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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Meran Vargens

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 16.02.2024
1963 Brasil / Rio de Janeiro / Petrópolis
Meran Muniz da Costa Vargens (Petrópolis, Rio de Janeiro, 1963). Atriz, arte-educadora e diretora teatral. Aos 12 anos, vê pela primeira vez uma peça, O Rapto das Cebolinhas, com texto de Maria Clara Machado (1921-2001). Ainda menina, muda-se de Petrópolis, Rio de Janeiro, para o interior da Bahia, nos arredores de Camacan. Já na adolescência, p...

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Meran Muniz da Costa Vargens (Petrópolis, Rio de Janeiro, 1963). Atriz, arte-educadora e diretora teatral. Aos 12 anos, vê pela primeira vez uma peça, O Rapto das Cebolinhas, com texto de Maria Clara Machado (1921-2001). Ainda menina, muda-se de Petrópolis, Rio de Janeiro, para o interior da Bahia, nos arredores de Camacan. Já na adolescência, passa a morar em Ilhéus. Na escola, com auxílio da professora de literatura, faz uma interpretação de Iracema, de José de Alencar (1829-1877). Em férias no Rio de Janeiro, assiste ao espetáculo Trate-me Leão, do grupo carioca Asdrúbal Trouxe o Trombone, que se torna outra referência em seu trabalho. 

Novamente em Ilhéus, faz o primeiro curso de teatro. Volta ao Rio de Janeiro e estuda com a professora de dança Angel Vianna (1928), uma forte influência em sua formação. Depois dessa experiência, em 1981, opta por retornar a Bahia e se estabelece em Salvador. Matricula-se no curso do Teatro Gamboa, coordenado por Eduardo Cabús. Ali, tem aulas com Leonel Nunes e Jurema Penna (1927-2001), entre outros. Também em 1981, é aluna no Curso Livre do Teatro Castro Alves (TCA), que reúne uma geração de jovens atores com participação expressiva na produção teatral baiana na década de 1980. Nos anos seguintes, trabalha com diretores importantes, como Márcio Meirelles e Paulo Dourado.

A conclusão do Curso Livre do TCA é feita com a apresentação da peça Ubu Rei, de Alfred Jarry (1873-1907). Do núcleo que participa dessa encenação, surge, em 1982, o grupo O Pessoal do Ubu, desfeito em 1984. Também no TCA, tem aulas de direção, ministradas por Paulo Dourado. Em 1985, conclui graduação em educação artística com habilitação em artes cênicas na Universidade Católica de Salvador (Ucsal). Em 1989, participa do espetáculo Recital da Novíssima Poesia Baiana, que dá origem ao grupo Los Catedrásticos, que faz sucesso na época. A partir de 1991, torna-se professora-adjunta na Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Faz especialização em composição coreográfica na Escola de Dança da UFBA, em 1994. Conclui mestrado em teatro na Universidade de Londres, Inglaterra, em 1997. Integra a Companhia de Teatro Os Bobos da Corte, grupo formado em 1998 como projeto de extensão da UFBA e que posteriormente desvincula-se da universidade, realizando vários espetáculos e ações de formação dirigidas e coordenadas por Meran Vargens, até 2005. Desde 1998, atua como orientadora no programa de pós-graduação da Escola de Teatro da UFBA. Na mesma instituição, em 2005, torna-se doutora em artes cênicas. É convidada a lecionar como professora visitante da Universidade Finis Terrae, de Santiago, no Chile. Em 2010, faz pós-doutorado na Universidade Federal de Campinas (Unicamp).

Análise
Meran Vargens é uma importante atriz do teatro baiano, que começa sua carreira nos anos de 1980, uma década que vê surgir uma nova geração de artistas responsáveis pela renovação da produção cênica local. Suas atividades se dividem entre a atuação e a carreira de professora, seja no âmbito acadêmico ou ministrando cursos e oficinas para grupos e artistas amadores no interior do estado. Dentro desse universo, seu trabalho tem alguns elementos constituintes que se repetem: a dedicação à divulgação da literatura brasileira por meio do teatro (o que a leva a realizar frequentemente adaptações de textos literários); um processo criativo que faz uso de várias linguagens, como dança, canto, teatro, poesia; e a realização de encontros que envolvem muitas pessoas, criando ambientes propícios à produção colaborativa.

