Simone Siss

Siss, 2020
Texto
Simone Sapienza (São Paulo, São Paulo, 1972). Grafiteira e muralista. Apresenta em sua produção reflexões sobre os diversos papéis da mulher contemporânea em representações de personagens femininas. A técnica de estêncil e a serigrafia, aplicada em grandes áreas com uso de texto, são aspectos distintivos de seus trabalhos.
Formada em propaganda e marketing em 1996, muda-se para Atibaia, no interior do estado, em 2003. Lá conhece, em 2010, o estêncil1 em uma oficina ministrada por Celso Gitahy (1968) – precursor desta técnica no graffiti – e pelo artista e músico uruguaio Matias Picón (1981). A intersecção entre música, processos gráficos, poesia e graffiti, presente nesse encontro, é evidenciada na trajetória da artista.
A exposição Sisstema (Matilha Cultural, São Paulo, 2012), apresenta personagens de várias épocas em situações de sátiras urbanas em 12 obras, de tamanhos e suportes diversos, como madeira, papel, tela e parede. O nome da mostra, que incorpora o da grafiteira, reflete questões subjetivas e é retirado deste poema da artista: “Meu sistema é bem completo. Tem concreto. Tem afeto. Meu sistema, adaptado. Mantém tudo organizado. Meu sistema é concebido. Mastigado, engolido. Meu sistema é bem nervoso... Muito mesmo, nem te conto” Sou plebéia ou realeza... Mas no fim, acabo sendo... “Um acessório de mim mesma”2.
Em 2012 se inscreve em uma oficina no Museu da Imagem e do Som (MIS/SP), organizada pelo grafiteiro Binho Ribeiro (1971), sem saber que haveria uma seleção para a escolha da capa do CD single Superstar, da cantora americana Madonna (1958). Dos 80 participantes, apenas duas mulheres estão entre os 30 pré-selecionados, e a cantora elege a obra de Siss. Apesar de a letra da música apresentar a adoração irrestrita do eu lírico feminino por um homem – o superstar do título –, a imagem produzida é uma releitura de Mulher Maravilha: TPM? Tô Pintando Muro, trabalho pelo qual Siss fica conhecida. Nesta versão, Madonna segura duas latas de tinta spray, com os braços cruzados em X, com a inscrição: “o shorts diz: ‘vamos jantar’, o chicote diz: ‘mas você paga!’”
Ainda em 2012, atua no coletivo ZZ7ZZ com Celso Gitahy, que tem como proposta criar intervenções em espaços públicos e privados utilizando diversos tipos de técnicas e linguagem de arte. Em novembro de 2013 realiza em um muro de 225 metros na Avenida das Nações Unidas um trabalho com imagens do personagem nórdico Thor na versão para o cinema. A obra demora duas semanas para preparação dos moldes em estêncil e uma semana para aplicação de tinta spray.
Na época, declara que ser grafiteira é uma atividade favorável, pois observa um maior respeito entre os pares, e incentiva outras mulheres a investirem em suas carreiras artísticas. Em 2014, escreve frases em lugares diversos – como na rua, em blocos de concreto, ou na praia, sobre a areia – e as fotografa, diariamente, para o projeto online Extervenção – Bota Tudo Pra Fora. Como exemplo de frases, podemos destacar “Eu lavo a louça se você enxugar minhas lágrimas”; “Sou Geni e desvio das minhas próprias pedras”; e “Moro mesmo dentro de mim”. Ainda em 2014, realiza a exposição individual Joanas Too Dark em uma galeria em São Paulo, onde reúne suas obras de temática feminina já grafitadas pela cidade. No estêncil com imagem da atriz francesa Renée Jeanne Falconetti (1892-1946), com base em fotogramas do filme A Paixão de Joana D'Arc (1928), do diretor dinamarquês Carl Theodor Dreyer (1889-1968), inclui a frase: “E Deus, é Joana ou João?”.
