Bárbara Wagner
Texto
Bárbara Wagner (Brasília, Distrito Federal, 1980). Cineasta, fotógrafa, videoartista. Utiliza fotografia e vídeo para trabalhar questões relacionadas às camadas populares brasileiras, com enfoque central no corpo das pessoas.
Com carreira iniciada no fotojornalismo, conclui, depois de se tornar artista, o mestrado em artes visuais no Dutch Art Institute, em Arnhem, nos Países Baixos (2011).
De acordo com a artista, “a forma como cada um escolhe se fazer visível é que me interessa”1. A artista explora o mundo das imagens da sociedade atual, em que as aparências têm centralidade e sustentam diferentes comunidades. Ainda segundo ela, em seu trabalho, “a continuidade entre os temas está sobretudo no meu interesse pela cultura popular, pelas tradições que se reinventam o tempo todo nas ruas, sem regras e sem muitos pudores”. Essas reinvenções estão sempre na mira da artista.
Segundo a historiadora Lilia Moritz Schwarcz (1957), Wagner explora um mundo em que periferia e centro estão conectados e se leem mutuamente. A artista retrata cantores e dançarinos de novos ritmos musicais, cabeleireiros e outros anônimos, mostrando um outro país, que não deixa de ser o mesmo. É, para a historiadora, uma conversa entre manifestações populares e a indústria cultural. Ainda, a artista transforma “o precário em possível e desejável, recriando e dando espaço para um equilíbrio frágil, mas persistente em suas contradições”2.
Na série Brasília teimosa (2005-2007), a artista retrata uma favela à beira-mar que resiste à expansão imobiliária em Recife, Pernambuco. Realizada em visitas ao longo de dois anos, a série evidencia certos padrões de gosto e consumo. Em uma das fotos dessa série, sem título, um grupo de populares é registrado em cena familiar na praia. Os homens estão sem camisa, as crianças estão em trajes de banho. Um casal se beija ardorosamente. Nota-se que as bebidas foram levadas à praia. A cena transparece leveza e alegria em um dia de descanso. Segundo a crítica Kiki Mazzucchelli (1972), “longe de ser condescendente, suas fotos mostram as atividades às vezes absurdas, mas às vezes puramente hedonísticas que ocorrem em Brasília Teimosa”3.
Na série A corte (2013), Bárbara Wagner focaliza o tradicional ritmo maracatu em um contexto urbano antes de um desfile de carnaval. Crianças e adultos são fotografados trajando suas fantasias. São baianas, príncipes, princesas, reis, rainhas, damas, vassalos, entre outros, nas peles de populares. Ficam evidenciadas as relações sociais brasileiras e suas contradições, que têm a ver com classe e raça. As fantasias representando figuras de séculos passados da história brasileira apontam para a origem das contradições brasileiras.
Em uma dessas fotos, sem título, um homem negro está sorridente em suas vestes extravagantes de rei. Além da coroa empedrada, são muitos os adornos de pedras brilhantes, sobre fundo rosa. O homem usa uma peruca. Em uma mão, empunha um espadim e um cetro. Na outra, uma lata de refrigerante. A foto subverte as relações sociais estabelecidas no Brasil colonial e indica a onipresença da indústria do consumo, sendo que a bebida torna o rei mais um consumidor.
Nos últimos dez anos, a artista tem contribuído extensivamente com Benjamin de Burca (1975), artista nascido na Alemanha. Juntos, produzem filmes e videoinstalações que mostram protagonistas engajados em diferentes formas de produção cultural. Geralmente, valem-se de não atores nessa produção.
A dupla também produz ensaios fotográficos. Um deles se intitula Edifício Recife (2013) e registra esculturas presentes em diversos condomínios de edifícios residenciais em Recife. Devido a uma regulação municipal, edifícios de grandes áreas devem comissionar esculturas a artistas locais para serem colocadas em suas áreas comuns. As fotografias mostram essas esculturas e são acompanhadas de relatos dos porteiros dos respectivos edifícios. Esses relatos buscam dar um sentido pessoal às obras. O ensaio fotográfico aponta para as contradições envolvidas: obras que seriam públicas, mas estão reservadas em espaço privado e obras de artistas locais que se prendem a modelos estrangeiros, entre outras.
