Abdias Nascimento

Abdias Nascimento, 1997
Texto
Abdias do Nascimento (Franca, São Paulo, 1914 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011). Ator, diretor e dramaturgo. Militante da luta contra a discriminação racial e pela valorização da cultura negra. É responsável pela criação do Teatro Experimental do Negro (TEN), que atua no Rio de Janeiro entre 1944 e 1968. Essa é a primeira companhia a promover a inclusão do artista afrodescendente no panorama teatral brasileiro.
A militância política de Abdias do Nascimento começa na década de 1930, quando integra a Frente Negra Brasileira, em São Paulo. Participa, anos depois, da organização do 1º Congresso Afro-Campineiro, com o objetivo de discutir formas de resistência à discriminação racial. No início da década de 1940, em viagem ao Peru, assiste ao espetáculo O Imperador Jones, de Eugene O'Neill (1888-1953), no qual o personagem central é interpretado por um ator branco tingido de negro. Refletindo sobre essa situação, comum no teatro brasileiro de então, propõe-se a criar um teatro que valorize os artistas negros.
Nascimento permanece em Buenos Aires por um ano, estudando no Teatro Del Pueblo. Quando volta ao Brasil, em 1941, é preso por um crime de resistência, anterior a sua viagem. Detido na penitenciária do Carandiru, atualmente extinta, funda o Teatro do Sentenciado e organiza um grupo de presos que escrevem e encenam os próprios textos.
No Rio de Janeiro, com o apoio de uma série de artistas e intelectuais brasileiros, inaugura o Teatro Experimental do Negro (TEN), em 1944, com a proposta de trabalhar pela valorização social do negro por meio da cultura e da arte. No primeiro ano de funcionamento, o TEN promove um curso de interpretação teatral, ministrado por Nascimento, além de aulas de alfabetização e oficinas de iniciação à cultura geral, objetivando a formação de artistas e colaboradores. Dirige o espetáculo de estreia do grupo, O Imperador Jones, em 1945. No ano seguinte participa como ator de duas outras peças de O'Neill produzidas pelo grupo: Todos os Filhos de Deus Têm Asas e O Moleque Sonhador. Ainda em 1946, comemorando dois anos de fundação do TEN, protagoniza trecho do espetáculo Otelo, de William Shakespeare (1'564-1616), com a atriz Cacilda Becker (1921-1969).
Em seguida, o grupo passa a encenar uma série de novas peças da dramaturgia brasileira, focalizando questões de relevância para a cultura negra. Nascimento dirige, em 1947, O Filho Pródigo, de Lúcio Cardoso (1912-1968), e também atua na peça, a primeira escrita especialmente para o TEN, abordando a questão do negro em forma de parábola. No ano seguinte, atua como ator e diretor em Aruanda, de Joaquim Ribeiro, colocando pela primeira vez no centro da representação elementos da religiosidade afro-brasileira. Monta Filhos de Santo, de José de Morais Pinho, em 1949.
Apropria-se da tradição do teatro de revista para escrever Rapsódia Negra, encenada em 1952. Em 1957,participa como ator da montagem de seu segundo texto dramatúrgico, Sortilégio, fábula moral que fala do preconceito de raça com base em uma situação vivida pelo protagonista, com direção é de Léo Jusi (1930). Anos mais tarde, escreve uma segunda versão dessa peça, mesclando a ela aspectos da cultura africana,inspirada em sua estada de um ano na Nigéria,
Dirige, entre 1948 e 1951, o jornal Quilombo, órgão de divulgação do grupo e de notícias de outras entidades do movimento negro. Realiza a Conferência Nacional do Negro, em 1949 e, o 1º Congresso do Negro Brasileiro, em 1950. Em 1961, publica o livro Dramas para Negros e Prólogos para Brancos, compêndio com peças nacionais que tratam da cultura negra, entre elas as montadas pelo TEN.
Devido à perseguição política, em 1968 Nascimento parte para um exílio que dura treze anos. Com a dissolução do TEN, deixa de atuar e dirigir no teatro, e sua militância ganha outras direções. Fora do Brasil, atua como conferencista e professor universitário, publica uma série de livros denunciando a discriminação racial e dedica-se à pintura e pesquisa visualidades relacionadas à cultura religiosa afro-brasileira. Na volta ao país, investe na carreira política, assume cargo de deputado federal e senador da república pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT), sempre reivindicando um lugar para a cultura negra na sociedade.
Obras 26
Abdias discursa em convenção do PDT no Congresso Nacional
Abdias Nascimento
Espetáculos 38
Exposições 52
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14/3/1969 - 6/4/1969
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18/5/1969 - 25/5/1969
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29/9/1969 - 31/10/1969
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4/12/1969 - 20/12/1969
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13/2/1970 - 27/3/1970
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 8
- ABDIAS. Site oficial do artista. Disponível em: < http://www.abdias.com.br/ >. Acesso em: jul. 2008
- Ancestral: Afro-Américas [Estados Unidos e Brasil]. São Paulo: Museu de Arte Brasileira (MAB-Faap), 2024. Disponível em: https://www.faap.br/mab/exposicao/ancestral-afro-americas/. Acesso em: 20 nov. 2024.
- DOUXAMI, Christine. O negro: a realidade de um sonho sem sono. Afro-Ásia, Universidade Federal da Bahia, n. 25-26, p. 313-363. Disponível em: [http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/pdf/770/77002609.pdf]. Acesso em: novembro 2008. Acesso em: nov. 2008
- Morre aos 97 anos o líder negro Abdias do Nascimento. Folha.com. Disponível em: . Acesso em: 24 maio 2011.
- MÜLLER, Ricardo Gaspar (Org.). Teatro experimental do negro. Dionysos, Rio de Janeiro, n. 28, 1988. Edição especial.
- NASCIMENTO, Abdias do (org.). Teatro Experimental do Negro: testemunhos. Rio de Janeiro: Edições GRD, 1966.
- NASCIMENTO, Abdias do. Teatro Experimental do Negro: trajetória e reflexões. Estudos avançados, São Paulo, v. 18, n. 50, jan-abr 2004. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142004000100019 >. Acesso em: nov. 2008.
- PAIVA, Lara. Mostra revê semelhanças e diferenças da diáspora negra ao aproximar a arte brasileira da americana. Folha de S. Paulo, São Paulo, 20 nov. 2024. Ilustrada. p.B6-B7.
Como citar
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ABDIAS Nascimento.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa359885/abdias-nascimento. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7