Clarissa Diniz
Texto
Clarissa Diniz de Moura (Recife, Pernambuco, 1985). Curadora, pesquisadora, crítica de arte. Realiza pesquisas voltadas para a arte contemporânea, sobretudo questionando e expandindo noções de crítica, curadoria, circulação e do que é a arte brasileira. A questão social é tema presente em suas produções.
Em 2008, completa a licenciatura em educação artística e artes plásticas pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Durante o curso, idealiza a revista Tatuí (2006), periódico independente, de caráter experimental, dedicado a explorar e ampliar aspectos diversos da crítica de arte. Atua como editora e coordenadora da revista até seu encerramento (2015), e comissiona textos, promove debates e residências editoriais, em que algumas edições são concebidas coletivamente.
No Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam), em Recife, realiza a exposição contidonãocontido (2010), com cocuradoria de Maria do Carmo Nino (1945) e do educativo do museu. A mostra acontece como um laboratório, em que a equipe, junto ao público, lança um olhar crítico para o acervo da instituição e propõe reflexões sobre sua legitimidade e representatividade.
Ingressa no mestrado do Programa de Pós-Graduação em Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro em 2011, e muda-se para a capital carioca. Obtém o título de mestre com a dissertação Cama de Gato – um ensaio a partir de "Malhas da Liberdade", de Cildo Meireles (2013). A pesquisa analisa as estratégias políticas e de alteridade da produção do artista multimídia Cildo Meireles (1948) e, de modo mais amplo, de parte da arte brasileira da época.
No Itaú Cultural, realiza a exposição Contrapensamento Selvagem (2011), com cocuradoria de Cayo Honorato (1979), Orlando Maneschy (1968) e Paulo Herkenhoff (1949). A mostra reúne artistas de fora do eixo Rio-São Paulo e funciona como um manifesto de não pureza conceitual, em que as obras se contaminam no ambiente expositivo, compondo uma apresentação caótica. O interesse dos curadores é evidenciar o poder disruptivo da arte. A exposição marca o modo de atuação que Diniz e Herkenhoff levam para o projeto curatorial do Museu de Arte do Rio (MAR). Inaugurado em março de 2013, na zona portuária carioca, o MAR é implementado por Herkenhoff, seu primeiro diretor, como um museu poroso, que se constitui com base na comunidade. Segundo Herkenhoff,
Clarissa Diniz deve atuar à frente dessa interlocução fundamental por ser uma curadora que "valoriza o trabalho em conjunto"1. Diniz participa ativamente da conformação do museu e integra a equipe como gerente de conteúdo, desenvolvendo projetos editoriais, programas públicos, exposições e trabalhando ações de interlocução com a comunidade.
As exposições que realiza no MAR são marcadas pelo trabalho curatorial coletivo, por envolver comunidades geralmente marginalizadas pelo circuito da arte e pela transversalidade. Entre elas, destacam-se: Do Valongo à Favela: Imaginário e Periferia (2014), em que o museu é aproximado de sua vizinhança com base no imaginário e nas representações do Rio de Janeiro, sobretudo da contribuição afro-brasileira na conformação da região; Dja Guata Porã – Rio de Janeiro Indígena (2017), em que o Rio é abordado sob a perspectiva das comunidades indígenas locais, que participam da curadoria e criam obras comissionadas; e O Rio do Samba: Resistência e Reinvenção (2018), que aborda aspectos sociais, culturais e políticos da história do samba.
Clarissa Diniz encerra suas atividades no MAR em 2018, quando integra como professora a equipe da Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV Parque Lage). Em 2019, inicia o doutorado em sociologia e antropologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Sua pesquisa parte das relações entre a arte moderna brasileira e os povos indígenas para analisar os modos pelos quais a arte produz violência epistêmica.
Entre 2016 e 2019, realiza curadorias importantes feitas de forma coletiva, que lançam um olhar provocativo e subversivo para a arte, questionando seus cânones e propondo novas acepções. Entre elas, a 13ª Bienal Naifs do Brasil, no Sesc Piracicaba e no Belenzinho (2016 e 2017), intitulada Todo Mundo É, Exceto Quem Não É, que apresenta artistas naïf ao lado de outros já estabelecidos. A provocação dos curadores é apresentar o naïf como condição generalizada e analisar de forma inclusiva os diálogos possíveis entre os artistas. A exposição À Nordeste (2019), realizada no Sesc 24 de Maio, em São Paulo, apresenta um conjunto heterogêneo de obras e artistas, para refletir sobre as relações complexas entre centralidades e periferias no Brasil. A ideia é problematizar a noção de uma identidade fixa de Nordeste. A provocação se revela no título, que, ao optar pela crase ao invés do artigo definido, sugere a ideia de posição, perspectiva e movimento.
Como crítica de arte, Diniz se destaca pela escrita contundente e questionadora. Além da publicação de artigos, organiza e colabora com projetos editoriais. Entre eles: Crachá: Aspectos da Legitimação Artística (2008), acerca das dinâmicas de legitimação social existentes no campo da arte; e Crítica de Arte em Pernambuco: Escritos do Século XX (2012), coletânea que busca ampliar o sentido de “texto crítico” com base na prática crítica pernambucana.
A crítica de arte aliada a práticas experimentais e a atividade curatorial colaborativa marcam a trajetória profissional de Clarissa Diniz, que colabora com o desenvolvimento e a consolidação da carreira de artistas e contribui ativamente com a pesquisa sobre arte contemporânea brasileira e sua circulação.
