Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Wilson das Neves

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 22.07.2024
14.06.1936 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
26.08.2017 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Wilson das Neves (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1936 - idem, 2017). Baterista, percussionista, compositor e cantor. A formação musical de Wilson das Neves tem início na virada da década de 1940 para a de 1950, quando tem aulas com o percussionista Edgar Nunes Rocca, conhecido como Bituca. Depois, recebe ensinamentos formais de Darci Barbosa e ...

Texto

Abrir módulo

Biografia

Wilson das Neves (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1936 - idem, 2017). Baterista, percussionista, compositor e cantor. A formação musical de Wilson das Neves tem início na virada da década de 1940 para a de 1950, quando tem aulas com o percussionista Edgar Nunes Rocca, conhecido como Bituca. Depois, recebe ensinamentos formais de Darci Barbosa e Joaquim Naegle. Aliado aos aprendizados teóricos de música, Wilson das Neves convive com grandes nomes da música popular brasileira, principalmente no meio do samba, sendo integrante da escola Império Serrano. No anos 1950, toca em alguns conjuntos, como o de Ubirajara Silva. De 1957 a 1958, toca como baterista da pianista Carolina Cardoso de Menezes. Na década seguinte, integra as orquestras de Astor Silva, da TV Globo, no Rio, da TV Excelsior, em São Paulo, além de fazer partes dos conjuntos de Ed Lincoln e de Steve Bernard. Em 1964, forma o grupo Os Ipanemas, ao lado de Astor Silva, Neco, Rubens Bassini e Marinho, registrando um disco no mesmo ano. No ano seguinte, participa do álbum Coisas, de Moacir Santos (com quem chega a ter aulas de teoria musical). Três anos depois, lança com Elza Soares o LP Elza Soares – Baterista: Wilson das Neves, no qual faz gravações de Garota de Ipanema, Mulata Assanhada, O Pato, Balanço Zona Sul e Saudade da Bahia. Em 1969, lança seu primeiro disco solo, Som Quente É o Das Neves, em que registra composições como Zazueira (Jorge Ben), Se Você Pensa (Roberto Carlos e Erasmo Carlos) e Irene (Caetano Veloso). Em 1976, com outra formação, lança o disco O Som Quente É o Das Neves, com Berimbau (Baden Powell e Vinicius de Moraes), Os Caras Querem (João Donato e Orlandivo), além de temas autorais, como Estou Chegando Agora, Que É Isso, Menina e Tema Pra Elizeth. Apesar de os nomes parecidos, são dois álbuns completamente diferentes. Em 1970, lança Samba Tropi – Até Aí Morreu Neves, com Essa Moça Tá Diferente (Chico Buarque), Bebete Vambora (Jorge Ben), Come Together (John Lennon e Paul McCartney), entre outras.

Ao longo de sua carreira, grava com os nomes mais importantes da música popular brasileira. Na lista que inclui mais de 600 artistas, Chico Buarque (para quem toca bateria desde 1982), Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Gal Costa, Nana Caymmi, Cartola, Candeia, Roberto Ribeiro, João Nogueira, Martinho da Vila, Clara Nunes, Beth Carvalho, Elizeth Cardoso, Elis Regina, Zeca Pagodinho, Francis Hime, Tim Maia, Wilson Simonal, João Bosco, Ney Matogrosso, Eumir Deodato, João Donato, Luiz Melodia, Roberto Menescal, Marcos Valle, Nara Leão, Nelson Gonçalves, Egberto Gismonti, entre outros. No fim da década de 1990, passa a integrar a big band Orquestra Imperial, com a qual lança um EP e o CD Carnaval Só no Ano Que Vem (2007). A partir da década de 1990, lança discos como compositor e cantor. Em 1996, com O Som Sagrado de Wilson das Neves, ganha o Prêmio Sharp de cantor revelação, com temas ao lado de seu parceiro mais constante, Paulo César Pinheiro, e participação de Chico Buarque. Em 2004, lança Brasão de Orfeu, com destaque para temas como Imperial (dele e Aldir Blanc), Samba Pra Mim Mesmo (com Paulo César Pinheiro), De Muito Longe (com Délcio Carvalho) e Lupiciniana (com Nei Lopes). O disco lhe rende uma indicação ao Grammy Latino. Em 2010, lança Pra Gente Fazer Mais um Samba, com sete parcerias com Paulo César Pinheiro, além de temas feitos com Arlindo Cruz, Délcio Carvalho, Nelson Rufino, Nei Lopes, Victor Hugo Pessoa e Roque Ferreira.

