Enio Squeff (Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 1943). Pintor, escultor, gravurista, ilustrador, crítico de música, escritor. Na pintura, tematiza com frequência paisagens, cenas urbanas, interiores, ambientes religiosos, autorretratos, figuras humanas e o universo do futebol. Seus desenhos em guache, aquarela e nanquim estampam mais de uma centena de artigos de jornal e livros.

Formado em jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 1965, muda-se para São Paulo em 1968 para integrar a equipe de jornalistas da recém-fundada revista Veja. Dez anos depois, assina a coluna do caderno de cultura do jornal Folha de S.Paulo ainda como crítico musical. Nessa ocasião, as habilidades artísticas do jornalista são descobertas pelo diretor do periódico, e Squeff é convidado a ilustrar a página de opinião do periódico. Tratam-se de suas primeiras ilustrações, sempre em preto e branco, realizadas em nanquim ou com caneta bico de pena¹. 

Selecionado para o 44° Salão Paulista de Belas Artes (1980), participa de sua primeira exposição e é agraciado com o Prêmio Secretaria de Estado da Cultura. Em 1986, por encomenda da editora Rio Gráfica, produz ilustrações apenas em bico de pena para as capas de 30 volumes da coleção Grandes Sucessos da Literatura Internacional. O artista considera esse trabalho como sua primeira grande encomenda comercial.

Ao longo da década de 1980, a prática artística se torna um exercício diário, desenvolvida sob a tutela do pintor e professor João Rossi (1923-2000), que o estimula a ingressar na pintura. Entre o final da década de 1980 e o começo dos anos 1990, a linguagem da pintura ganha primazia na trajetória do artista, mas sem que suas telas abandonem o desenho, uma vez que seu interesse é realçar o desenho dentro da própria pintura. Nesse período, a carreira de artista começa a ganhar reconhecimento, comprovado pela maior participação em exposições nacionais. Em 1988 e 1989, seus desenhos integram uma mostra coletiva e uma individual na Pinacoteca de São Paulo.

Ao longo da década de 1990, nota-se crescente interesse do pintor por cenas e paisagens urbanas, com o emprego de pinceladas vigorosas e cores vibrantes, que muitas vezes se estendem à própria moldura. Ao remeter a alguns dos símbolos da identidade nacional brasileira, o artista mobiliza a crítica social. Nesse período, o trabalho se internacionaliza e é exibido em seis mostras na cidade de Bogotá, na Colômbia. Em âmbito nacional, destaca-se a exposição Desenhos da Odisseia, na qual o artista retrata cenas célebres do poema épico de Homero (928-898 a.C), explorando a fluidez e os jogos de transparência proporcionados pela técnica da aguada sobre papel². Inicialmente exibida na Galeria Alliance Française (1992), em São Paulo, a mostra segue para o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), em 1993.

Em 1999, realiza as ilustrações do livro Com palmos medida, encomendado pela editora Boitempo. Trata-se, segundo o artista, de um de seus trabalhos mais importantes, em que faz pinturase desenhos alla prima, executados diretamente sobre as páginas do livro. Ainda em 1999, essas ilustrações são apresentadas na exposição de mesmo nome, realizada no Sesc Pompéia, em São Paulo.

Nos anos 2000, temas religiosos ganham espaço em sua poética, que absorve símbolos dos universos do candomblé e da cultura judaico-cristã. Nesse âmbito, o teor crítico de suas obras é acompanhado de um universo profundamente onírico, em que a cultura popular, as festas e o misticismo ganham destaque. Mostras como Santidades (2004) e Orixás (2007) expressam essa tendência. Em 2004, em comemoração aos 450 anos da cidade de São Paulo, Enio Squeff é convidado a conceber um painel de 118 m² no Sesc Itaquera, realizado em conjunto com um vitral no qual figura Paulo Tarso, patrono da cidade de São Paulo.

A música e o futebol, grandes paixões do artista, também são temas de algumas de suas exposições. A mostra Villa-Lobos (2009), realizada na Biblioteca Mário de Andrade, na capital paulista, reúne as pinturas concebidas para ilustrar o livro Com Villa-Lobos, escrito por Willy Corrêa de Oliveira (1938). Essa série se destaca pela materialidade da tinta na figuração expressionista ao retratar músicos executando seus instrumentos sobre o fundo azul encapsulado por uma moldura. Na exposição Futebol é Arte (2014), realizada na galeria PontoArt, na capital paulista, o artista presta homenagem ao futebol em pinturas que remetem ao movimento dos corpos, às negociações e disputas desse esporte popular no Brasil. Observa-se que, no trabalho de Squeff, o mundo erudito da música e da literatura ocidentais divide o encantamento do artista com a cultura popular das festas, do futebol e do misticismo.

Em 2021 o artista articula a construção de seu projeto Memorial à convivência religiosa, obra pública de caráter ecumênico a ser instalada na Praça do Povo, em São Paulo. Nesse monumento, a representação de sete religiões celebra uma possibilidade de diálogo entre as diversas expressões da fé.

Enio Squeff mobiliza paisagens e personagens das grandes cidades brasileiras, além de símbolos da identidade nacional e de figuras religiosas, registrados com grande densidade dramática e acompanhados de crítica social. Ainda que explorando múltiplos meios e diferentes temáticas, os trabalhos do artista se encontram invariavelmente submetidos ao repertório de traçados, paletas e materialidades que confere identidade à obra plástica do artista.