Nota
1. AOS 28 ANOS, Clarissa Diniz se destaca como curadora-assistente no MAR. O Globo, Rio de Janeiro, 17 maio 2014. Caderno Cultura.
Exposições 27
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13/8/2009 - 13/9/2009
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29/6/2011 - 31/7/2011
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22/10/2011 - 23/12/2011
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2011 - 2011
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Performances 1
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23/10/2011 - 23/10/2011
Fontes de pesquisa 32
- A PROCURA de reconhecimento. Diário do Nordeste, Fortaleza, 24 jan. 2009. Caderno 3. disponível em: https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/verso/a-procura-de-reconhecimento-1.623073. Acesso em: 29 maio 2020.
- ALZUGARAY, Paula. Do lixo ao pixo. Revista ISTOÉ, São Paulo, 9 nov. 2011. Artes Visuais. Disponível em: https://istoe.com.br/173844_DO+LIXO+AO+PIXO/. Acesso em: 27 maio 2020.
- ALZUGARAY, Paula. Uma região pintada de vermelho. Revista ISTOÉ, São Paulo, 7 jun. 2019. Artes Visuais. Disponível em: https://istoe.com.br/uma-regiao-pintada-de-vermelho/. Acesso em: 29 maio 2020.
- AOS 28 ANOS, Clarissa Diniz se destaca como curadora-assistente no MAR. O Globo, Rio de Janeiro, 17 maio 2014. Caderno Cultura. Disponível em: https://oglobo.globo.com/cultura/aos-28-anos-clarissa-diniz-se-destaca-como-curadora-assistente-no-mar-12509780. Acesso em: 25 maio 2020.
- AS CORRESPONDÊNCIAS entre o pop e o erudito em verbetes da Enciclopédia Itaú Cultural e em projetos do instituto. Revista Select, São Paulo, nº 30, 7 jun. 2016. Acervos: popular. Disponível em: https://www.select.art.br/acervos-popular/. Acesso em: 27 maio 2020.
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- CASSUNDÉ, Bitu; DINIZ, Clarissa. A eterna luta da cultura nordestina. [Entrevista cedida a] Eduardo Nunomura. CartaCapital, 17 maio 2019. Farofafá. Disponível em: https://farofafa.cartacapital.com.br/2019/05/17/a-eterna-luta-da-cultura-nordestina/. Acesso em: 29 maio 2020.
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- DESTA terra, nesta terra, para esta terra – 30 anos de Bienal Naifs do Brasil final. Coordenação de Francele Cocco. São Paulo: Sesc, 2017. (9min42s.) Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=37bSlRgCVdY. Acesso em: 29 maio 2020.
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- IMAGINAR em tempos de colonização das subjetividades | Seminário Comunidades Imaginadas (2019). Coordenado por Juliana Braga. São Paulo: 21ª Bienal de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, 2019. (1h47min38s). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=xbkxUKo7Xak. Acesso em: 29 maio 2020.
- ITINERÂNCIA: 13ª Bienal Naïfs do Brasil “Todo Mundo É, Exceto Quem Não É” e “Evidências” | Sesc Belenzinho. DASartes, São Paulo, 2017. Disponível em: https://dasartes.com/agenda/itinerancia-13a-bienal-naifs-do-brasil-todo-mundo-e-exceto-quem-nao-e-e-evidencias-sesc-belenzinho/. Acesso em: 29 maio 2020.
- MAKING of O Rio do Samba: resistência e reinvenção. Coordenação de Luiz Guilherme Guerreiro. Rio de Janeiro: MAR, 2018. (20min29s). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=R8LTbsm0JY0. Acesso em: 27 maio 2020.
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- PALESTRA com Clarissa Diniz – Arte: História, Crítica e Curadoria. MAR na Academia. Rio de Janeiro: Museu de Arte do Rio, 2014. (1h13min57s). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=KPW0lN5rDcw&t=15s. Acesso em: 29 maio 2020.
- PANORAMAS do Sul: Intenções editoriais: quem lê e quem escreve, para quê. (2) | 17º Festival, 2011. Coordenação de Fernando Oliva. São Paulo: Videobrasil, 2011. (54min56s). Disponível em: http://site.videobrasil.org.br/canalvb/video/1735502/Panoramas_do_Sul_Intencoes_editoriais_quem_le_e_quem_escreve_para_que_2_17o%C2%A0Festival. Acesso em: 29 maio 2020.
- REFLEXÃO sobre o Nordeste e o "estar a nordeste" em exposição. Revista Eonline, São Paulo, 12 jul. 2019. Sesc São Paulo. Disponível em: https://www.sescsp.org.br/online/artigo/13414_REFLEXAO+SOBRE+O+NORDESTE+E+O+ESTAR+A+NORDESTE+EM+EXPOSICAO. Acesso em: 29 maio 2020.
- REFLEXÕES. Ensaio Clarissa Diniz. Revista Tatuí, Recife, [s.d.]. Disponível em: http://www.revistatatui.com.br/sobre/. Acesso em: 29 maio 2020.
- RESIDÊNCIAS/LABORATÓRIOS. Revista Tatuí, Recife, [s.d.]. Disponível em: http://www.revistatatui.com.br/residencias-e-laboratorios/. Acesso em: 29 maio 2020
- STRECKER, Márion. Mar indígena. Revista Select, São Paulo, nº 36, 29 nov. 2017. Disponível em: https://www.select.art.br/marindigena/. Acesso em: 27 maio 2020.
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CLARISSA Diniz.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
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