Análise

De acordo com críticos e especialistas, Wilson das Neves é um dos bateristas e percussionistas mais importantes da história da música brasileira. Com mais de 50 anos de carreira, o instrumentista carioca acompanha nomes vinculados aos mais diversos gêneros musicais, tocando com artistas que não eram apenas sambistas, como Ivan Lins, Egberto Gismonti, Eumir Deodato, Ed Lincoln, João Donato, Maria Bethânia, Gal Costa, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Elza Soares, Moacir Santos, Ney Matogrosso, entre outros. Mas é no universo do samba que seu nome é mais associado. Cria do Império Serrano, da qual ele chega a fazer parte da ala de ritmistas, Wilson das Neves grava e se apresenta com Cartola, Candeia, João Nogueira, Clara Nunes, Beth Carvalho, Zeca Pagodinho, Nelson Sargento, Nei Lopes, Clementina de Jesus, Monarco, e mais uma infinidade de nomes. Além de poucas aulas formais que ele tem com alguns professores, sua maior escola se dá pelo convívio com todos os músicos com quem toca ou escuta suas gravações. Dentro da linhagem do samba, como diz sua composição “O Samba é Meu Dom”, com letra de Paulo César Pinheiro, Wilson das Neves aprende a fazer samba com mestres como Mario Reis, Vassourinha, Ataulfo Alves, Ismael Silva, Jamelão, Roberto Silva, Sinhô, Donga, Ciro Monteiro, João Gilberto, Silas de Oliveira, Aniceto do Império, Anescar do Salgueiro, Zé com Fome, Herivelto Martins, Marçal, Mirabeau, Henricão, entre tantos outros. Mesmo se especializando em um instrumento percussivo, Das Neves aprende a ler partituras – principalmente as figuras rítmicas -, mas define a bateria como “um instrumento para sentir, não para ouvir”.

Aliada à sua formação informal, tocando em conjuntos de bailes e em rodas de samba, Wilson das Neves aprimora seus conhecimentos no início da década de 1960, quando passa a ser um músico contratado pela Rádio Nacional, no Rio de Janeiro. A emissora, como o habitual da época, tem suas próprias orquestras – que se apresentam em programas ao vivo -, ensaiadas e regidas por maestros e arranjadores como Moacir Santos, Guerra Peixe, entre outros. Além de grande referência, Moacir passa a dar aulas a Wilson das Neves. Ambos chegam a tocar juntos na década de 1950, em bailes, mas a relação se estreita a partir de 1961. Anos depois, Das Neves participa da gravação do disco Coisas, de Moacir, lançado em 1965, pelo selo Forma. O músico carioca toca bateria nas dez faixas do álbum, interpretando com personalidade os complexos temas escritos por Moacir Santos, que extrapolam fronteiras de linguagens (com influências de jazz, ritmos africanos e latinos), porém soam genuinamente brasileiros. A esta altura, Das Neves já tem seu estilo solidificado, influenciando outros bateristas. Principalmente na maneira de tocar samba, ele criou uma nova escola. Absorvendo estilos diferentes de seus professores, ele passa a conduzir sambas batendo duas vezes em cada tom do instrumento, criando uma sonoridade e uma cadência singulares. Essa maneira de interpretar – essencialmente o samba – não se dá apenas na bateria, com a qual Das Neves ganha projeção, mas também em diversos instrumentos como tamborim, surdo, pratos, caixa, agogô, cuíca, triângulo, ganzá, berimbau e até tímpanos.

