Alexandre Araújo Bispo
Texto
Alexandre Araujo Bispo (São Paulo, São Paulo, 1973). Antropólogo, cientista social, crítico de arte, curador, pesquisador e produtor cultural. A principal característica de seus trabalhos é a discussão sobre o patrimônio material e imaterial da população negra e camadas populares do Brasil, que leva em conta temas como cultura urbana, arte afro-brasileira e as relações entre memória, comportamento, arquivos e sociedade.
Em 2006, forma-se em ciências sociais pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP). De 2005 a 2008, trabalha como produtor cultural no Museu Afro Brasil, em São Paulo. Lá, entra em contato com a curadoria do museólogo Emanoel Araújo (1940) e é indiretamente influenciado pela arquiteta italiana Lina Bo Bardi (1914-1992), que inspirou diversas produções do museólogo.
A partir de 2010, integra o grupo de pesquisa Coletivo ASA ⎼ Artes, Saberes e Antropologia, na USP/CNPq, liderado pela professora Fernanda Arêas Peixoto (1960), do Departamento de Antropologia da universidade. Criado em 2009, o grupo trabalha com temas como modernismos, artes do fazer, movimentos sociais, memórias, políticas culturais e fotografia.
De 2010 a 2016, escreve regularmente para a revista Omenelick 2º Ato e compõe seu conselho editorial. A revista tem como principal finalidade a valorização da produção cultural e artística da diáspora negra, sobretudo no Brasil. É nessa área do conhecimento que Alexandre Bispo demarca sua contribuição, ao resgatar produções de artistas negros pioneiros, consideradas fundamentais para o entendimento da arte brasileira.
Em seus textos, análises históricas acionam os conceitos de arte, cidade e memória, como ocorre em Mãe Preta (2011), que trata da escultura de Júlio Guerra (1912-2001). A obra foi tombada pelo CONPRESP (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo). No texto, o antropólogo discute o esforço de militantes negros, na década de 1920, de convencer o Estado a criar uma escultura que representasse a importância de seus antepassados na construção da nação.
A primeira curadoria de Alexandre, intitulada Vontade de saber: erotismo (2008), realizada no Espaço dos Sátiros, em São Paulo, aborda a arte erótica, partindo da obra História da Sexualidade: A Vontade de Saber, de Michel Foucault (1926-1984), e de seu interesse pelo corpo, pela cultura como universo simbólico, pela sexualidade e pela questão da memória.
Algumas exposições de Alexandre Bispo abordam questões étnico-raciais e a arte afro-brasileira. Em Negro Imaginário (2008), realizada no Espaço Maquinaria, em São Paulo, discute a construção cultural de estereótipos negros na sociedade brasileira. Na curadoria AfroRetratos (2012), realizada a partir da série homônima da artista Renata Felinto (1978), no espaço Track Towers, em São Paulo, a discussão se concentra na modalidade artística do autorretrato como uma forma de autoconhecimento, de reconhecimento das diferenças, construção de identidades e fortalecimento da figura feminina negra.
Suas curadorias também demonstram seu interesse por arquivos, acervos e colecionismos. Na exposição Gabinete Clóvis Moura (2011), realizada na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, o curador organiza o ambiente de forma que se assemelhe a um gabinete, usando uma coleção de livros pertencentes a Clóvis Moura, intitulada Biblioteca Preta. Em Medo, Fascínio e Repressão na Missão de Pesquisas Folclóricas 1938-2015 (2015-2016), no Centro Cultural São Paulo, Alexandre Bispo trabalha com o prestigiado acervo da Missão de Pesquisas Folclóricas, organizado por Mário de Andrade (1893-1945), que realizou viagens pelo Nordeste e documentou a cultura popular dessa região. A partir desses registros históricos, Alexandre constrói a exposição, lançando um novo tema para a Missão de Pesquisas Folclóricas: a violência estatal contra as religiões afro-brasileiras.
Na exposição SESC Bertioga: 70 anos à Beira Mar (2018-2019), no Sesc Bertioga, Alexandre aborda a relação entre trabalho e descanso, partindo da pesquisa sobre uma colônia de férias criada em 1948, em um contexto histórico no qual a discussão sobre direitos trabalhistas e o direito a férias eram questões emergentes. O curador constrói a exposição com um acervo documental.
Como curador educativo, trabalha nas exposições Todo Poder ao povo: Emory Douglas e os Panteras Negras (2017), no Sesc Pinheiros, e Bienal Naïfs do Brasil (2018), no Sesc Piracicaba. Atua também como coautor dos livros Vida e grafias: narrativas antropológicas, entre biografia e etnografia (2015) e Ciudades sudamericanas como arenas culturales (2016). Em 2018, compõe o grupo de crítica de artes visuais do Centro Cultural São Paulo (CCSP).
Através da escrita e de suas curadorias, Alexandre Bispo cria um trabalho interdisciplinar, transitando entre arte e ciências sociais e abordando temáticas de crescente discussão, como as questões étnico-raciais, a arte afro-brasileira e a produção cultural.
Exposições 3
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28/10/2023 - 24/2/2022
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7/5/2023 - 4/6/2023
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7/5/2023 - 4/6/2023
Fontes de pesquisa 4
- BISPO, Alexandre Araujo. Alexandre Bispo. Crato, Ceará: [s.n.], 2018. Entrevista concedida a Francisca Edivania Barros Gonçalves, pesquisadora do verbete para a Enciclopédia de Artes Visuais do Itaú Cultural.
- BISPO, Alexandre Araujo. Borrando os limites da cor: negros e brancos na Pinacoteca de São Paulo. In: Metrópole: Experiência Paulistana. CHIARELLI, Tadeu (Curadoria) 2017. p. 47-77.
- BISPO, Alexandre Araújo. Currrículo do sistema de currículos Lattes. [Brasília]. 09 jul. 2019. Disponível em: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4469293E5. Acesso em: 19 set. 2019
- REVISTA Contemporary And América Latina. Disponível em: http://amlatina.contemporaryand.com. Acesso em: 15 dez. 2018
Como citar
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ALEXANDRE Araújo Bispo.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa640286/alexandre-araujo-bispo. Acesso em: 05 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7