Giorgio Moscati
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Biografia
Giorgio Moscati (Gênova, Itália, 1934). Físico, engenheiro eletricista, professor universitário, cientista, pesquisador. Frequenta ao mesmo tempo faculdade de Física e de Engenharia na Universidade de São Paulo e exerce intensa atividade acadêmica, com estágio, projeto de iniciação científica e períodos de pesquisa no exterior. Em 1957, após graduar-se, trabalha como auxiliar de ensino da cadeira de Física Geral e Experimental, na Faculdade de Filosofia de Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (FFCL/USP).
Defende doutorado em 1962 e, como sua pesquisa demanda grandes cálculos, utiliza o computador recém-implantado na universidade. Aprende a linguagem de programação necessária para operá-lo em aulas teóricas, antes da chegada do equipamento, um IMB modelo 1620. Por sua competência como engenheiro, instala o laboratório didático de Física na universidade e é incluído na equipe. Em seguida, é convidado como pesquisador associado pela Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, renomada instituição em pesquisa de ponta em computação. Mora em Illinois entre 1963 e 1965, e realiza pós-doutorado em Física Experimental. Em 1967, obtém a livre-docência e prossegue as atividades acadêmicas na USP. Sua habilidade política garante bom trânsito em ambiente institucional submetido a pressões decorrentes da ditadura militar imposta ao país em 1964. Apesar do período político turbulento, com colegas cassados e presos, monta o Instituto de Física da USP. Ao mesmo tempo, assume diversos cargos administrativos: secretário geral da Sociedade Brasileira de Física, coordenador da área de Ciências Exatas e Naturais do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), chefe do Departamento de Física Experimental e vice-diretor do Instituto de Astrofísica e Geofísica da USP, além da docência, atividade que exerce durante 40 anos (1958-1998).
A metodologia científica é campo a que se dedica durante os anos 1990, atuando como consultor no Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), como membro da Sociedade Brasileira de Metrologia e como vice-presidente do Comité International des Poids et Mesures (CIPM). Além disso, vincula-se ao Bureau International des Poids et Mesures (BIPM), instituto que tem como missão padronizar sistemas de metrologia internacionais.
Em 1966, Moscati conhece o artista plástico Waldemar Cordeiro (1925-1973), com quem estabelece colaboração artística envolvendo tecnologia computacional.
Análise
A contribuição de Giorgio Moscati, no final da década de 1960, para o desenvolvimento do processamento de imagens marca o início da arte digital no Brasil. À época, ele é apresentado ao artista plástico Waldemar Cordeiro, com quem desenvolve, entre 1968 e 1970, pesquisa que gera dois importantes projetos e trabalhos derivados.
A parceria surge da curiosidade de Cordeiro pelas ferramentas computacionais, tecnologia rara no período. Moscati reconhece em Cordeiro ideias claras sobre como abordar a nova tecnologia. Em comum, ambos têm o propósito de não usar a computação de maneira ultrapassada, replicando procedimentos existentes. Além disso, são reconhecidos em suas áreas de atuação e compartilham da visão analítica e aprofundada sobre o objeto de estudo.
Giorgio Moscati é o primeiro aluno do curso de Física da USP a utilizar o computador para cálculos complexos na tese de mestrado. Em 1963, durante o doutorado na Universidade de Illinois, conhece usos variados de computadores, como a primeira peça musical composta por máquinas, em 19571.
Seu campo de estudo – a instrumentação técnica para análise de partículas de raios cósmicos – está intimamente ligado à imagem: partículas são lidas a partir de traços revelados por meio de técnicas exploratórias de captura fotográfica. Esse trabalho encontra paralelo com a investigação estética de Cordeiro, que vê o computador como instrumento para armazenar, reproduzir e divulgar a arte.
À época, as manifestações artísticas que empregam computadores são meras representações ou deformações de imagens. Moscati e Cordeiro desenvolvem um plano de trabalho que inclui encontros regulares, visitas a exposições de arte e laboratórios científicos, mapeamento de possíveis áreas artísticas a serem abordadas e pesquisas sobre procedimentos contemporâneos similares.
A linguagem da computação é o caminho que decidem seguir e usam o computador da USP para iniciar as investigações. O primeiro trabalho que nasce da parceria é o programa Beabá, que tem a função de gerar vocábulos plausíveis e pronunciáveis em língua portuguesa. Moscati percebe os padrões consoante + vogal da língua e desenvolve o programa a partir de subgrupos (sílabas) e variáveis probabilísticas entre letras.
O processo dessa pesquisa é intelectualmente gratificante e, em 1971, Moscati contribui para elaborar o programa de transformação de imagem na obra Derivadas – Grau Zero. A obra original (o grau zero), uma fotografia, serve como matriz para gerar mais três graus (derivadas), impressões por computador no formato 47 x 34,5 cm. O conceito de derivada é o ponto em que o programa reconhece a transformação mais profunda na imagem, percebida na comparação entre original e imagem derivada. O programa criado por Moscati executa uma operação aritmética que compara a gradação entre as áreas escuras de cada pixel de uma imagem e gera composições que delineiam a imagem matriz. Essa detecção de bordas exerce grande influência no futuro do processamento e da análise de imagens.
A morte precoce de Cordeiro encerra o projeto, mas Moscati é solicitado por pesquisadores e por autoridades no campo da arte, para fornecer testemunho do panorama do início da computação no Brasil e das frutíferas colaborações entre campo distintos do conhecimento.
Nota
1 Illiac Suite ou String Quartet n. 4 é resultado de uma programação criada por professores da Universidade de Illinois em um computador modelo ILLIAC I, em 1957.
Exposições 3
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19/11/1985 - 31/1/1984
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24/10/1985 - 24/11/1985
Fontes de pesquisa 5
- GUERRA, Tatiana Rysevas. Grupo Ruptura. Acervo digital do MAC/USP, São Paulo. Disponível em: < http://www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo3/ruptura/ruptura.html >. Acesso em: 10 set. 2016.
- ITAÚ Cultural. Arte e Tecnologia: jogo de ideias. São Paulo, 2005. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=Wi-UHPEsYHw >. Acesso em: 10 set. 2016.
- MARQUES, Gil da Costa. Ifusp: passado, presente e futuro. São Paulo: Editora Livraria da Física, 2005.
- Moscati, Giorgio. Palestra realizada no Instituto de Física Giorgio Moscati pelo Centro de Competência de Software Livre (CCSL) no IME-USP, 19 maio 2011. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=y_ShnzeW3TI >. Acesso em: 12 set. 2016.
- PACHECO, Denis. Giorgio Moscati e Waldemar Cordeiro: quando o computador encontrou a Arte. USP Online Destaque, São Paulo, 23 out. 2012. Artes. Disponível em: < http://www5.usp.br/18320/giorgio-moscati-e-waldemar-cordeiro-quando-o-computador-encontrou-a-arte/ >. Acesso em: 12 set. 2016.
Como citar
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GIORGIO Moscati.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa3510/giorgio-moscati. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7