Angela Ro Ro
Texto
Biografia
Angela Maria Diniz Gonçalves (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1949). Compositora, cantora, pianista. Inicia os estudos de piano clássico aos 5 anos e, aos 6, já compõe uma guarânia em seu acordeão. Ganha o apelido Ro Ro na adolescência, devido à voz grave e rouca. Em 1971, Angela Ro Ro muda-se para Londres e alterna o trabalho de faxineira e garçonete com o de cantora e pianista. De volta ao Brasil, em 1974, apresenta-se nas melhores casas noturnas do Rio de Janeiro, com repertório escolhido de acordo com suas preferências pessoais: Ella Fitzgerald, Jacques Brel e Maysa (1936 - 1977), entre outros.
Torna-se conhecida como cantora e compositora em 1976, ao participar do festival de rock Som, Sol e Surf, organizado pelo jornalista e produtor musical Nelson Motta em Saquarema, Rio de Janeiro, no qual também se apresentam Raul Seixas, Made in Brazil e Rita Lee. Em 1979 tem a canção Agito e Uso gravada por As Frenéticas e Não Há Cabeça, por Marina Lima e Ney Matogrosso. No ano seguinte, Ney Matogrosso interpreta Balada da Arrasada. Lança seu primeiro disco, Angela Ro Ro, em 1979, pela PolyGram, que conta com arranjos do pianista Antônio Adolfo em diversas faixas. A canção Tola Foi Você é o seu debute nas rádios, mas o primeiro grande sucesso é Amor, Meu Grande Amor, cuja letra é de Ana Terra. Gota de Sangue tem grande repercussão na voz de Maria Bethânia.
O segundo LP, Só Nos Resta Viver, de 1980, emplaca a canção que dá nome ao disco. No ano seguinte, Angela Ro Ro lança Escândalo, com canção homônima escrita para ela por Caetano Veloso. Em Simples Carinho, de 1983, o destaque é a canção homônima, de João Donato e Abel Silva, em novo arranjo de Antônio Adolfo. Em 1984 sai A Vida É Mesmo Assim, e uma canção desse disco, Fogueira, torna-se a sua segunda música a fazer sucesso em versão de Maria Bethânia. Os dois últimos discos da década de 1980 são Eu Desatino, 1985, e Prova de Amor, 1988.
Inicia a década de 1990 com diversos shows em casas noturnas, acompanhada por banda ou sozinha ao piano. Participa como cantora da Rio Jazz Orquestra, regida pelo maestro e saxofonista Marcos Szpilman. Em 1993, a temporada de shows resulta no CD Nosso Amor ao Armagedon - Angela Ro Ro ao Vivo, gravado na casa de show carioca Jazzmania, onde lança Cobaias de Deus, parceria com Cazuza. Grava em 2000 o disco Acertei no Milênio. Lança dois álbuns em 2006: Compasso, cuja canção homônima, composta em parceria com Ricardo Mac Cord, entra para o seu repertório de sucessos; e Angela Ro Ro ao Vivo. No ano de 2009, lança o CD Escândalo.
Análise
Compositora eclética, Angela Ro Ro passeia pelo samba-canção com a mesma familiaridade com que trabalha com o blues e suas derivações, como o rhythm 'n' blues, o rock e o jazz. Incorpora também a dramaticidade da chanson francesa de Jacques Brel e da música de cabaré alemã de Kurt Weill. De todos esses estilos extrai não apenas o elemento musical, mas também a verve passional ao falar de amor.
As letras de suas canções são inspiradas em sua biografia e apresentam uma persona boemia declaradamente lésbica, que trata as questões sentimentais de maneira crua e rascante, quando não recorre ao humor corrosivo. Na primeira fase de sua carreira, Angela Ro Ro emula a identidade dramática e sensual da afamada cantora Maysa, parodiando-a por meio de recursos que apelam para o grotesco: a risada debochada, os palavrões e o estado ébrio. Como Maysa, também grava Demais, composição de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira. Ela atualiza, em versão gay, o perfil maldito de sua predecessora de penetrantes olhos verdes e corpo volumoso: o de uma mulher sensual e afeita a desilusões amorosas. A partir do fim dos anos 1990, a cantora muda sua imagem e a relação com a bebida alcoólica e as drogas já não existe mais.
