Ana Kfouri
Texto
Biografia
Ana Maria Barcellos Kfouri (São Paulo SP 1957). Diretora e atriz. Ana Kfouri constrói espetáculos em que combina ação e coreografia gestual, com textos compostos de fragmentos unidos pela temática.
Faz cursos de dança e atua em alguns espetáculos como atriz - entre eles Carmem com Filtro, texto e direção de Gerald Thomas, e Blasfêmeas, em que assina a co-autoria de um roteiro feito de fragmentos de outros autores, dirigido por Roberto Lage, ambos de 1987. Em 1989, está no elenco da ópera de Philip Glass e Gerald Thomas, Mattogrosso, novamente encenação de Gerald Thomas, e em Ponto Limite, roteiro seu, de Lu Grimaldi e Paulo José, que assina a direção do espetáculo. Esta experiência de extrair trechos de obras literárias para compor uma colcha de retalhos voltada para a encenação passará a nortear o seu trabalho de diretora.
Ana Kfouri funda a Companhia Teatral do Movimento, que estréia em 1992, com o espetáculo A Lua Que Me Instrua, assinando pela primeira vez a direção e o roteiro de fragmentos, após trabalhar, ainda, como preparadora corporal e coreógrafa de diversos espetáculos experimentais ou de linguagem marcada pela fisicalidade. Em 1993, volta a atuar em Pentesiléias, adaptação de Daniela Thomas para a obra de Kleist, direção de Bete Coelho.
Em 1994, sua companhia monta dois espetáculos - Dizem de Mim o Diabo, com partes de peças de Nelson Rodrigues, e Aldeia, em que as situações propostas pelo conto Via Crucis, de Clarice Lispector, são apresentadas numa linguagem corporal que mecaniza os movimentos e transforma as personagens em bonecos. Em 1997, inicia uma série de espetáculos inspirados em alguns dos pecados capitais. O primeiro, Volúpia, faz uma seleção de textos sem nenhuma intenção moralista ou libertária, mas procura captar a visão de vários autores sobre o tema. A expressão corporal procura encontrar equivalente à palavra, pela via do humor, da poesia ou da simples ilustração. O crítico Macksen Luiz, considerando que a realização não tem a consistência da seleção de textos, observa que "muitas vezes o espetáculo adquire um nervosismo de movimentos que não disfarça a dificuldade em encontrar melhor expressão cênica" e que "toda essa agitação acaba por repetir soluções e confere um ar 'exibicionista' à montagem".1
Em 1998, Ana Kfouri dirige Eu Sou Mais Nelson, espetáculo de estréia do Grupo Alice 118, conjunto de atores formandos da CAL - Casa das Artes de Laranjeiras, em que volta a costurar fragmentos de peças de Nelson Rodrigues. Kfouri seleciona as referências dramáticas a partir da ótica da jovialidade, criando um ambiente adolescente, alegre e bem-humorado, do qual emergem as cenas. O espetáculo, que se apresenta no circuito amador do Rio de Janeiro e em diversos festivais nacionais, recebe os primeiros prêmios do Festival de Teatro de Bolso do Duse e do Festival da Veiga de Almeida.
Em 1999, volta ao projeto dos pecados capitais, com a Companhia Teatral do Movimento, tematizando a Gula. Nas diversas cenas, a palavra é o eixo para uma coreografia de exuberantes formas dramáticas. A visão da gula como a desmedida no objetivo de saciar o desejo está expressa na cena inicial, em que os atores executam uma música de percussão extraída de pratos e talheres ao mesmo tempo em que realizam uma coreografia facial utilizando o limite muscular para exprimir a voracidade. Segue-se HH (Informe-se), 2000, com o Grupo Alice 118, baseado na obra da poeta Hilda Hilst, que a diretora retoma dois anos depois com a Companhia Teatral do Movimento em Fluxo, em que tempera a verborragia do texto com uma coreografia de gestos. Ainda em 2000, a diretora dá continuidade aos pecados capitais com Preguiça, e monta, com duas atrizes de sua companhia, O Gordo e O Magro Vão Para O Céu, de Paul Auster. Segundo o crítico Macksen Luiz, a diretora consegue, nesta montagem, exploração técnica do movimento e a humanização dos personagens:
"O palhaço redimensiona os seus métodos expressivos, faz suas ridículas intervenções como se quisesse demonstrar que nesses gestos e caretas tão primários estão sentimentos bem mais complexos e dúvidas insolúveis. [...] As quedas, o corpo em permanente desequilíbrio, as palavras repetidas como uma piada, o gesto que se confunde com o pastelão são os meios pelos quais a tensão dramática se instala".2
Notas
1. LUIZ, Macksen. Sexo bem-humorado. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 20 abr. 1997.
2. LUIZ, Macksen. Comédia metafísica faz rir do cotidiano. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 01 out. 2001.
Espetáculos 54
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 7
- ALBUQUERQUE, Johana. Ana Kfouri. (ficha curricular) In: _________. ENCICLOPÉDIA do Teatro Brasileiro Contemporâneo. Material elaborado em projeto de pesquisa para a Fundação VITAE. São Paulo, 2000.
- ANUÁRIO de teatro 1994. São Paulo: Centro Cultural São Paulo, 1996. R792.0981 A636t 1994
- ESPETÁCULOS Teatrais. [Pesquisa realizada por Márcio Freitas]. Itaú Cultural, São Paulo, [20--]. 1 planilha de fichas técnicas de espetáculos. Não Catalogado
- KFOURI, Ana. Rio de Janeiro: Funarte / Cedoc. Dossiê Personalidades Artes Cênicas.
- LUIZ, Macksen. A comida é secundária. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 18 dez. 1999.
- NOSTRADAMUS. São Paulo: Companhia Estável de Repertório, 1986. 1 programa do espetáculo realizado no Teatro Cultura Artística. Não catalogado
- Programa do Espetáculo - Carmem com Filtro - 1986. Não catalogado
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
ANA Kfouri.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa389149/ana-kfouri. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7