Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Tatiana Belinky

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 04.07.2024
18.03.1919 Rússia / a definir / São Petersburgo
15.06.2013 Brasil / São Paulo / São Paulo
Tatiana Belinky Gouveia (Petrogrado, atual São Petersburgo, Rússia 1919 – São Paulo, São Paulo, 2013). Escritora de histórias e poemas infantis, tradutora, roteirista de televisão. Uma das mais prolíficas autoras da literatura infantojuvenil brasileira, propõe em seus diversos trabalhos reflexões sobre a natureza humana, com frequência se valend...

Texto

Abrir módulo

Tatiana Belinky Gouveia (Petrogrado, atual São Petersburgo, Rússia 1919 – São Paulo, São Paulo, 2013). Escritora de histórias e poemas infantis, tradutora, roteirista de televisão. Uma das mais prolíficas autoras da literatura infantojuvenil brasileira, propõe em seus diversos trabalhos reflexões sobre a natureza humana, com frequência se valendo do humor e sempre empregando recursos que chamam a atenção para a própria linguagem.

O início de sua atuação com o público infantil acontece entre 1948 e 1951, quando, em parceria com o marido, o médico psiquiatra Júlio Gouveia (1914-1988), adapta peças para crianças e as encena em apresentações gratuitas em teatros da cidade de São Paulo. O sucesso do projeto resulta em convite da TV Paulista para adaptá-lo para televisão.

O casal encena as adaptações "A pílula falante" e "O casamento de Emília", de Reinações de Narizinho (1931), de Monteiro Lobato (1882-1948). A partir de 1952, na TV Tupi, o casal mantém o programa semanal Fábulas animadas, com adaptações de contos de fadas e histórias fantásticas. Em seguida, criam O Sítio do Picapau Amarelo, série inspirada na obra homônima de Lobato, com cerca de 350 episódios, que, entre 1968 e 1969, é montada para a TV Bandeirantes.

Em 1965, a autora assume o setor infantojuvenil da Comissão Estadual de Teatro, sendo responsável pela organização da revista Teatro da Juventude. Entre 1972 e 1979, passa a atuar como crítica de teatro e de literatura infantil em jornais paulistas, como Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo, Jornal da Tarde e Gazeta de Pinheiros. Publica, em 1984, Teatro da juventude, que reúne suas adaptações. 

A operação Tio Onofre e Medroso! Medroso!, suas primeiras obras autorais, são lançadas em 1985. A primeira tematiza o medo e a coragem da personagem Talita, menina que tem o hábito de atribuir nomes de pessoas aos objetos; Tio Onofre é o cofre que deve ser aberto sob a ameaça de assaltantes que invadem a casa. O exercício de vocabulário pela aproximação sonora serve de código para a interrupção do crime. Durante o roubo, o telefone da casa toca e Talita deve atender para que não se levantem suspeitas sobre a ocorrência do crime. Quem está do outro lado da linha é o pai, e a protagonista recorre à metáfora de "Tio Onofre" para alertá-lo de que está em perigo. O enfrentamento do medo e a relação familiar baseada na boa comunicação entre pais e filha permitem, portanto, a superação da adversidade.
Medroso! Medroso! se desenrola em torno da tolerância ao outro e do respeito às diferenças. Rafa, o protagonista, vira objeto de violência psicológica, pois, diferentemente de seus amigos, tem medo de nadar na represa. O menino surpreende a todos quando realiza um ato de coragem. Os colegas, então, param de caçoar dele.

Entre os temas que perpassam a obra da autora estão também os direitos humanos, como em O caso dos ovos (1986), que parodia a organização do trabalho na sociedade para evidenciar a legitimidade da luta por direitos e da busca por justiça social. Resumindo sua insatisfação na palavra de ordem "Galinha bota o ovo, coelho leva a fama", as poedeiras entram em greve, exigindo de seu chefe, o Coelho da Páscoa, que cada ovo leve o nome de sua produtora.

Sem ingenuidade ou moralismo e fugindo sempre do lugar-comum, sua obra revela preocupações humanistas, a exemplo de Stanislau (1986), sobre um passarinho que não sabe viver fora da gaiola: sua dona aprende que, por tê-lo criado dessa maneira, jamais pode soltá-lo na natureza. O ápice dessa tendência está nas crônicas de Olhos de ver (2004), que, buscando gestos belos e verdadeiros em encontros banais, retrata meninos e adultos moradores de rua e outros personagens que vivem em condições menos favoráveis do que as da narradora-protagonista. 

É na poesia, entretanto, que o rompimento com o senso comum se torna mais claro. Versos do primeiro livro da autora no gênero, Limeriques (1987), ilustram a preferência pelo humor nonsense provocado por situações incongruentes ou absurdas: "Um cara chamado Mariz / estava com dor no nariz / 'Vou jogá-lo fora', / falou – e na hora / fez isso e vive feliz". O título remete à configuração recorrente na obra poética da autora, o limerick, forma que tem no autor inglês Edward Lear (1812-1888) seu expoente: a estrofe se organiza em cinco versos de oito, oito, cinco, cinco e oito sílabas, em rimas AABBA.

A vocação do humor que se opõe ao puritanismo fica clara em Cacoliques (1990), que traz versos com cacófatos como "No mato, abunda a pita". Em Mandaliques (com endereço e tudo) (2001), ainda adotando a mesma forma poética, a autora brinca com expressões chulas do português, utilizando os versos para mandar cada pessoa para um lugar: "Sou um infeliz baderneiro. / Só quero fugir bem ligeiro: / Me mandam pra Marte / Ou para qualquer parte".

O olhar bem-humorado e sensível está presente também nos livros em que narra suas memórias – Bidínsula e outros retalhos (1990), Transplante de menina: da rua dos Navios à rua Jaguaribe (1995) e Antecedências (2002) –, retomando a trajetória da menina imigrante que chega a São Paulo aos 9 anos de idade, com vivências muitas vezes vedadas a mulheres de sua geração, como estudar no Colégio Presbiteriano Mackenzie, e longa e diversificada atuação profissional.

Sua obra, composta de mais de 120 títulos, inclui ainda traduções e adaptações de versos, de contos e de romances russos, ingleses e alemães. Pela amplitude do repertório, o olhar sensível, a preocupação com temas humanistas e a fuga do senso comum, Tatiana Belinky permanece como uma das mais importantes autoras da literatura infantojuvenil brasileira.

Obras 113

Abrir módulo

Espetáculos 9

Abrir módulo

Fontes de pesquisa 4

Abrir módulo
  • ESPETÁCULOS Teatrais. [Pesquisa realizada por Edélcio Mostaço]. Itaú Cultural, São Paulo, [20--]. 1 planilha de fichas técnicas de espetáculos.
  • Morre aos 94 anos em São Paulo a escritora Tatiana Belinky. In: Yahoo Notícias. Disponível em: . Acessado em: 17 junho 2013.
  • TEATRO do Ornitorrinco. São Paulo: Imprensa Oficial, 2009.
  • VERGUEIRO, Maria Alice. Maria Alice Vergueiro. São Paulo: [s.n.], s.d. Entrevista concedida a Rosy Farias, pesquisadora da Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira.

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: