Glauco Mattoso
Texto
Pedro José Ferreira da Silva (São Paulo, São Paulo, 1951). Poeta, ficcionista, articulista, ensaísta, tradutor e letrista. Seu pseudônimo é inspirado no glaucoma que tem desde a infância e que o deixa cego nos anos 1990. É formado em biblioteconomia pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) e em letras vernáculas pela Universidade de São Paulo (USP).
Na década de 1970, quando reside por quase dois anos no Rio de Janeiro, participa da crítica cultural ao regime militar1. Alinha-se ao movimento tropicalista e à contracultura e integra grupos ativistas ligados ao movimento Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros (LGBT), como o Somos2. A partir de então, colabora com diversos periódicos alternativos, como o Pasquim, e também com os da grande imprensa, como o Jornal da Tarde, em paralelo ao trabalho como bancário. Estreia na poesia em 1975, com a participação no livro coletivo Apocrypho Apocalypse. Até os anos 2000, publica mais de 20 títulos do gênero, organiza de antologias e faz crítica literária. Recebe o Prêmio Oceanos 2015 pela coletânea de sonetilhos Saccola de Feira (2014).
Análise
Embora circule pouco pelo grande público, a poesia de Glauco Mattoso tem sua importância reconhecida pela crítica especializada desde o final da década de 1970. É difícil enquadrar o poeta em uma única tendência. Sua poesia associa-se tanto às experimentações das vanguardas concretistas, representadas por poetas como Décio Pignatari (1927-2012), quanto à irreverência e coloquialidade da poesia marginal dos anos 1970, à qual pertencem poetas como Cacaso (1944-1987). Para este, a poesia de Mattoso é notável por sua capacidade de incorporar a citação de autores clássicos, como Luís de Camões (1524-1580); formas tradicionais, como o soneto; a pornografia e a liberdade formal absoluta.
Esse aspecto transgressivo é evidente em sua obra mais conhecida, o Jornal Dobrabil, fanzine artesanal que faz circular entre artistas e intelectuais brasileiros de 1977 a 1981. Trata-se de uma colagem de textos próprios, plágios deliberados e imitações de notícias de jornal, em que critica os costumes da sociedade e da política brasileira do final do regime militar. Em uma de suas páginas, a temática rende ao autor o rótulo de "iconoclasta". Repleta de humor inteligente e de perversões, da escatologia ao sadomasoquismo, serve para parodiar o clássico poema concreto “Beba Coca-Cola” (1957), de Décio Pignatari:
COCO
BOCA
CU
COCO
No final dos anos 1990, depois de quase dez anos longe da poesia, Mattoso realiza o projeto de publicar mil sonetos, dedicados a temas variados, como política e impressões sobre a cidade de São Paulo. Nunca perdem a acidez, como se vê no “Soneto Natal [951]”: “Nasci glaucomatoso, não poeta./ Poeta me tornei pela revolta/ que contra o mundo a língua suja solta”.
O autor ainda publica ensaios e textos ficcionais sobre assuntos variados. Entre eles, o teórico O que É Tortura? (1984), as memórias ficcionalizadas Manual do Podólatra Amador (1986) e A Planta Donzela (2005). Este último é um romance em que sua perversão predileta, o fetiche por pés, reaparece para subverter o amor romântico do célebre A Pata da Gazela (1870), do escritor José de Alencar (1829-1877). Em 1999, realiza, junto ao crítico Jorge Schwartz (1944), a tradução da primeira poesia do escritor argentino Jorge Luis Borges (1899-1986), “Fervor de Buenos Aires”.
Notas
1. A ditadura militar se instaura em 1º de abril de 1964 e permanece até 15 de março de 1985. Os direitos políticos dos cidadãos são cassados e os dissidentes, perseguidos.
2. Grupo Somos: Grupo de Afirmação Homossexual, mais conhecido como Somos. É um grupo de defesa dos direitos LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros), fundado em 1978, e considerado o primeiro no Brasil em defesa desses direitos.
Obras 2
Espetáculos 5
Exposições 7
-
16/5/1985 - 23/6/1985
-
21/11/1985 - 20/12/1985
-
6/8/1996 - 7/9/1996
-
26/6/2000 - 20/8/2000
-
18/1/2002 - 17/3/2002
Links relacionados 1
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
GLAUCO Mattoso.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa4836/glauco-mattoso. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7