O primeiro e paradigmático LP, Angela Ro Ro, de 1979, tem a colaboração do pianista Antônio Adolfo nos arranjos e composições entre o samba-canção, o blues e o rock. Balada da Arrasada deixa clara a opção da cancionista pelos redutos boêmios: a personagem da narrativa vaga de coração partido a colecionar porres no entorno de boates e bares da Galeria Alaska, um famoso reduto GLS de Copacabana nos anos 1970 ("Tenho pena da pequena / Que no amor foi se iludir / Tadinha dela! / Hoje vive biritada sem ter nem onde cair / do Acapulco à calçada / ou em frente ao Samir / Ela busca toda noite algo pra se divertir / Mas não encontra, não"). A balada blueseira Mares da Espanha - o título da canção é retirado do nome de um motel, trabalhado metaforicamente na letra - enuncia o mesmo tema da fossa, da alusão ao consumo excessivo de álcool devido ao desencontro amoroso ("Você quando acorda tem gente do lado / Mas eu quando durmo é um sono abafado / De uísque e vergonha / Por nunca encontrar você / Ainda insiste na experiência / Pensando que o amor é como a ciência / Amantes diversas não vão trazer nada a mais"). Em Gota de Sangue, um samba-canção pontuado pelo piano de Antônio Adolfo, a cantora pede à amante e interlocutora para não tirar de sua mão "esse copo", ao mesmo tempo que a convida para beber com ela "a gota de sangue final". Na balada roqueira Agito e Uso, Angela afirma sua verve hedonística transgressiva: "Sou uma moça sem recato / Desacato a autoridade / e me dou mal / Sou o que resta da cidade / respirando liberdade/ por igual". O blues Amor, Meu Grande Amor, com letra de Ana Terra, trata a temática amorosa com otimismo, o que talvez tenha contribuído para que seja até hoje sua canção mais conhecida.
Em trabalhos recentes, apresenta mudança significativa em sua temática autobiográfica e envereda também pelo samba. Acertei no Milênio, de 2000, uma de suas diversas parcerias com Ricardo Mac Cord, parodia o conhecido samba de breque Acertei no Milhar, de Wilson Batista e Geraldo Pereira: a artista desloca o tom pretensamente triunfante do discurso malandro da letra original para a efeméride da virada do milênio; para os ufanismos vigentes nas comemorações dos 500 anos do Brasil; e, principalmente, para a exaltação de sua nova fase de abstemia, saudável e produtiva ("Brasileiro, acertei no milênio / Ganhei quinhentos anos / Eu quero trabalhar"). Boemia do Sono, outro samba dessa safra, relata seu recente estilo de vida em jocosa auto ironia ("Acordo da boemia do sono / São seis horas da manhã / Mas não volto para a cama não / Monto na bicicleta ergométrica / Tiro chinfra meia hora / E vou buscar o jornal / Não bebo, como pouco e pouco sal"). Na canção roqueira Compasso, de 2006, outra parceria de sucesso com Mac Cord, Angela professa um estilo de vida sóbrio e construtivo, ao mesmo tempo que recapitula os ganhos e perdas de sua vida boemia: "Estou deixando o ar me respirar / Bebendo água pra lubrificar / Virando a mente em algo producente / Meu alvo é a paz / Vou carregar de tudo vida afora / Marcas de amor, de luto e espora / Vejo alegria e dor ao ir embora".
Obras 25
Links relacionados 2
Fontes de pesquisa 7
- ANGELA RO RO. In: Angela Ro Ro: blog oficial. Rio de Janeiro. Disponível em: http://www.angelaroro.com.br/biografia.htm. Acesso em 19/11/2011.
- ANGELA RO RO. In: Cliquemusic: Enciclopédia Musical Brasileira. Disponível em: http://cliquemusic.uol.com.br/artistas/ver/angela-ro-ro. Acesso em 21/11/2011.
- ANGELA RO RO. In: Cultura Brasil: portal de música brasileira: Coluna do Vilmar. Disponível em: http://www.culturabrasil.com.br/colunas/coluna-do-vilmar/com-mais-de-trinta-2. Acesso em 23/11/2011.
- ANGELA RO RO. In: Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Rio de Janeiro: Instituto Cultural Cravo Albin. Disponível em: http://www.dicionariompb.com.br/angela-maria-diniz-goncalves/dados-artisticos. Acesso em 19/11/2011.
- ANGELA RO RO. In: O Estado do Parana.com.br: Paula Melech. Curitiba. Disponível em: http://www.paranaonline.com.br/editoria/almanaque/news/473891/?noticia=O+ANO+DE+COMEMORACOES+DE+ANGELA+RO+RO. Acesso em 22/11/2011.
- MARCONDES, Marcos Antônio. Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed., rev. ampl. São Paulo: Art Editora, 1998.
- NAVES, Santuza Cambraia. "Angela Ro Ro". In SÜSSEKIND, Flora; DIAS, Tânia; AZEVEDO, Carlito (orgs). Vozes femininas: gênero, mediações e práticas de escrita. Rio de Janeiro, 7 Letras/Fundação Casa Rui Barbosa, 2003.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
ANGELA Ro Ro.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa608188/angela-ro-ro. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7