Anna Costa e Silva
Texto
Anna Costa e Silva (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1988). Artista plástica, diretora. Desenvolve um trabalho que interconecta artes plásticas, cinema, teatro e performance, abordando questões relacionadas ao imaginário e às narrativas humanas.
Sua trajetória se inicia no cinema, durante a graduação na Universidade Gama Filho (UGF), no Rio de Janeiro, entre 2006 e 2009, onde conclui o curso sob a orientação do cineasta Ruy Guerra (1931) e do filósofo Jorge Vasconcellos (1957). Em 2009, dirige o curta-metragem Vozes, ao lado do cineasta Fabio Canneti (1984) e da designer Luiza Santoloni (1983), que recebe o prêmio de melhor filme experimental no Festival de Cinema da Amazônia, em 2009, e menção honrosa como filme experimental no 9th International Short Film Festival “In The Palace”, em 2010, na Bulgária. No mesmo ano, o filme é exibido no Festival de Cannes, na França. O curta-metragem tem como linha condutora entrevistas realizadas com pacientes de hospitais e clínicas psiquiátricas. Os trechos surgem ora enquanto áudio da gravação direta, ora como texto interpretado pelos atores, justapostos a cenas em que o elenco cria uma série de imagens abstratas e simbólicas, uma “trilha imagética”, que conduz o espectador a uma interpretação mais abrangente e menos estigmatizada da loucura. Vozes aborda temas relacionados à subjetividade e à imaginação que, mais tarde, vêm a constituir a centralidade da obra de Costa e Silva.
Ainda em 2009, continua a carreira no cinema e atua como assistente de direção em produções nacionais, com destaque para os filmes Não se pode viver sem amor (2010), do diretor e roteirista chileno Jorge Durán (1942), e A suprema felicidade (2010), do cineasta Arnaldo Jabor (1940-2022). Ingressa em 2011 no mestrado em artes visuais, orientada pelo artista multimídia belga Johan Grimonprez (1962), na School of Visual Arts, em Nova York, Estados Unidos. Nesse período, inicia seu primeiro projeto não direcionado para a sala de cinema. Intitulado Assíntotas, termo da geometria que designa o ponto em que dois elementos geométricos se aproximam sem se encontrar, o projeto se desdobra até 2014. Trata-se da filmagem de dois atores que interpretam artistas trancados em seus respectivos quartos e estabelecem uma relação por meio de projeções de vídeo. A instalação multimídia resultante é composta por três telas de grandes dimensões e objetos reais, conduzindo o espectador a uma imersão no universo das duas personagens em um processo que mistura documentário e ficção. Assíntotas foi a primeira exposição individual da artista, em 2014, na Caixa Cultural São Paulo, com curadoria de Franz Manata (1964).
A partir desse momento, dedica-se a obras que relacionam o cinema e a performance. Inicia em 2012 uma série de ações, tais como Encontro, em que a artista se dispõe ao contato com uma pessoa por vez em um espaço reservado e por tempo indefinido, e Práticas de estar com, em que cria experiências silenciosas e sensoriais pela cidade para duplas de pessoas que não se conhecem, seguindo partituras escritas.
Em 2015, inicia uma residência no espaço independente Phosphorus, em São Paulo, na qual realiza uma investigação sobre o estado de vulnerabilidade que antecede o sono. No projeto, intitulado Éter (2015-2018) e divulgado em redes sociais e espaços públicos, a artista se disponibiliza a passar a noite na casa de pessoas que queiram conversar com ela antes de entrar no sono profundo, utilizando um gravador para registrar a interação e as conversas, que não seguem uma lógica racional e revelam a fragilidade humana nesse estado de consciência. Além de São Paulo, a experiência também é realizada em Vilnius, Lituânia, em 2017.
Mais tarde, Éter constitui uma instalação composta de colchões em uma sala escura, na qual os visitantes ouvem as conversas gravadas. Em 2017, a instalação é apresentada no Centro Cultural da Justiça Federal, no Rio de Janeiro, no Contemporary Art Center, em Vilnius, e no Centro Cultural de São Paulo, em 2018.
A artista prossegue investigando sobre formas possíveis de encontros não previstos, estabelecendo como conceito primordial as ações baseadas em encontros sem finalidades determinadas e sem qualquer direcionamento. Em Ofereço companhia (2016-2017), a partir de chamada nas redes sociais e jornais, a artista se disponibiliza a acompanhar por 21 dias, 24 horas por dia, qualquer pessoa em qualquer atividade. A experiência se desdobra na exposição individual “Ofereço companhia”, na Galeria Superfície, em 2017, e na exposição coletiva “Ministério da Solidão”, na Oficina Cultural Oswald de Andrade, em 2021, ambas em São Paulo.
A obra Púrpura (2018), começa com um passeio de carro, onde cada espectador é deixado em um local e encontra uma performer. A ação é composta por uma série de encontros um para um, conduzidos por performers, sempre mulheres, que interagem com um espectador de cada vez. As narrativas das performers-condutoras são disparadoras dos encontros e o desenrolar das trocas é regido pelo acaso, pela surpresa e pela fragilidade em que performer e convidado são colocados. No ano seguinte, trabalha no projeto E os prédios iam ficando cada vez mais altos, e a gente não conseguia ver (2019), em que escuta sonhos relacionados à situação política do país desde as eleições de 2018 e cria as narrativas desses sonhos numa instalação em três dimensões. O projeto é exibido na exposição do Prêmio Marcantonio Vilaça, no Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Álvares Penteado (MAB-Faap), em 2019, do qual a artista é uma das finalistas.
Com a pandemia de Covid-19, em 2020, realiza o projeto Para alguém que está me ouvindo, um dispositivo de trocas de videocartas, como mensagens na garrafa, entre performers e pessoas que se inscrevem para participar, em uma troca de correspondências que envolve mais de 500 pessoas e se estende por quase dois anos. A adaptação da pesquisa para o ambiente virtual é complementar ao interesse que a artista nutre sobre as possibilidades da interação humana.
Do cinema ao museu, Anna Costa e Silva trilha um consistente percurso em torno da temática das relações humanas e das potencialidades que decorrem de encontros fortuitos. Trabalhando sobretudo com o dispositivo audiovisual, a artista mobiliza uma diversidade de técnicas de projeção e instalação para promover também um encontro entre o espectador e a obra exposta. Como resultado, suas obras são constituídas por fragmentos de encontros, resíduos e dobras de experiências que frequentemente borram a barreira entre vida e trabalho.
Exposições 5
-
30/7/2016 - 27/8/2016
-
20/9/2016 - 1/10/2016
-
16/12/2019 - 21/1/2018
-
14/3/2019 - 18/4/2019
-
13/9/2019 - 20/10/2019
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 4
- ANNA Costa e Silva. Galeria Superfície, 2021. Artistas. Disponível em: http://www.galeriasuperficie.com.br/artistas/anna-costa-e-silva/. Acesso em: 8 out. 2021.
- ANNA Costa e Silva. Internet Movie Database, 2015. Disponível em: https://www.imdb.com/name/nm3562636/. Acesso em: 8 out. 2021.
- ANNA Costa e Silva. Prêmio PIPA, [Rio de Janeiro], 2020. Disponível em: https://www.premiopipa.com/artistas/anna-costa-e-silva/. Acesso em: 8 out. 2021.
- ENTREVISTA com Anna Costa e Silva. [Entrevista concedida a] Ilê Sartuzi. São Paulo: Auroras, 2019. (31 min). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=igVIW3j35PI. Acesso em: 8 out. 2021.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
ANNA Costa e Silva.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa640667/anna-costa-e-silva. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7