Bárbara e Bejmain participam da Bienal de Veneza, em 2019, com a videoinstalação Swinguerra. O título funde swingueira, um ritmo acelerado de origem popular nordestino que é uma variação do pagode, com guerra. O ritmo geralmente é acompanhado de coreografias. O vídeo mostra danças desse ritmo, expondo os embates entre as culturas local, nacional e internacional, a partir de um ponto de vista empático. A dupla participa de diversas outras exposições ao redor do mundo.
Bárbara Wagner utiliza fotografia e vídeo para atravessar fronteiras sociais brasileiras. Em sua obra, ela lança olhares para produções culturais marginalizadas – muitas vezes, musicais – e consegue evidenciar conexões entre o lado da cultura dominante e o da periférica. Realiza isso com olhar respeitoso, que não toma como exótica a produção periférica.
Notas
1. ZACCARO, Nathália. O flash é o gatilho. Revista Trip, 6 nov. 2017. Disponível em: https://revistatrip.uol.com.br/trip/a-fotografa-barbara-wagner-atraiu-atencao-de-varios-dos-mais-importantes-museus-do-pais-com-fotos-e-videos-que-revelam-o-universo-de-funkeiros-evangelicos-e-outros. Acesso em: 5 out. 2022.
2. SCHWARCZ, Lilia Moritz. Somos isso e aquilo. São Paulo: Bazaar, 2016. p. 30.
3. MAZZUCCHELLI, Kiki. Off centre. Cargo collective Bárbara Wagner. 2018. Disponível em: http://cargocollective.com/barbarawagner/Brasilia-Teimosa-Stubborn-Brasilia. Acesso em: 5 out. 2022.
Exposições 52
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23/8/2008 - 22/6/2007
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10/12/2007 - 23/12/2007
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2007 - 2007
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12/3/2009 - 10/5/2009
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12/3/2009 - 3/5/2009
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 8
- BIENAL DE VENEZA, 58., 2019. May you live in interesting times. Veneza, 2019. Exposição realizada no período de 11 maio a 24 nov. 2019.
- LEIS, Flávia. O melhor da fotografia, Brasil: 08/09. São Paulo: s.n., 2009.
- MAZZUCCHELLI, Kiki. Off centre. Cargo collective Bárbara Wagner. 2018. Disponível em: http://cargocollective.com/barbarawagner/Brasilia-Teimosa-Stubborn-Brasilia. Acesso em: 5 out. 2022.
- MOFFIT, Evan. Dance class. Frieze, Londres, 1 jun. 2017.
- PANORAMA DA ARTE BRASILEIRA, 33., 2013. P33: Formas únicas da continuidade no espaço. São Paulo: Museu de Arte Moderna de São Paulo, 2013.
- REBOUÇAS, Júlia. A metodologia do encontro na obra de Bárbara Wagner. Prêmio Pipa, São Paulo, 12 jan. 2018. Disponível em: https://www.premiopipa.com/2018/01/metodologia-do-encontro-na-obra-de-barbara-wagner-por-julia-reboucas/. Acesso em: 5 out. 2022.
- SCHWARCZ, Lilia Moritz. Somos isso e aquilo. São Paulo: Bazaar, 2016.
- ZACCARO, Nathália. O flash é o gatilho. Revista Trip, 6 nov. 2017. Disponível em: https://revistatrip.uol.com.br/trip/a-fotografa-barbara-wagner-atraiu-atencao-de-varios-dos-mais-importantes-museus-do-pais-com-fotos-e-videos-que-revelam-o-universo-de-funkeiros-evangelicos-e-outros. Acesso em: 5 out. 2022.
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BÁRBARA Wagner.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa482189/barbara-wagner. Acesso em: 02 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7