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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Marcondes Lima

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 27.06.2022
27.05.1966 Brasil / Pernambuco / Petrolândia
Marcondes Gomes Lima (Petrolândia, Pernambuco, 1966). Diretor, cenógrafo, figurinista, ator e titeriteiro. É um dos mais atuantes profissionais da cena pernambucana nos anos 1990 e 2000. Em suas encenações, lida igualmente bem com os recursos artesanais e com os que empregam sofisticada tecnologia, como se pode constatar em seus trabalhos, em es...

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Biografia

Marcondes Gomes Lima (Petrolândia, Pernambuco, 1966). Diretor, cenógrafo, figurinista, ator e titeriteiro. É um dos mais atuantes profissionais da cena pernambucana nos anos 1990 e 2000. Em suas encenações, lida igualmente bem com os recursos artesanais e com os que empregam sofisticada tecnologia, como se pode constatar em seus trabalhos, em especial os realizados com os grupos Mão Molenga Teatro de Bonecos e Coletivo Angu de Teatro.

Ingressa no curso de licenciatura em educação artística com a intenção de habilitar-se em artes plásticas, no entanto, conclui a licenciatura plena em artes cênicas na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), no período de 1984 a 1988. Torna-se professor na mesma universidade, em 1992, e obtém o grau de mestre em artes cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), com a dissertação A Arte do Brincante no Mamulengo e no Bumba Meu Boi, com orientação do professor Marco Antônio Camarotti Rosa, em 2003. A pesquisa resulta, em parte, da larga experiência - teórica e prática - com o grupo Mão Molenga Teatro de Bonecos, fundado por ele, Carla Denise, Fábio Caio e Fátima Caio, em 1986.

Inicia-se como figurinista e ator, em 1985, na peça A Incrível Viagem, de Doc Comparato, com direção do estreante Manoel Constantino, realização do grupo Cara Pintada. No ano seguinte, faz seu primeiro trabalho como cenógrafo, em Nadim Nadinha contra o Rei de Fuleiró, de Mário Brasini, espetáculo em que também é  ator e figurinista. Em 1992 assina seu primeiro espetáculo: O sem Nome, produção do Mão Molenga, com base no texto Coram Populo, de August Strindberg. Nesse espetáculo, faz contracenar atores, bonecos, máscaras e objetos, assina cenografia, direção, figurino, adereços, maquiagem e ainda participa como ator. A crítica Ivana Moura observa que o grupo usa com requinte os tons da obra do pintor e gravurista flamengo Hieronymus Bosch na construção visual do espetáculo, concluindo: "O percurso da peça é o mistério, ou melhor, a perseguição para desvendar o mistério. Para isso, o grande trunfo da montagem são imagens fortes e perturbadoras, que buscam mexer com o inconsciente, inspiradas nos quadros A Tentação de Santo Antônio e Jardim das Delícias".1

Entre 1988 e 1994, Marcondes Lima integra como ator e manipulador o Mamulengo Só-Riso, de Olinda, Pernambuco. Esse é um período em que se aprimora com os mestres Fernando Augusto e Nilson de Moura e com o cenógrafo Beto Diniz, com quem trabalha no espetáculo Olinda Olanda Olindamente Linda. Com o grupo Mamulengo, participa do Festival Internacional de Teatro de Campinas (FIT), em 1991, e entra em contato com o trabalho de Natsu Nakajima, mestre do butô; com o de Toni Cots, pesquisador do teatro-dança oriental e ex-membro do Odin Teatret; e da performer nova-iorquina Joan Evans, que explora técnicas de movimento, representação com atores e manipulação de bonecos em suas criações. Em 1994, encerrando sua experiência no Mamulengo Só-Riso, atua na remontagem do espetáculo Festança, apresentado em Charleville-Mézières, França.

No histórico de Marcondes Lima, destacam-se também os treinamentos com artistas como o dançarino indiano Astad Deboo, o diretor iraniano Massoud Saidpour e o bailarino pernambucano Henrique Schuler. Sua formação na área da cenografia se consolida com o curso que faz no Teatro Castro Alves, em Salvador, com o cenógrafo alemão Alexander Müller-Elmau, em 1995.

É com a montagem de As Preciosas Ridículas, de Molière, em 1995, com elenco formado por alunos da UFPE, que Marcondes Lima se firma como encenador no teatro recifense. Marcada por um preciosismo irônico e pelo jogo dos atores, fincado na commedia dell'arte, além de cumprir temporada no Recife, a peça realiza turnês por diversas cidades nordestinas, participa de vários festivais, e recebe quatro premiações, na Bahia, de espetáculo; em Blumenau, maquiagem; e no Recife, maquiagem e figurino.

