Tatiana Belinky
Texto
Tatiana Belinky Gouveia (Petrogrado, atual São Petersburgo, Rússia 1919 – São Paulo, São Paulo, 2013). Escritora de histórias e poemas infantis, tradutora, roteirista de televisão. Uma das mais prolíficas autoras da literatura infantojuvenil brasileira, propõe em seus diversos trabalhos reflexões sobre a natureza humana, com frequência se valendo do humor e sempre empregando recursos que chamam a atenção para a própria linguagem.
O início de sua atuação com o público infantil acontece entre 1948 e 1951, quando, em parceria com o marido, o médico psiquiatra Júlio Gouveia (1914-1988), adapta peças para crianças e as encena em apresentações gratuitas em teatros da cidade de São Paulo. O sucesso do projeto resulta em convite da TV Paulista para adaptá-lo para televisão.
O casal encena as adaptações "A pílula falante" e "O casamento de Emília", de Reinações de Narizinho (1931), de Monteiro Lobato (1882-1948). A partir de 1952, na TV Tupi, o casal mantém o programa semanal Fábulas animadas, com adaptações de contos de fadas e histórias fantásticas. Em seguida, criam O Sítio do Picapau Amarelo, série inspirada na obra homônima de Lobato, com cerca de 350 episódios, que, entre 1968 e 1969, é montada para a TV Bandeirantes.
Em 1965, a autora assume o setor infantojuvenil da Comissão Estadual de Teatro, sendo responsável pela organização da revista Teatro da Juventude. Entre 1972 e 1979, passa a atuar como crítica de teatro e de literatura infantil em jornais paulistas, como Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo, Jornal da Tarde e Gazeta de Pinheiros. Publica, em 1984, Teatro da juventude, que reúne suas adaptações.
A operação Tio Onofre e Medroso! Medroso!, suas primeiras obras autorais, são lançadas em 1985. A primeira tematiza o medo e a coragem da personagem Talita, menina que tem o hábito de atribuir nomes de pessoas aos objetos; Tio Onofre é o cofre que deve ser aberto sob a ameaça de assaltantes que invadem a casa. O exercício de vocabulário pela aproximação sonora serve de código para a interrupção do crime. Durante o roubo, o telefone da casa toca e Talita deve atender para que não se levantem suspeitas sobre a ocorrência do crime. Quem está do outro lado da linha é o pai, e a protagonista recorre à metáfora de "Tio Onofre" para alertá-lo de que está em perigo. O enfrentamento do medo e a relação familiar baseada na boa comunicação entre pais e filha permitem, portanto, a superação da adversidade.
Medroso! Medroso! se desenrola em torno da tolerância ao outro e do respeito às diferenças. Rafa, o protagonista, vira objeto de violência psicológica, pois, diferentemente de seus amigos, tem medo de nadar na represa. O menino surpreende a todos quando realiza um ato de coragem. Os colegas, então, param de caçoar dele.
Entre os temas que perpassam a obra da autora estão também os direitos humanos, como em O caso dos ovos (1986), que parodia a organização do trabalho na sociedade para evidenciar a legitimidade da luta por direitos e da busca por justiça social. Resumindo sua insatisfação na palavra de ordem "Galinha bota o ovo, coelho leva a fama", as poedeiras entram em greve, exigindo de seu chefe, o Coelho da Páscoa, que cada ovo leve o nome de sua produtora.
Sem ingenuidade ou moralismo e fugindo sempre do lugar-comum, sua obra revela preocupações humanistas, a exemplo de Stanislau (1986), sobre um passarinho que não sabe viver fora da gaiola: sua dona aprende que, por tê-lo criado dessa maneira, jamais pode soltá-lo na natureza. O ápice dessa tendência está nas crônicas de Olhos de ver (2004), que, buscando gestos belos e verdadeiros em encontros banais, retrata meninos e adultos moradores de rua e outros personagens que vivem em condições menos favoráveis do que as da narradora-protagonista.
É na poesia, entretanto, que o rompimento com o senso comum se torna mais claro. Versos do primeiro livro da autora no gênero, Limeriques (1987), ilustram a preferência pelo humor nonsense provocado por situações incongruentes ou absurdas: "Um cara chamado Mariz / estava com dor no nariz / 'Vou jogá-lo fora', / falou – e na hora / fez isso e vive feliz". O título remete à configuração recorrente na obra poética da autora, o limerick, forma que tem no autor inglês Edward Lear (1812-1888) seu expoente: a estrofe se organiza em cinco versos de oito, oito, cinco, cinco e oito sílabas, em rimas AABBA.
A vocação do humor que se opõe ao puritanismo fica clara em Cacoliques (1990), que traz versos com cacófatos como "No mato, abunda a pita". Em Mandaliques (com endereço e tudo) (2001), ainda adotando a mesma forma poética, a autora brinca com expressões chulas do português, utilizando os versos para mandar cada pessoa para um lugar: "Sou um infeliz baderneiro. / Só quero fugir bem ligeiro: / Me mandam pra Marte / Ou para qualquer parte".
O olhar bem-humorado e sensível está presente também nos livros em que narra suas memórias – Bidínsula e outros retalhos (1990), Transplante de menina: da rua dos Navios à rua Jaguaribe (1995) e Antecedências (2002) –, retomando a trajetória da menina imigrante que chega a São Paulo aos 9 anos de idade, com vivências muitas vezes vedadas a mulheres de sua geração, como estudar no Colégio Presbiteriano Mackenzie, e longa e diversificada atuação profissional.
Sua obra, composta de mais de 120 títulos, inclui ainda traduções e adaptações de versos, de contos e de romances russos, ingleses e alemães. Pela amplitude do repertório, o olhar sensível, a preocupação com temas humanistas e a fuga do senso comum, Tatiana Belinky permanece como uma das mais importantes autoras da literatura infantojuvenil brasileira.
Obras 113
Espetáculos 9
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 4
- ESPETÁCULOS Teatrais. [Pesquisa realizada por Edélcio Mostaço]. Itaú Cultural, São Paulo, [20--]. 1 planilha de fichas técnicas de espetáculos.
- Morre aos 94 anos em São Paulo a escritora Tatiana Belinky. In: Yahoo Notícias. Disponível em: . Acessado em: 17 junho 2013.
- TEATRO do Ornitorrinco. São Paulo: Imprensa Oficial, 2009.
- VERGUEIRO, Maria Alice. Maria Alice Vergueiro. São Paulo: [s.n.], s.d. Entrevista concedida a Rosy Farias, pesquisadora da Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira.
Como citar
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TATIANA Belinky.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa3917/tatiana-belinky. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7