visceralidade é um aspecto marcante nas performances da artista, em que seu próprio corpo é um dos suportes utilizados para encarnar a memória da dor coletiva de sujeitos marginalizados. 

Texto

Abrir módulo

Amélia Sampaio Possidonio (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1973). Artista visual, performer, professora. A visceralidade é um aspecto marcante nas performances da artista, em que seu próprio corpo é um dos suportes utilizados para encarnar a memória da dor coletiva de sujeitos marginalizados. 

A performance é a linguagem que Sampaio explora com maior interesse desde o início de sua carreira, quando ingressa no curso de licenciatura em educação artística com habilitação em história da arte, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Forma-se em 2001, já trabalhando em diferentes projetos que têm o corpo como meio de expressão. Ao lado do poeta Alexandre Sá e dos artistas Tato Teixeira e Leila Lessa forma o coletivo Crioulos de Criação, que produz uma série de experimentos intitulada Vai escrever mais poesia (2002). Na ocasião, a artista apresenta a performance Momento Amélia, criando uma personagem que discursa sobre temas de interesse social, instigando o público a expressar suas inquietações. 

Colabora com o projeto de dança contemporânea Subversão, dirigido pelo bailarino Aldair Ventura e, a partir de 2003, com o coletivo bloco bienal Vade Retro Abacaxi. Frequenta o Espaço Agora/Capacete e o Espaço de Autonomia Experimental Rés do Chão, nos quais cria objetos, performances, instalações, videoarte e happenings1, explorando suportes e lugares não convencionais, como na Intervenção urbana dentro do trem da Central do Brasil à Japeri (2003), realizada com Alexandre Sá.

Torna-se professora de artes na rede estadual de ensino do Rio de Janeiro, em 2002, no sistema prisional, em 2008, e na rede municipal, em 2011, aprofundando sua experiência sobre questões sociais das periferias cariocas e alimentando sua produção poética.

Com a performance Lignée (2005), a artista adentra mais profundamente questões existenciais vivenciadas sobretudo por pessoas negras. Nua, sentada sobre um tecido branco, a artista costura uma máscara de carne. Envolve-se no tecido, veste a máscara e caminha pelos campi da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Uerj. Sua descendência (lignée, em francês) é ocultada pela carne, invisibilidade análoga ao apagamento das origens africanas no Brasil.

A experiência de invisibilização persiste em Ici (2006), performance realizada na exposição Où Sommes-Nous? na École Supérieure des Beaux Arts de Montpellier, na França. Utilizando máscara de proteção e absorventes internos nos ouvidos, a artista costura a abertura de um saco plástico, enclausurando-se em seu interior. Depois de bordá-lo com a palavra “sujeito”, caminha com dificuldade pelo espaço expositivo até quase o completo esgotamento do ar dentro da bolha. O isolamento necessário para se caracterizar como sujeito é obtido por meio de um esforço físico desumano.

Entre 2008 e 2016, interrompe sua produção de performance, em meio ao volume de trabalho como arte-educadora. Retorna com Proporção variável (2016), performance que dedica a sua avó e mãe de santo, falecida naquele ano. Lembrando um princípio do candomblé, o de alimentar a todos os participantes de seus rituais, Amélia prepara uma grande massa de pão. O trabalho, cercado de isolamento, aos poucos, vai instigando a participação do público. 

Em 2018, apresenta a instalação Cantos, composta por cartas para a sociedade produzidas por seus alunos detentos, fechadas com selos de cigarro. Neste ano, se afasta da docência no sistema prisional e se volta para a pesquisa artística e acadêmica. Ingressa no mestrado em artes pelo Programa de Pós Graduação do Instituto de Artes da Uerj e realiza, na França, parte da pesquisa intitulada Um olhar sobre a memória da dor (2021), estudando artistas que também exploram a dor, sobretudo por meio de temas e materiais associados ao universo feminino.

Em Importuno (2019), a artista se veste de peruca e roupas brancas, cobre toda a pele com esparadrapo, impedindo a visão sobre seu corpo e limitando seus sentidos, enquanto caminha precariamente pelo espaço expositivo até se retirar dele. Partindo da invisibilidade, Amélia passa a performar a reparação das feridas que ela causa. Neste sentido, realiza Íntimo e plural (2019), na qual, vestida de branco, caminha lentamente em direção à Galeria Transparente, no Rio de Janeiro, carregando nas mãos um coração bovino. Senta-se no chão e com o coração no colo, seca-o com uma toalha e o cobre completamente com esparadrapo, como numa tentativa de recuperação.

Realiza a primeira exposição individual, Ímpeto, em 2020, no Encontro dos Espaços Independentes, na ArtRio. Participa do festival Anima Mundi 2022, em Veneza, chamando a atenção para o caráter coletivo da luta pela liberdade com a performance Suppliques, onde, imobilizada por arames farpados, conta com a participação do público para se libertar.

Nas obras de Amélia Sampaio, a materialidade tem o papel de veículo para a experiência proposta pela artista, esta sim, núcleo de sua poética. Materiais não convencionais são utilizados para evocar memórias pessoais e coletivas, em meio a ritos de reparação das mesmas. Muitas de suas performances impõem um sofrimento não apenas simbólico, mas também físico ao próprio corpo da artista, gatilho para despertar no observador memórias de dores coletivas, muitas vezes reprimidas.

Notas
1. Happening é uma forma de expressão que envolve a participação do público, gerando certo grau de imprevisibilidade e apresentando críticas sociais.

Obras 21

Abrir módulo

Exposições 23

Abrir módulo

Exposições virtuais 7

Abrir módulo

Fontes de pesquisa 7

Abrir módulo

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: