Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Aarão Reis

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 10.04.2017
1853 Brasil / Pará / Belém
1936 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Aarão Leal de Carvalho Reis (Belém, Pará, 1853 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1936). Engenheiro geógrafo, engenheiro civil, professor, político, urbanista. Torna-se engenheiro geógrafo em 1872, bacharel em ciências físicas e matemáticas e engenheiro civil em 1874, na Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Nos primeiros vinte anos de sua carrei...

Texto

Abrir módulo

Biografia

Aarão Leal de Carvalho Reis (Belém, Pará, 1853 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1936). Engenheiro geógrafo, engenheiro civil, professor, político, urbanista. Torna-se engenheiro geógrafo em 1872, bacharel em ciências físicas e matemáticas e engenheiro civil em 1874, na Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Nos primeiros vinte anos de sua carreira, atua nas áreas de transporte, saneamento, energia e construção civil, como diretor das obras civis e hidráulicas do Ministério da Marinha, entre 1886 e 1889; engenheiro de obras civis e hidráulicas da Estrada de Ferro de Pernambuco, em 1889, e da Secretaria de Estado da Agricultura, Indústria, Viação e Obras Públicas, em 1890; engenheiro-chefe dos serviços de eletricidade da Estrada de Ferro D. Pedro II, entre 1881 e 1885, e da Estrada de Ferro da Tijuca, em 1891; e engenheiro-arquiteto nos projetos da Escola Naval, em 1887, e da Escola de Aprendizes de Marinheiros, em 1887, no Rio de Janeiro, ambas não construídas.

Trabalha também como consultor técnico no Ministério da Agricultura, entre 1889 e 1891, e no das Relações Exteriores. Preside a Comissão Geral de Melhoramentos do Maranhão, de 1891 a 1892, quando é convidado entre 1892 e 1894 pelo presidente do Estado de Minas Gerais, Afonso Augusto Moreira Pena (1847 - 1909), a dirigir a Comissão d'Estudo das Localidades Indicadas para a Nova Capital, e depois conduzir a Comissão Construtora da Nova Capital, 1894/1895. Em virtude de sua postura técnica e centralizadora, pouco afeita a concessões políticas, pede exoneração do cargo em maio de 1895. A partir desse momento dedica-se, sobretudo, ao serviço público, como diretor dos Correios da República, 1895, do Banco do Brasil, 1895/1897, e da Estrada de Ferro Central do Brasil, 1906/1910, como inspetor-geral de obras contra a seca, 1913/1918, e consultor do ministro de Viação e Obras Públicas, 1918; à iniciativa privada, como diretor da Empresa Industrial Serra do Mar, 1899/1906; e à política. Após uma tentativa frustrada de ser senador pelo Estado do Maranhão, em 1896, e de assumir como suplente a cadeira de deputado pelo Estado do Pará, em 1911, Reis elege-se nas legislaturas de 1927-1929 e 1929-1931, e perde o mandato com a Revolução de 1930.

É professor desde 1869, no Colégio Perseverança, no Rio de Janeiro, de propriedade de seu pai; e no curso técnico da Escola Politécnica, entre 1905 e 1914; depois torna-se responsável pela cadeira de economia política, finanças, direito constitucional e administrativo e estatística, de 1914 a 1925. Publica manuais, relatórios, pareceres técnicos e livros, destacando-se os artigos sobre educação no jornal O Globo, reunidos no livro A Instrução Superior no Império, 1875, e os dedicados à comissão de construção de Belo Horizonte, divulgados entre 1893 e 1895.

Análise

Participante da primeira geração de urbanistas no Brasil, Aarão Reis é responsável pela maior iniciativa urbanística do século XIX no Brasil: a construção da nova capital do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte. Com as limitações que a sede administrativa, Ouro Preto, tem para atender às recentes necessidades econômicas e políticas decorrentes da cafeicultura e da proclamação da república, em 1889, a nova capital começa a ser concebida quando, em 1891, Aarão Reis assume a direção da Comissão d'Estudo das Localidades Indicadas para a Nova Capital, responsável pelo estudo comparativo das localidades previamente selecionadas - Juiz de Fora, Barbacena, Paraúna, Arraial de Belo Horizonte e Várzea do Marçal. Analisando suas potencialidades em termos de salubridade, abastecimento de água e de energia elétrica, acessibilidade e custos de implantação, Reis conclui que apenas as duas últimas atendem às necessidades da nova capital, a Várzea do Marçal tendo como vantagem a ligação com a rede ferroviária do país. Apesar dessa ressalva, o Congresso mineiro, motivado por questões políticas, escolhe, em 1892, Arraial de Belo Horizonte.