O trabalho de Marcondes Lima com os bonecos não se dá apenas no circuito teatral, mas também em alguns projetos para a televisão. Entre 1991 e 1994, faz o programa junino Vamos Sê Cumpade, produzido pela TV Jornal/SBT. De 1999 a 2002, envolve-se na realização da série educativa 500 Anos, pela Massangana Multimídia Produções, da Fundação Joaquim Nabuco. A série é vista por mais de 28 milhões de professores e estudantes em todo o Brasil, por intermédio da TV Escola/MEC.

Em 2000, dirige Mistério Buffo, de Dario Fo, elogiada pelo crítico carioca Macksen Luiz, que assiste ao espetáculo no 3º Festival Recife do Teatro Nacional: "O grupo Parcas Sertanejas, de Recife, participa com Mistério Buffo, do italiano Dario Fo, que utiliza formas de representações sacras medievais dos mistérios para, também didaticamente, se aproximar do mundo contemporâneo. Sob a direção de Marcondes Lima, Mistério Buffo propõe nos quatro mistérios - todos relacionados com a vida de Cristo - registro de atores brincantes bem ao espírito da cultura popular nordestina. Ainda que Mistério Buffo esteja em processo de criação, a montagem já revela uma transposição inteligente ao estabelecer correspondência com linguagens populares".2 Para o mesmo grupo, realiza a montagem de MEDÉAponto, protagonizada por Augusta Ferraz, com base no texto da poeta portuguesa Sophia de Mello Brayner Andersen, em 2007.

Embora seja responsável por criações para as mais diversas produções pernambucanas, é no Coletivo Angu de Teatro, liderado por André Brasileiro, que Marcondes Lima pode investigar novas linhas de pesquisas, estreando em 2004, Angu de Sangue, de Marcelino Freire; em 2007, Ópera, adaptação de quatro contos de Newton Moreno; e em 2008, Rasif - Mar que Arrebenta, novamente de Marcelino Freire. Nessa trilogia o que prevalece no texto e na cena são traços nítidos de epicidade, com a utilização de imagens projetadas, por meio de vários mecanismos tecnológicos, mas dando a entrever na interpretação dos atores, uma dimensão subjetiva, em que um "eu lírico" redimensiona o épico causando, por vezes, o terror e/ou a piedade, em que o teatro ganha uma escritura narrativa, e põe em xeque o conceito convencional de dramaturgia, sem abandonar a questão da subjetividade. Configurada em uma estética pop, essa trilogia é perpassada pela temática homoerótica.

Ivana Moura comenta que, em Angu de Sangue, a encenação "investe na palavra", valorizando o texto do autor: "A montagem dirigida por Marcondes Lima partiu do texto bruto - sem adaptações para o teatro - de Marcelino Freire e está cheia de méritos. Da leitura crítica ao tecido social, sem esquecer a poesia, que brota do lixo e dos dejetos humanos. Passando pela coerência interna e o diálogo contundente entre os elementos e a possível fruição da peça como obra contemporânea".3

Ópera é dividido em quatro quadros, nos quais Marcondes recorre a várias linguagens: a radionovela, a fotonovela, a novela televisiva e a ópera. Para o professor Elton Bruno Soares de Siqueira, a montagem propõe "uma reflexão sobre o caráter multifacetado de nossa cultura brasileira e global, posicionando-se contra os discursos que se mostram portadores de 'verdades absolutas' para justificarem comportamentos de intolerância".4

Com Rasif - Mar que Arrebenta, a imprensa pernambucana constata que o grupo tem unidade e coerência estilística. "O Coletivo está construindo sua linguagem a partir da pesquisa que começou com Angu de Sangue e que conseguiu com Ópera, com texto de Newton Moreno. O texto segue para o palco sem maiores intervenções, dando ênfase a esse tipo de transcriação narrativa do gênero épico. Cada um dos sete atores assume mais de um papel, em figuras que revelam um mosaico nada inocente do tecido social. O Recife entra no mapa ao expor muitas contradições de suas diversas tribos".5

A originalidade de Marcondes Lima como homem de teatro, sintetizada especialmente em seus trabalhos com o Mão Molenga e com o Coletivo Angu de Teatro, é definida pelo artista João Denys: "Na história recente do teatro feito em Pernambuco, Marcondes Lima deixa sua marca incansável de um prolífero factótum a percorrer com consciência e desvelo os materiais constitutivos da criação cênica. [...] Seus trabalhos destilam um certo mito de atualidade, sem descurar da qualidade; [...] mas sem produzir polêmicas. Numa mirada panorâmica e veloz, Marcondes destaca-se no campo multicultural em que vive e produz por saber lidar, como só ele, com as ambivalências e complexidades de um brincante fashioned".6

