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Enciclopédia Itaú Cultural
Dança

Luciane Ramos-Silva

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 29.10.2024
1977 Brasil / São Paulo / São Paulo
Luciane Ramos Silva (São Paulo, São Paulo, 1977). Artista da Dança, antropóloga, educadora. Baseando-se em corporeidades africanas e afro-diaspóricas, articula as ideias de pluralidade, movimento e transformação em seus trabalhos. Sua produção reflete sobre a ancestralidade negra e seus fundamentos presentes na cultura de países que, como o Bras...

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Luciane Ramos Silva (São Paulo, São Paulo, 1977). Artista da Dança, antropóloga, educadora. Baseando-se em corporeidades africanas e afro-diaspóricas, articula as ideias de pluralidade, movimento e transformação em seus trabalhos. Sua produção reflete sobre a ancestralidade negra e seus fundamentos presentes na cultura de países que, como o Brasil, trazem heranças africanas em suas culturas e viveram a experiência colonial.

De formação transdisciplinar, que abarca as artes do corpo, a antropologia e a educação, a artista mobiliza ações e reflexões que questionam os modelos hegemônicos da produção de conhecimento em dança. Ao apresentar seus referenciais, retoma a trajetória de corpos negros criadores de um pensamento artístico contemporâneo, fundamentado nas estéticas e poéticas africanas e afro-diaspóricas1.

O interesse pelas poéticas afro-diaspóricas se dá antes de ingressar na universidade, quando integra o grupo de capoeira angola Guerreiros de Senzala. Nele, tem os primeiros contatos com a dança afro contemporânea2 e com outras expressões artísticas afro-brasileiras, como o maculelê e o samba de roda e os cordões dos carnavais paulistanos.

O encontro entre dança e antropologia ocorre durante a graduação em ciências sociais, na Universidade de São Paulo (USP), quando inicia os estudos sobre religiosidades afro-brasileiras e foca o interesse no simbolismo mítico das danças dos orixás e suas referências estéticas e poéticas, que posteriormente levarão à pesquisa de outras estéticas negras. Durante sua trajetória artística e intelectual, busca elucidar a pluralidade do campo da dança.

Transitar entre a antropologia e as artes do corpo lhe permite abordar como os processos de representação e as questões de identidade e invisibilidade vinculam-se a modelos de hierarquização e subjugação dos corpos negros, tomados como objetos, e não como sujeitos, ao longo da história. Essa é uma das questões centrais de seu trabalho, no qual a bailarina-antropóloga busca refutar noções naturalizadas sobre os corpos racializados, compreendidos como exóticos e/ou folclorizados. Essas concepções contribuem para desqualificar os saberes que esses corpos carregam, além de dar continuidade ao projeto colonial que desumaniza os povos negros.

Desde 2009, realiza pesquisas de campo em países da África do Oeste (Burkina Faso, Guiné Conacry, Mali e Senegal). Essas experiências dão magnitude ao seu trabalho e proporcionam proximidade com expressões artísticas de culturas tradicionais dessa região. Suas referências estéticas são ampliadas e se aprofundam nos princípios da espiritualidade, temporalidade e circularidade, noções fundamentais para as culturas africanas e afro-diaspóricas. O corpo na dança, ou o corpo que dança, não se desvincula do substrato sociocultural que carrega. Refletir sobre essas culturas significa acionar referenciais onto-epistemológicos, nos quais a própria noção de movimento precisa ser expandida, pois está incorporada à vida cotidiana.

No intuito de aprofundar os impactos da eurocentralidade nos sujeitos dançantes, a artista traz perspectivas epistemológicas que buscam estreitar as relações sul-sul e elabora um pensamento crítico ao modelo hegemônico dos currículos das artes do corpo no Brasil. Ao questionar a ideia unívoca da formação em dança focada nas estéticas europeias, argumenta como as marcas da colonização se inscrevem nos sistemas educativos de territórios com experiências diaspóricas como o Brasil.

Na busca por outras noções de consciência corporal e equilíbrio, procura conhecer técnicas como o butoh, BMC e eutonia. Torna-se integrante de diversos grupos de estudos e participa, como dançarina e auxiliar de direção, da Abieié Cia. de Dança. Funda em 2008, junto a outras artistas, o Diaspóros Coletivo das Artes, com duração curta mas importante em sua trajetória.

Sua trajetória de estudos, pesquisas e práticas pedagógicas percorre instituições como a Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade de Maryland, Edit (Burkina Faso) e Centre Momboye (França). Além disso, na  L’École des Sables (Senegal),  realiza pesquisa sobre a proposta pedagógica da coreógrafa senegalesa Germaine Acogny (1944).

Em sua tese de doutorado, Corpo em Diáspora: Colonialidade, Pedagogia de Dança e Técnica Germaine Acogny (2017), relaciona a perspectiva colonizada dos currículos de formação em dança com um pensamento mais abrangente que desqualifica a produção de conhecimento negro nas diversas áreas e cuja origem remete à fundação do que chamamos de “modernidade”. 

A investigação epistemológica e biográfica dessa técnica, anunciada enquanto epistemologia do sul, é um dos eixos da tese. A pesquisa também apresenta o “Corpo em diáspora”, uma “ pedagogia em processo” que Luciane cria na busca por uma metodologia que tivesse uma leitura ampla da afrodiáspora. Por fim, apresenta aspectos artísticos e pedagógicos da trajetória de Germaine Acogny anunciada enquanto epistemologia do sul. A conclusão do trabalho se dá com o solo Olhos nas Costas e um Riso Irônico no Canto da Boca, síntese criativa da pesquisa.

As produções artísticas da artista são permeadas pela relação considerada intrínseca entre sujeito, cultura e coletividade, de forma que movimentos e gestos revelam elementos ligados à ancestralidade. É por meio de sentimentos, emoções e sensações que a dança afro-diaspórica se atém aos processos de escritas de si, sempre com a possibilidade de reelaboração e criação de códigos ancestrais. É a história que se faz presente, com toda sua dimensão plural, nos corpos em movimento.

Notas

1. Dentre as principais referências encontram-se Abdias Nascimento (1914-2011), Mercedes Baptista (1921-2014) e Inaicyra Falcão dos Santos, entre outros.

2. Posteriormente Luciane Ramos Silva problematiza a veiculação da dança afro no singular e passa a considerar suas referências de forma plural danças afro. 

Espetáculos 1

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Espetáculos de dança 14

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Performances 1

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Fontes de pesquisa 5

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