Na década de 1960, Das Neves participa de outro registro antológico da música brasileira. Com domínio sobre as diversas derivações de samba, ele chega a classificar a bossa nova também como um subestilo do gênero carioca. Prova disso é sua maneira de interpretar standards da bossa nova, como Garota de Ipanema, Balanço Zona Sul, O Pato, no disco Elza Soares – Baterista: Wilson das Neves, de 1968. No álbum, está o clássico diálogo entre os vocalizes de Elza e a bateria de Das Neves – com perguntas, repostas e comentários – na faixa Deixa Isso Pra Lá. Nos anos 1960 e 1970, lança discos assinados com seu nome, mas sua principal contribuição para a música a brasileira se dá nos registros que faz como acompanhante de diversos artistas nacionais. Entre gravações de destaque, Vou Deitar e Rolar, com Elis Regina; O Mar Serenou, com Clara Nunes; Samba de Verão, com Marcos Valle; Pelas Tabelas, com Chico Buarque; O Bêbado e a Equilibrista, com João Bosco; Atrás do Trio Elétrico, com Caetano Veloso; Primavera, com Tim Maia; entre outras.

Como compositor, ele escreve suas primeiras músicas em 1973. Décadas depois, em 1996, lança seu primeiro disco O Som Sagrado de Wilson das Neves, produzido por Paulo César Pinheiro, com quem assina doze das catorze faixas do álbum. As duas restantes são Partido do Tempo, só de Das Neves, e Grande Hotel, com letra e participação de Chico Buarque. Neste mesmo disco, o instrumentista faz sua estreia como cantor, mostrando personalidade ao microfone, com um timbre grave, ao mesmo tempo rouco e aveludado, mas afinado e com o suingue dos grandes intérpretes que ele escuta ao longo de sua vida. Além de Grande Hotel, O Samba É Meu Dom (parceria com Paulo César Pinheiro, com quem ele tem mais de 80 sambas compostos) se torna a música mais conhecida de Wilson das Neves. Outros registros em sua voz, como Era Bom, ao lado da Orquestra Imperial, também ganham grande repercussão entre gerações mais novas. Depois de seu primeiro disco como compositor e intérpretes de suas próprias músicas, Das Neves lança mais dois trabalhos – Brasão de Orfeu e Pra Gente Fazer Mais Um Samba -, que seguem a mesma linha do anterior, mesclando sambas dolentes e elegantes com outros mais animados, sempre com composições simples, mas elaboradas em termos melódicos, rítmicos e harmônicos, acompanhadas de letras dos parceiros como Paulo César Pinheiro, Chico Buarque, Roque Ferreira, Délcio Carvalho, Claudio Jorge, Arlindo Cruz, Nei Lopes, entre outros.

Obras 1

Abrir módulo

Fontes de pesquisa 6

Abrir módulo
  • ECHEVERRIA, Regina. Furacão Elis. Rio de Janeiro: Editora Nórdica. 1985.
  • MARIANO, César Camargo. Solo - César Camargo Mariano - Memórias. São Paulo, Editora Leya, 2011.
  • MUGGIATI, Roberto. Improvisando Soluções. São Paulo. Best Seller, 2008.
  • Morre aos 81 anos o sambista Wilson das Neves no Rio. G1, Rio de Janeiro, 27 ago. 2017. Disponível em: < http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/sambista-wilson-das-neves-morre-aos-81-anos-no-rio.ghtml >. Acesso em: 27 ago, 2017.
  • NOBILE, Lucas. Maturidade de intérprete. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 08 nov. 2011. Caderno 2.
  • SEVERIANO, Jairo; MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras (vol. 2: 1958-1985). São Paulo: Editora 34, 1998. (Coleção Ouvido Musical).

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: