Mercedes Baptista

Mercedes Baptista, 1959
Texto
Mercedes Ignácia da Silva Krieger (Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 1921 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014)1. Coreógrafa e bailarina. Primeira bailarina negra a integrar o corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Mercedes Baptista é figura-chave no âmbito da dança, ao fomentar o processo de inserção étnica e cultural em curso no Brasil, além de uma grande divulgadora da dança afro-brasileira.
Ainda jovem, muda-se para a capital carioca. Em 1944, frequenta o curso de danças oferecido pelo Serviço Nacional de Teatro do Rio de Janeiro e ministrado por Eros Volúsia (1914-2004), de quem recebe as primeiras lições de balé clássico e dança folclórica.
Nos anos 1940, ingressa na Escola de Balé do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e estuda com o coreógrafo estoniano Yuco Lindberg (1908-1948) e o tcheco Vaslav Veltchek (1897-1968). Em 1948, é admitida como primeira bailarina negra do Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, mas atua em poucas coreografias. No mesmo período, participa de apresentações com o grupo Teatro Experimental do Negro (TEN), do diretor Abdias do Nascimento (1914-2011), e aproxima-se da luta pelo reconhecimento do trabalho de negros e negras no teatro brasileiro.
No fim da mesma década, é selecionada pela coreógrafa e antropóloga estadunidense Katherine Dunham (1909-2006), negra e ativista da causa afro-americana, para estudar na Dunham School of Dance, em Nova York, e, em 1950, também passa a integrar o Conselho de Mulheres Negras, no Rio de Janeiro, ampliando sua militância política em meio às artes.
A aproximação com diferentes esferas da luta pelo reconhecimento das influências negras na arte e sua formação voltada para pesquisas sobre culturas de matrizes africanas levam Mercedes Baptista a fundar, em 1953, o grupo Ballet Folclórico Mercedes Baptista, dedicado à cultura afro-brasileira, que se transforma em ícone da reafirmação do artista negro da dança no país. O grupo é formado exclusivamente por integrantes negros e negras, abrindo espaço para atuação de artistas excluídos dos espaços tradicionais da dança.
Em 1955, o grupo é convidado pelo coreógrafo russo Léonide Massine (1896-1979) para participar de Hino à Beleza, peça elaborada para o Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. A companhia também atua no teatro de revista com Agora a Coisa Vai (1956), Rumo a Brasília (1957) e Juju-Fru-Fru (1958), realizadas pela Companhia Silva Filho no Teatro João Caetano.
O primeiro espetáculo exclusivo do grupo no Brasil é África, exibido no Teatro de Arena da Guanabara, em 1962. A companhia faz turnês na Argentina (1955, 1958 e 1962) e no Uruguai (1955 e 1962). Em 1965, participa do Festival de Arte Folclórica na França e sai em turnê por seis meses, apresentando-se em 150 cidades europeias. Em 1966, a companhia faz turnê pelo Chile e, em 1969, segue para Portugal.
Em 1960, Mercedes Baptista atua como carnavalesca na Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, com o tema Quilombo dos Palmares, contribuindo para a incorporação de novos elementos aos desfiles, como a presença de alas coreografadas no conjunto das escolas de samba. Em 1963, Mercedes coreografa a comissão de frente da mesma escola para o premiado samba-enredo “Xica da Silva”2. Na década seguinte, dedica-se ao ensino, ministrando cursos fora do país, e introduz a disciplina de dança afro-brasileira na Escola de Dança do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Mercedes Baptista contribui para a história da dança e das artes do corpo no Brasil, através de suas pesquisas sobre matrizes culturais africanas, além de possibilitar a presença de artistas negros e negras em espaços tradicionais do balé brasileiro.
Notas
1. Não é possível precisar sua data de nascimento, pois existem controvérsias. Em depoimento realizado no Museu da Imagem e do Som (1997) ela declarou: 20 de maio de 1926, algumas outras fontes trazem 1921 e 1930. Seus ex-alunos consideram o dia 20 de maio de 1921.
2. O samba-enredo é uma composição de Arlindo Rodrigues, e a escola é campeã do Carnaval nesse ano, desfilando na Avenida Presidente Vargas, na Candelária. Os desfiles passam a acontecer no sambódromo Marquês de Sapucaí apenas na década de 1980.
Espetáculos 6
Exposições 2
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12/5/2015 - 20/9/2015
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5/11/2021 - 30/12/2021
Fontes de pesquisa 4
- MERCEDES Baptista. Museu Afro Brasil, São Paulo, 2014. Disponível em: http://www.museuafrobrasil.org.br/pesquisa/hist%C3%B3ria-e-mem%C3%B3ria/historia-e-memoria/2014/07/17/mercedes-baptista. Acesso em: 21 maio 2021.
- MORRE Mercedes Baptista, a primeira bailarina negra do Theatro Municipal do Rio. Portal Geledés, São Paulo, 19 ago. 2014. Disponivel em: http://www.geledes.org.br/morre-mercedes-baptista-primeira-bailarina-negra-theatro-municipal-rio/#axzz3E4vqghbo. Acesso em: 19 ago. 2014.
- PEREIRA, Roberto. A formação do balé brasileiro. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003.
- SUCENA, Eduardo. A dança teatral no Brasil. Rio de Janeiro: Ministério da Cultura: Fundação Nacional de Artes Cênicas, 1989.
Como citar
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MERCEDES Baptista.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa106837/mercedes-baptista. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7