Uma vez definida a localização da nova capital, Reis assume a Comissão Construtora da Nova Capital, entre 1894 e 1895, encarregada do projeto e da implantação de uma cidade para abrigar uma população de 30 a 200 mil habitantes. No plano, a cidade é dividida em três zonas: urbana, suburbana e de sítios. Na primeira, o engenheiro adota duas tramas ortogonais sobrepostas deslocadas em 45 graus, circundadas pela avenida de Contorno. O desenho, segundo o historiador da arquitetura Yves Bruand, corrige os inconvenientes do tabuleiro de xadrez, pois "a multiplicação dos eixos de direção reduzia as distâncias e evitava deslocamentos em linha quebrada; a variedade das combinações possíveis quebrava a monotonia absoluta do xadrez puro sem alterar a perfeição da figura geométrica global",1 tão cara aos engenheiros e arquitetos do período.

A zona urbana concentra as atividades administrativas e comerciais, os edifícios públicos localizando-se no eixo dos extensos bulevares arborizados das avenidas diagonais de modo a acentuar sua monumentalidade. Também fazem parte dessa zona o bairro dos funcionários, organizado ao redor do palácio do governo e das secretarias, os palácios do Congresso e da Justiça, a municipalidade, o bairro comercial, o mercado, a estação ferroviária, uma capela, um hotel, escolas, o hospital, o jardim zoológico e o parque, centro recreativo e de lazer, desenhado na avenida Afonso Pena, principal diagonal da capital.

O limite entre a zona urbana e suburbana é demarcado pela avenida de Contorno, que circunda de forma irregular a primeira, garantindo a integração entre os diferentes setores da cidade. Esse limite é reforçado pela interrupção da malha viária da zona urbana na referida avenida, e pela flexibilidade do traçado viário adotado na zona suburbana, tão diferente da racionalidade, regularidade e monumentalidade características da primeira zona. Essa área concentra as atividades de apoio à zona urbana, como o cemitério, os reservatórios de água, o matadouro, as casas de máquinas dos esgotos e as oficinas do ramal férreo. A terceira zona faz a transição entre as duas primeiras e a zona rural, abastecendo a cidade de gêneros alimentícios.

"O plano elaborado por Reis para a nova capital de Minas denota conhecimento e proximidade com relação ao plano de Washington, à reforma realizada por Georges-Eugène Haussmann (1809 - 1891) em Paris e, sobretudo, ao plano de La Plata, na Argentina, com o qual o projeto da capital mineira divide uma mesma concepção urbanística. Da experiência francesa, Reis [aproveita] principalmente a idéia dos extensos bulevares arborizados e a importância concedida aos parques e às praças ajardinadas; para isto a contribuição de seu colaborador, o 'arquiteto-paisagista' francês Paul Villon, deve ter sido de grande valia. Com La Plata, o plano de Belo Horizonte [tem] muito em comum: o sistema de quadrículas cortado por vias diagonais e 'fechado' por um bulevar circular, a importância das áreas verdes, os quarteirões com 120 metros de lado",2 sua concepção conta com o auxílio do arquiteto suíço João Morandi (1862 - 1936), que participa da construção de La Plata.

Em maio de 1895, Reis deixa a direção da comissão, sendo substituído pelo engenheiro Francisco de Paula Bicalho (1847 - 1919), que inaugura a capital em dezembro de 1897. Segundo Bruand, o plano de Reis sofre três modificações consideráveis na sua execução: a atenuação do contraste entre o traçado ortogonal da cidade e o desenho orgânico do parque; a não execução da maioria das praças projetadas; e a concentração dos edifícios administrativos, antes dispersos pela cidade, em torno do palácio de governo.

Apesar de atender aos objetivos da nova sede administrativa, o plano pode ser criticado em alguns aspectos: do ponto de vista viário a adoção da malha ortogonal na acidentada topografia de Belo Horizonte, o uso de diagonais e os conseqüentes quarteirões triangulares, além da descontinuidade da malha viária da zona urbana na zona suburbana, dificultam a circulação, sobretudo de automóvel. E a não previsão de espaços destinados à população de baixa renda tem como conseqüência desastrosa a ocupação dispersa e não planejada das zonas suburbanas e de sítios, a subversão da lógica inicial de crescimento - do centro para a periferia -, e a construção de um tecido urbano descontínuo que só se consolida nas primeiras décadas do século XX.

Notas

1. BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1981, p. 347.

2. GOMES, Marco Aurélio A. de Filgueiras e LIMA, Fábio José Martins de. Pensamento e prática urbanística em Belo Horizonte, 1895 - 1961. In: LEME, Maria Cristina da Silva (coord.). Urbanismo no Brasil, 1895-1945. São Paulo: Studio Nobel: FAUUSP: FUPAM, 1999, p. 121.

 

Obras 1

Abrir módulo

Fontes de pesquisa 3

Abrir módulo
  • BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1981.
  • LEME, Maria Cristina (org). Urbanismo no Brasil, 1895-1965. São Paulo: Faculdade de Arquitetura, FAU-USP/ Studio Nobel, 1999.
  • SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil, 1900-1990. 2.ed. São Paulo: Edusp, 1999.

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: