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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Yhuri Cruz

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 15.02.2024
1991 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Foto de Alex Reis

Retrato de Yhuri Cruz, s.d

Yhuri Cruz da Silva (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1991). Artista visual, escritor. Sua obra aborda a subjetividade e o protagonismo negro, utilizando elementos da ficção e da memória coletiva. Apoiados em múltiplas linguagens, entre texto, escultura, instalações e teatro, os trabalhos constroem novos símbolos e narrativas afro-centradas.

Texto

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Yhuri Cruz da Silva (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1991). Artista visual, escritor. Sua obra aborda a subjetividade e o protagonismo negro, utilizando elementos da ficção e da memória coletiva. Apoiados em múltiplas linguagens, entre texto, escultura, instalações e teatro, os trabalhos constroem novos símbolos e narrativas afro-centradas.

Cresce em Olaria, bairro do subúrbio da cidade do Rio de Janeiro, em uma família de forte convivência espiritual. Desenvolve grande familiaridade com a literatura, afinidade que o leva a ingressar, em 2009, no curso de ciência política na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio). Mesmo se formando em uma área distinta, Cruz sempre teve o desejo de ser artista, o que o mobiliza a abordar teatro e política na sua monografia de conclusão do curso. Aprofunda a pesquisa sobre teatro e outras linguagens durante a pós-graduação em jornalismo cultural, em 2015, na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), além de participar de cursos em escolas livres de artes no Rio de Janeiro, como a Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV/Parque Lage), a Escola Sem Sítio e o Galpão Bela Maré.

O conceito de monumento surge como interesse, em especial pelo caráter atrelado à memória coletiva ao longo da história, e se torna ponto fundamental da obra do artista. Em trabalhos como Projeto para jardim de pedra (2017) e Memorial ao fantasma (2018), tanto elementos materiais quanto sociais são explorados, como o uso do mármore e os sentidos semânticos de palavras ligadas à memória.

Ao fim de um curso voltado para formação de artistas em início de carreira na EAV, o artista realiza a série Monumento à presença (2018), acerca da ausência de alunos, professores e artistas negros naquela escola. O levantamento resulta no trabalho Monumento-documento à presença (2018), uma reunião de gráficos com números referentes aos cinco últimos anos da EAV e questões que apresentam de forma clara a disparidade de participação de pessoas negras na escola e seus efeitos, junto de um contrato de acordo de mudança na postura ética da instituição. Na exposição de conclusão do curso, Cruz apresenta outra parte do trabalho, Monumento à presença (afresco) (2018). Mesmo sem a assinatura do contrato, o debate levantado pelo artista representa uma etapa importante para a reorganização e reconhecimento da desigualdade racial na instituição. 

Ao ser convidado para remontar Monumento à presença no Pence Coletivo, um espaço cultural na Lapa, Rio de Janeiro, Cruz se debruça sobre a imagem de Anastácia, da qual sua mãe é devota. Anastácia ou “escrava Anastácia” tem sua figura associada à gravura do século XIX do artista francês Jacques Étienne Victor Arago (1790-1854), cujo retrato apresenta uma mulher negra com a boca coberta por uma máscara de flandres, instrumento de ferro utilizado para castigos durante o período escravocrata no Brasil. 

Cruz, então, reconstitui a imagem de Anastácia e lhe devolve voz e identidade ao retirar sua máscara. A imagem é reproduzida em papéis em formato de santinhos junto a uma oração dedicada a ela, compondo a obra Monumento à voz de Anastácia (2019).

Ao reconstituir um símbolo histórico ligado à opressão e violência dos povos escravizados, oriundo de uma iconografia colonial, a imagem ganha grande repercussão e se torna o trabalho mais conhecido de Cruz, presente em livros de história de uma rede de ensino do Rio de Janeiro e com ampla circulação nas mídias sociais e na imprensa.

O texto, por sua vez, representa papel central em toda a obra de Cruz. Para o artista, o conceito de cena está em construção desde o trabalho-manifesto Nenhuma direção a não ser o centro (2018) e está ligado ao “interesse na performatividade da palavra não apenas como grafia, mas também como ação”1.

Fruto de uma residência de três meses intitulada “Vocábulo”, no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica (CMAHO), no Rio de Janeiro, Cruz realiza sua primeira mostra individual, com curadoria do pesquisador Marcelo Campos (1972). A exposição “Pretofagia: uma exposição-cena” (2019) se constitui como uma cena dramatúrgica e performática que se desdobra da pesquisa de Monumento à voz de Anastácia, enquanto materialização de uma narrativa positiva sobre raça, pautada na ancestralidade negra.

A cena ocorre a partir de um ensaio dramatúrgico feito por Cruz durante a residência e narra a trajetória de uma personagem negra que se percebe encenando o Yurugu, um monstro colonial baseado na obra da antropóloga estadunidense Marimba Ani (c.1940), e que, ao recusar interpretar o papel, se divide em vários corpos. Para resgatar seus pedaços, passa a incorporar outros corpos semelhantes.

Além de referências à religiosidade e ancestralidade afro-brasileira, “Pretofagia” estabelece um contraponto crítico a conceitos e pontos da história da arte hegemônica, tanto no próprio título da exposição-cena (um paralelo ao conceito de antropofagia, criado no modernismo brasileiro), quanto nas máscaras-objeto expostas e usadas em cena, as Pretusis (2019), feitas de granito preto, uma paródia das esculturas do artista romeno Constantin Brancusi (1876-1957). “Pretofagia” também é um conceito criado por Cruz e desdobrado em outras cenas que relacionam a dramaturgia, ficção e escultura. Entre elas estão Farol fun-fun: pangeia (2019) e A cova do escravo é a cidade (2020).

Yhuri Cruz cria imagens e narrativas que garantem protagonismo a corpos e subjetividades negras, contrapondo modos hegemônicos de constituição dos saberes e destacando a cosmogonia e ancestralidade afro como potências de interpretação do mundo e de sua história. 

Nota

1. Em entrevista para Deri Andrade, do ProjetoAfro. Disponível em: https://projetoafro.com/editorial/entrevista/conversa-com-artista-yhuri-cruz-e-a-ressignificacao-dos-simbolos/. Acesso em: 6 dez. 2022.

Obras 9

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Foto do artista

Noite faminta

Granito, aço galvanizado e ferro maciço

Exposições 35

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Fontes de pesquisa 14

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