Outro componente marcante é a atenção dada à palavra, mais precisamente à voz. Além da experiência como professora dessa área específica na universidade, Meran atribui esse traço distintivo de suas atuações ao encontro que tem com a professora de voz Lia Mara, ainda quando aluna do Curso Livre do TCA. Essa relação de ensino-aprendizagem estende-se por alguns anos e marca definitivamente sua prática e seu olhar sobre a formação de atores. Um dos procedimentos que mais valoriza em sala de aula é a centralidade do relacionamento com o outro, configurando o processo de aprendizagem como um  intenso exercício de afetividade e autoconhecimento.

A versatilidade que caracteriza sua relação com o teatro se fortalece no período em que está na Inglaterra, fazendo o mestrado. A partir de então, sua atenção se volta a aspectos de responsabilidade social e de condução ética do trabalho com formação em teatro, seja voltado para atores ou não atores. Para Meran, o rigor excessivo impede a atmosfera de leveza e de mobilidade nos grupos de trabalho. O exercício da empatia é a base para a dissolução de possíveis conflitos. O grupo é sempre dividido entre aqueles que atuam e aqueles que observam, num revezamento contínuo. Todos ajudam a construir a cena desejada por cada integrante. Essa observação regular e escuta constante vão capacitando o grupo para o acolhimento daquilo que é produzido, sem excessos de crítica ou complacência.

Em seu trabalho, enfatiza o corpo e seu potencial expressivo e afirma que a primeira providência a ser tomada para a interpretação é o reconhecimento do impulso para agir, trabalhado por meio da respiração, durante a prática de movimentos conjuntos, sempre de modo silencioso. Tais exercícios colaboram para a conquista da intimidade do aluno-ator com o seu imaginário, as suas possibilidades vocais, os seus possíveis bloqueios. Também estabelece um repertório e diversas percepções e leituras de si e do outro.

Essa mesma investigação de possibilidades se dá na relação com o texto. Além do levantamento das circunstâncias que ele propõe, o ator precisa abordá-lo por uma instância lúdica, que viabilize associações e eclosões de imagens, que muitas vezes não foram pensados nem por quem produziu o texto. Por isso o ator não deve se contentar apenas com a racionalização do que é lido.

A dinâmica de ocupação do espaço cênico, a composição cenográfica, o figurino a ser utilizado, a maquiagem mais coerente com a proposta cênica em elaboração: tudo isso vem depois, como consequência do trabalho de mergulho no texto. O fundamental é garantir um tempo de pesquisa para essa acomodação do texto, essa adaptação. O fio condutor das ações que possibilitam a integração entre ator e texto é baseado em três princípios norteadores da prática pedagógica de Meran e também da sua interpretação como atriz: "a) Voz é resultado; b) Todo o trabalho de preparação vocal do ator deve ser realizado no contexto da linguagem teatral, lembrando que voz e fala têm endereço; c) Sob o ponto de vista pedagógico, estamos formando um artista".1

Segundo Meran, trabalhando com todos esses elementos, é possível formar um ator mais completo, ciente de seu protagonismo e com ferramentas para aprofundar-se, num aprendizado contínuo, em seu ofício. 

Nota
1 VARGENS, Meran Muniz da Costa. O exercício da expressão vocal para o alcance da verdade cênica: construção de uma proposta metodológica para a formação do ator ou a voz articulada pelo coração. 2005. Tese (doutorado em artes cênicas). Escola de Teatro, Universidade Federal da Bahia (UFBA), Salvador, 2005, 74-119.

Espetáculos 2

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Fontes de pesquisa 2

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  • ARAÚJO, Roberto Lúcio Cavalcante de. O triângulo de Ceres: metodologias fundamentais para formação de atores em Salvador. 450 f. il. 2010. Dissertação de mestrado, Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Salvador, 2010.
  • ESPETÁCULOS Teatrais. [Pesquisa realizada por Márcio Freitas]. Itaú Cultural, São Paulo, [20--]. 1 planilha de fichas técnicas de espetáculos. Não catalogado

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