Notas

1. MOURA, Ivana. Quartas em 1 ato: um bom projeto para o teatro pernambucano. Diario de Pernambuco, Recife, 16 ago. 1992. Viver, p. E-1.
2. LUIZ, Macksen. Festival do Recife usa cultura regional. Jornal do Brasil, 20 nov. 2000. Caderno B, p.3.
3. MOURA, Ivana. Soco na estagnação contemporânea. Diario de Pernambuco, Recife, 24 abr. 2004. Viver, p. C-4.
4. SIQUEIRA, Elton Bruno de. Encenador, o precioso. Suplemento Cultural do Diário Oficial do Estado, Recife, p. 9, fev. 2007.
5. MOURA, Ivana. Coletivo Angu bota Rasif no mapa. Diario de Pernambuco, Recife, 1 set. 2008. Viver, p. B-4.
6. DENYS, João. Depoimento concedido a Antonio Cadengue. Recife, 21 maio 2009.

Espetáculos 190

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Fontes de pesquisa 20

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  • A BONECADA visita o Brasil-Império. Cenário cultural, Recife, ano 2, n. 5, p. 3, set./ out. 2001.
  • COELHO, Sérgio Salvia. Festival dá visibilidade à pesquisa. Folha de S.Paulo, 2 abr. 2007. Ilustrada, p.E-3.
  • DENYS, João. Depoimento concedido a Antonio Cadengue. Recife, 21 maio 2009.
  • DOURADO, Rodrigo. O canto dos viajantes pós-modernos. Continente Multicultural, nº 75, Recife, mar. 2007, p.82.
  • LIMA, Janaína. Angu indigesto no ponto certo. Jornal do Commercio, Recife, 28 maio 2004. Caderno C, p. 5.
  • LIMA, Marcondes. Depoimento concedido a Antonio Cadengue. Recife, maio 2009. 13 f.
  • LUIZ, Macksen. Festival do Recife usa cultura regional. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 20 nov. 2000. Caderno B, p.3.
  • MEIRA, Tatiana. Nitroglicerina cênica. Diario de Pernambuco, Recife, 30 ago. 2008. Viver, p. D-1.
  • MINDÊLO, Olívia. Medéia revisto com Augusta Ferraz. Jornal do Commercio, Recife, 26 mar. 2007. Caderno C, p. 1.
  • MODESTO, Luiza. Mão Molenga: um mamulengo com pitada de mass mídia. Jornal do Commercio, Recife, 22 out. 1987. Caderno C, p.1.
  • MORAES, Fabiana. Ciranda de gente em carne viva. Jornal do Commercio, Recife, 30 ago. 2008. Caderno C, p. 1.
  • MORAES, Fabiana. Em Rasif, falando ninguém se entende. Jornal do Commercio, Recife, 1 set. 2008. Caderno C, p. 6.
  • MOURA, Ivana. Coletivo Angu bota Rasif no mapa. Diario de Pernambuco, Recife, 1 set. 2008. Viver, p. B-4.
  • MOURA, Ivana. Estreia de Ópera revela sua vocação para se tornar cult. Diario de Pernambuco, Recife, 15 jan. 2007. Viver, p. B-4.
  • MOURA, Ivana. Quartas em 1 ato: um bom projeto para o teatro pernambucano. Diario de Pernambuco, Recife, 16 ago. 1992. Viver, p. E-1.
  • MOURA, Ivana. Soco na estagnação contemporânea. Diario de Pernambuco, Recife, 24 abr. 2004. Viver, p. C-4.
  • MÃO Molenga foi destaque na TV. Jornal do Commercio, Recife, 30 jun. 1994. Caderno C, p. 6.
  • NOGUEIRA, Ana. Mão Molenga lança vídeo educativo. Diario de Pernambuco, Recife, 12 abr. 1997. Diarinho, p.4.
  • PALOMINO, Erika. Festival de Campinas rejeita esquema de vitrine e faz aposta na pesquisa. Folha de S.Paulo, 20 mar. 1991. Ilustrada, p. 5-1.
  • SIQUEIRA, Elton Bruno de. Encenador, o precioso. Suplemento Cultural do Diário Oficial do Estado, Recife, fev. 2007, p. 9.

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