Jadir João Egídio
Texto
Jadir João Egídio (Divinópolis, Minas Gerais, 1933). Escultor. Autodidata, trabalha com madeira e produz imagens religiosas, desde figuras da cultura regional a pessoas de convívio. O trabalho do artista recebe atenção depois do reconhecimento público que GTO (1913-1990), seu conterrâneo mineiro, recebe na década de 1960.
Nascido na região rural de Divinópolis, Minas Gerais, Jadir João Egídio se muda para a cidade em 1960, onde trabalha como carroceiro até 1977. Por causa de um acidente entre sua carroça e um caminhão, se vê forçado a parar de trabalhar e entra em depressão. No mesmo ano, começa a entalhar objetos e figuras em toras de madeira, prática que o ajuda a recuperar a saúde. Os trabalhos como escultor, produzidos em sua oficina doméstica, expressam a religiosidade do artista com autonomia formal, ainda que as esculturas apresentem traços comuns aos de GTO e Artur Pereira (1920-2003). Em 1986, participa da exposição Escultores de Divinópolis, realizada no Museu Nacional do Folclore, no Rio de Janeiro, e seu trabalho desperta o interesse de instituições de arte cariocas e paulistas.
Em suas primeiras peças, o escultor trabalha a madeira com um canivete. Com o tempo, adota o formão, ferramenta que ele mesmo produz em diversos formatos. Em seus trabalhos, o artista sempre mantém referência ao formato original do bloco de madeira maciça na escultura finalizada, demonstrando a relação de respeito entre escultor e material. A madeira é trabalhada por meio de talhe seco, que deixa nítido o gesto do artista e adquire assim a função plástica de transmitir ao observador a tensão na fatura da peça. Ao esculpir a madeira por todos os lados, cria uma estrutura na qual as áreas vazadas costumam ser discretas e insuficientes para dotar a peça de leveza. Pelo contrário, o trabalho de Egídio tem a aparência pesada de esculturas monumentais e é associado por alguns críticos de arte aos traços austeros da arte românica1, ainda que o escultor não tenha conhecimento sobre esse capítulo da história da arte.
No que diz respeito à temática, os motivos religiosos predominam na produção de Egídio e combinam elementos do catolicismo a mitos indígenas e à cultura afro-brasileira. Santos, cenas bíblicas, personagens da cultura da região e pessoas das relações de afeto do artista surgem nas esculturas de Egídio. As peças do escultor resultam de uma cultura híbrida, na qual estão em simbiose o homem e a natureza, as dimensões terrenas e espirituais da vida, indicando a ideia de continuidade entre arte e vida, indivíduo e coletividade. A ausência de perspectiva realista permite que o artista organize as imagens a partir de critérios simbólicos e ornamentais. O resultado transmite simultaneamente a ideia de multiplicidade e de indivisibilidade ao abusar da repetição de imagens semelhantes.
Uma constante na produção de Egídio são os totens formados por figuras masculinas, ladeadas e superpostas. São imagens de homens muito semelhantes uns aos outros e que, por sua vez, tem a fisionomia parecida com a do artista. A repetição e a superposição dessas figuras que formam uma torre de homens dá à peça o caráter sólido, e a expressão das figuras transmite ar grave ou até mesmo sofrimento.
Eventualmente, o artista trabalha a partir de tábuas, produzindo peças nas quais apenas uma das faces da madeira é esculpida, como em Cristo e os apóstolos, que retrata a Santa Ceia. Neste trabalho em alto relevo, vemos Jesus de pé, com os braços levantados e as mãos apontando para a própria cabeça, cercado por doze apóstolos de estatura muito menor, como que a indicar a distância que os separa do filho de Deus. Além dos totens e alto relevos, o escultor produz também figuras individualizadas de Cristo e santos, como São Francisco, São Jorge, São José e a Virgem Maria.
Incluído por Lélia Coelho Frota (1938-2010) entre os artistas do Pequeno dicionário da arte do povo brasileiro, publicado em 2005, o artista realiza três exposições individuais, entre 2009 e 2010. Participa também de diversas coletivas, entre elas a exposição Escultores mineiros, na Galeria Estação, em 2011, ao lado de GTO e Artur Pereira. No mesmo ano, é lançado o documentário Jadir João Egídio – Caso com a madeira, episódio da série Teimosia da imaginação, com direção de Rodrigo Campos.
Considerado um dos grandes mestres da arte em madeira no Brasil, Jadir João Egídio desenvolve uma linguagem particular, ainda que em diálogo com a produção de outros escultores mineiros. Com talhe vigoroso que enfatiza as linhas de força do volume original da madeira, o escultor cria estruturas compactas e imagens graves, com mesclas de religiosidade e vida cotidiana.
Notas
1. Arte românica se refere ao estilo artístico vigente na Europa entre os séculos XI e XIII, não apenas em igrejas católicas, mas também em castelos, mosteiros, esculturas e artes decorativas. Essencialmente figurativo, esse estilo adota a abordagem simbólica das representações.
Exposições 4
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18/9/2003 - 18/12/2003
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23/10/2007 - 31/3/2006
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17/8/2010 - 17/9/2010
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29/3/2012 - 13/5/2012
Fontes de pesquisa 2
- FROTA, Lélia Coelho. Pequeno dicionário da arte do povo brasileiro, século XX. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2005.
- PALHARES, Taisa. "A alma, o olho, a mão: três escultores mineiros". In: Escultores mineiros. São Paulo: Lis Gráfica, 2011.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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JADIR João Egídio.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa375253/jadir-joao-egidio. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7