Antonio de Dedé
Texto
Antonio Alves dos Santos (Lagoa da Canoa, Alagoas, 1953 - Arapiraca, Alagoas, 2017). Escultor. Artista autodidata, seu trabalho em madeira se caracteriza pela verticalidade das peças e pelo uso das cores. A força dramática das personagens representadas pelo escultor e a expressividade dos detalhes também são traços marcantes de sua produção.
Nascido em Lagoa da Canoa, interior do estado de Alagoas, região agreste dedicada ao plantio de fumo, Antonio de Dedé trabalha na agricultura desde a infância, acompanhando o pai que, além de agricultor, é pedreiro, marceneiro e carpinteiro. Aos oito anos, já produz seus próprios brinquedos de madeira e lata – como peão, carrinho e avião –, que eventualmente vende na vizinhança. Na adolescência, trabalha em uma olaria e aproveita o barro para moldar bonecos e o forno para queimá-los, aprimorando a aptidão para as artes manuais. Com o fim da olaria, elege a madeira como material de suas esculturas, em um primeiro momento em pequenas dimensões e, em seguida, adotando o caráter longilíneo que caracteriza sua produção. Mantendo a agricultura como principal fonte de sustento da família de nove filhos, o artista se dedica a esculpir quando volta da lavoura e se torna conhecido na região como "fazedor de bonecos". A partir daí surgem as primeiras encomendas, principalmente de terreiros de umbanda. O reconhecimento do trabalho pelo campo da arte se dá a partir do contato com Maria Amélia Vieira (1955), galerista de Maceió. Com esse incentivo, Dedé passa a dedicar metade da semana à produção de esculturas.
As peças são feitas de madeira pintada, variam de 50 centímetros a dois metros de altura e exibem presença marcante das cores. A expressividade do entalhe e a dramaticidade das personagens são características do trabalho, assim como a verticalidade das estruturas. Ainda que seja possível encontrar peças pequenas nas quais os membros são proporcionais, em geral, as esculturas são compridas, apresentando corpos alongados, pés pequenos, longos braços colados ao corpo e mãos encolhidas ou se projetando para fora da viga. Os detalhes das personagens são bem marcados – olhos arregalados, dentes expostos, bigodes, sobrancelhas e unhas –, todos enfatizados pelo uso da cor. A temática religiosa é frequente nas figuras como São Jorge, São Sebastião, São José, Virgem Maria e Jesus, mas são igualmente recorrentes a representação de pessoas, como médica e noiva; de animais, como peixes, pássaros, tartarugas, onças e leões; de personagens míticos como sereia e heróis como Zumbi dos Palmares (1665-1695). As peças de estrutura horizontal são menos comuns, mas existem, caso de Cavalinho (s.d.), assim como trabalhos que combinam a orientação vertical e horizontal das peças, caso de Mensageiro do Pavão (s.d.).
Por causa da escassez de madeira na região, eventualmente o artista pede aos interessados em seu trabalho que forneçam o material. Embora trabalhe com eucalipto vermelho, sucupira, pau d'arco e maçaranduba, a jaqueira é a madeira mais frequente, pois é mais resistente e garante boa durabilidade às esculturas. As ferramentas usadas para esculpir são o serrote, para trabalhar a madeira bruta, definindo as dimensões da peça; a faca batida com enxó, que entalha as formas gerais da personagem; o formão para definir olhos, braços e pernas; e, por fim, glosa, lixa e espátula no acabamento. As cores são obtidas pela aplicação da tinta que varia de acordo com a disponibilidade de material, podendo ser tinta acrílica ou tinta de parede, nesse caso, óleo ou esmalte sintético.
A representação de São Francisco, em alguns casos, apresenta um detalhe curioso: um pássaro na cabeça. Em Sagrado Coração de Maria, o artista usa o recurso de manter parte da peça na madeira, sem tinta, criando um contraste interessante entre áreas opacas e brilhantes. Enquanto o rosto e o manto da santa são mantidos em madeira lixada, sem verniz, o vestido é de um vermelho vibrante, em harmonia com o coração em alto relevo crivado de flechas, na altura do peito. O friso verde na borda do manto, que acompanha a figura da cabeça aos pés, enfatiza a verticalidade da peça e o vermelho da roupa. O rosto ovalado, com um nariz marcante e uma pequenina boca vermelha, recebe dois olhos azuis sem pupilas que se tornam ainda mais arregalados pelas sobrancelhas escuras. A figura se completa com um semicírculo vermelho sobre a cabeça que faz as vezes de auréola.
Em 2012, Antonio de Dedé participa do projeto Teimosia da imaginação, livro, documentário e exposição no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, e da exposição Histoire de Voire, organizada pela Fundação Cartier, em Paris. No ano seguinte, a Galeria Estação organiza uma exposição individual, apresentando 38 esculturas, com curadoria de Roberta Saraiva Coutinho. Com seu trabalho comercializado em várias capitais brasileiras e presente em coleções particulares e museus, o artista segue se dividindo entre a lavoura e a escultura. Apenas a partir de 2015, quando é reconhecido como Patrimônio Vivo de Alagoas, Antonio de Dedé passa a se dedicar integralmente à arte, mas falece dois anos depois.
Em meio à adversidade e à escassez, Antonio de Dedé cria uma estética própria e vibrante, plena de expressão e cor, que pode ser interpretada como testemunho de sua força vital. Não sendo herdeiro de uma tradição estabelecida, o artista deixa um legado para o campo das artes no agreste alagoano por meio das filhas e filhos a quem transmite a arte de esculpir e pintar a madeira e que seguem a atividade de escultores.
Exposições 3
-
29/3/2012 - 13/5/2012
-
15/5/2012 - 21/10/2012
-
15/12/0 - 0/0/2012
Fontes de pesquisa 3
- EID, Vilma; MONTE-MÓR, Germana. Arte popular brasileira: olhares contemporâneos. São Paulo: Martins Fontes, 2018.
- MONTES, Maria Lucia. Teimosia da imaginação: dez artistas brasileiros. São Paulo: Martins Fontes, 2012.
- SARAIVA, Roberta. Antonio de Dedé. In: Antonio de Dedé: esculturas. São Paulo: Galeria Estação, 2013.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
ANTONIO de Dedé.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa624709/antonio-de-dede. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7