Dácio Lima
Texto
Enoch Dácio Oliveira Lima (s.l., Maranhão, ca.1952 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2002). Diretor. Em 1974, muda-se para Brasília para assumir cargo no Banco Central e, em 1975, inicia-se no teatro formando o Grupo Máscaras. Com o coletivo, monta o Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna (1927), sua primeira direção, em 1976. No ano seguinte, o grupo apresenta sua primeira criação coletiva, O Quarto, destacando-se no jovem panorama teatral local pelo processo colaborativo e pela temática brasiliense. Já a peça Martins Penna em Tempo de Abertura reabre a Sala Martins Penna, do Teatro Nacional, em 1979.
Em 1980, Dácio dirige Centro Oeste S.A., nova dramaturgia coletiva que estreia no Teatro Galpão e se apresenta em ruas, associações de moradores e outros espaços alternativos de cidades-satélite do Distrito Federal. A peça é uma das primeiras obras teatrais brasilienses publicadas. Após a temporada, Dácio demite-se do Banco Central e viaja pela Europa. Fixa-se em Paris para estudar com Jacques Lecoq (1921-1999) e Philippe Gaulier (1943), mestres da palhaçaria contemporânea. Retorna à Brasília em 1983, reúne novo elenco para o Grupo Máscaras e estreia Superzé, o Espaço Selvagem. Após apresentações no Rio de Janeiro, muda-se para a capital carioca e estreia Os Clowns (1986), inaugurando o Teatro Porão Cultural da Casa de Cultura Laura Alvim.
O espetáculo também origina a Companhia do Gesto, com quem Dácio encena As Máscaras (1989), indicada ao Prêmio Mambembe de melhor direção. Seguem-se outros trabalhos, como O Baile (1993); MacBeth – A Tragédia da Ambição (1996) e Cláun! Palhaços Mudos (2000). A Menor Máscara do Mundo (2002) é a última montagem de Dácio com a Cia. do Gesto. Resultante de oficina por ele ministrada em 2001, no projeto Jogo de Máscaras e Clowns, a peça estreia em outubro de 2002, na sede da companhia, em Botafogo, zona sul carioca, meses depois de sua morte.
Alguns meses antes, em abril de 2002, a Cia. do Gesto organiza uma festa no Teatro Glauce Rocha, no Rio de Janeiro, para homenagear a trajetória artística do diretor recém falecido com exposição de vídeos, máscaras, fotos e cartazes de suas obras no foyer do teatro, além de espetáculo reunindo cenas de trabalhos com a Cia. do Gesto. Atores de São Paulo, Brasília e Vitória, entre outras cidades, juntam-se ao elenco carioca.
Análise
Os espetáculos dirigidos por Dácio, desde os primeiros trabalhos, têm como característica a realização de processos de criação compartilhados com os integrantes. Outra marca importante é sua fuga da interpretação realista, naturalista. Em algumas peças realizadas em Brasília, há um aprofundamento da investigação da linguagem teatral e são estudados aspectos socioculturais da nova capital, que fascina o diretor pela sua espacialidade e horizonte aberto.
Em O Quarto são apresentadas duas características que se mantêm durante toda sua carreira: a execução compartilhada da dramaturgia e a investigação de formas alternativas de produção. Já Centro-Oeste S.A. remonta às ações de bandeirantes como Bartolomeu Bueno em suas primeiras incursões no cerrado brasileiro, passando por questões regionais de disputas de terra entre posseiros, índios e peões. Também aborda as lendas e o misticismo da região, as tentativas de socialização e as ações da igreja progressista, até focar a cidade como centro de decisões políticas do país. Segundo o prefácio da versão publicada de Centro-Oeste S.A., a arte válida para Dácio e o Grupo Máscaras é aquela que consegue a “relação com toda a transa social. De outro jeito não nos interessa”. Com Superzé, é realizada a transposição da linguagem dos quadrinhos para o palco, numa crítica à contemporaneidade brasileira e ao teatro.
Com a Companhia do Gesto, Dácio inicia novas pesquisas sobre as possibilidades de comunicação sem palavras em Os Clowns e As Máscaras, dando continuidade às investigações sobre a linguagem do palhaço e os jogos com máscaras. Como exemplo da exploração da dimensão do silêncio, O Baile, baseado no filme homônimo do italiano Ettore Scola (1983), conta 40 anos da história brasileira.
Após dez anos de estudos do gesto e do corpo expressivo do ator em montagens sem palavras e com máscaras, a Companhia do Gesto associa suas pesquisas às palavras do texto shakespeariano, em MacBeth – A Tragédia da Ambição. Sem abandonar as investigações sobre a arte do palhaço, o diretor e a Cia. do Gesto estreiam, em 2000, Cláun! Palhaços Mudos, trabalho roteirizado e montado por Dácio, juntamente com Gulu Monteiro e Luís Igreja, núcleo base da cia. desde sua fundação.
Teatro e educação sempre estiveram ligados à obra de Dácio Lima, que investiu consistentemente na autonomia do ator-criador. Esse fundamento, segundo ele, é inerente ao artista cênico completo, que precisa trabalhar em várias frentes: dramaturgia, encenação e produção dos espetáculos.
Espetáculos 5
Fontes de pesquisa 6
- A MENOR MÁSCARA do Mundo. Blog Teatro Etc. e Tal. Disponível em: http://artescenicas.blogspot.com.br/2002_11_01_archive.html. Acesso em: 03 nov. 2012
- CELEBRAÇÃO ao mestre Dácio Lima. Blog Teatro Etc. e Tal. Disponível em: http://artescenicas.blogspot.com.br/2002/03/celebrao-ao-mestre-dacio-lima-na.html. Acesso em: 03 nov. 2012
- COMPANHIA DO GESTO. Dácio Lima. Disponível em: http://companhiadogesto.wordpress.com/dacio-lima-2. Acesso em: 03 nov. 2012
- LIMA, Dácio e Grupo Máscaras. Centro Oeste S.A. Brasília: s/ editora, 1981.
- O Baile. [Rio de Janeiro]: Companhia do Gesto, [1993]. Programa do Espetáculo. Não catalogado
- VILLAR, Fernando Pinheiro e CARVALHO, Eliezer Faleiros de (orgs.). Histórias do teatro brasiliense. Brasília: Artes Cênicas - IdA/UnB, Brasília, 2004.
Como citar
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DÁCIO Lima.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa614074/dacio-lima. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7