Seu trabalho de maior proporção é realizado em 2016 para uma ONG internacional que busca visibilidade para a ameaça que a construção de uma hidrelétrica no Rio Tapajós, no Amazonas, representa à vida da tribo Munduruku. Produzido com mil folhas de moldes, é tido como o maior trabalho em estêncil do mundo. Ocupa 37 metros de altura por 12 metros de largura em duas empenas em um edifício no centro de São Paulo, próximo ao viaduto 9 de Julho. A imagem apresenta uma criança da tribo Munduruku segurando um pássaro na mão esquerda. A frase que acompanha a obra “Achei o último Igarapé no fundo do meu coração... Nele lavei minha alma” tem como inspiração a crise hídrica daquele ano, que leva a cidade ao racionamento de água, e a fala de um membro da tribo, por ocasião de sua primeira visita a São Paulo, sobre os inúmeros igarapés que ele imagina estarem sob o concreto.
Em 2018, faz um estêncil com a imagem da vereadora carioca assassinada Marielle Franco (1979-2018) em uma oficina organizada pela Rede Nami, ONG formada por artistas sob o comando da grafiteira Panmela Castro (1981), que utiliza o graffiti para a promoção dos direitos das mulheres.
Participa do projeto Tarsila Inspira (2020), da Secretaria da Cultura de São Paulo e do Museu de Arte de Rua (MAR). A obra No Fundo, no Fundo… Tinha Eu! é realizada em um edifício na Rua 15 de Novembro e apresenta a artista modernista Tarsila do Amaral em uma versão contemporânea, na busca por suas verdades para além de rótulos pré-estabelecidos.
Suas obras são vistas em fachadas de bibliotecas, cenários de programas de televisão e em eventos de moda e de poesia em comunidades. Frequentemente realiza oficinas de lambe-lambe e estêncil em prol de causas sociais, com trabalhos apresentados em diversas cidades brasileiras, e também na Hungria, França e Alemanha.
Simone Sapienza Siss ganha destaque na cena do graffiti a partir de 2010 por sua mensagem feminista, que incorpora humor e lirismo com o uso de texto e referências a figuras femininas icônicas.
Notas
1. A técnica estêncil utiliza uma matriz de papel ou acetato com a forma perfurada da imagem para aplicação de tinta, via aerossol ou rolo. No início do graffiti, a repressão policial pressupunha o uso de técnicas que permitissem execução mais rápida do trabalho na rua. Também é chamado estêncil a matriz utilizada da serigrafia.
2. Cf.: “SISSTEMA” de Simone Sapienza Siss. Vitruvius, [s.l.], 17 fev. 2012.
Exposições 10
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1/6/2012 - 15/6/2012
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28/6/2012 - 30/9/2012
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12/10/2013 - 2/11/2013
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22/8/2015 - 31/10/2015
Mídias (1)
Ela conhece a arte de rua já perto dos 40 anos e comenta como esse direcionamento em sua produção abriu caminhos até então inimagináveis, como a conexão com a cantora e compositora Madonna e uma oficina na Hungria.
Ao mesmo tempo, Siss percebe que, ao incorporar motivos feministas em sua produção, a reação e a aceitação de seu trabalho pelo público se transformam tornando-se mais difícil.
Siss acredita que o reconhecimento crescente da arte de rua e a presença de inúmeros artistas talentosos, em várias áreas de expressão, fora dos circuitos tradicionais fomenta a transformação do que entendemos como arte e, sobretudo, do espaço que será ocupado por essa nova produção em um futuro próximo.
ITAÚ CULTURAL
Presidente Alfredo Setubal
Diretor Eduardo Saron
Núcleo de Enciclopédia
Gerente: Tânia Rodrigues
Coordenação: Glaucy Tudda
Produção de conteúdo: Camila Nader
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Gerente: Claudiney Ferreira
Coordenação: Kety Nassar
Produção audiovisual: Letícia Santos
Edição de conteúdo acessível: Richner Allan
Direção, edição e fotografia: Marcus Leoni
Montagem: Renata Willig
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 8
- CONHEÇA a grafiteira Siss. Rede Nami. Disponível em: redenami.tumblr.com/post/136750465477/conheça-a-grafiteira-siss. Acesso em: 23 set. 2020.
- GEORGIA BAR E RESTAURANTE. Os Sete Mares: de 4 dez. 1998 a 2 fev 1999. São Paulo, SP. 1 convite.
- ITAÚ CULTURAL (org.). Além das ruas: histórias do graffiti. São Paulo: Itaú Cultural, 2023. 96 p. 1 publicação. Disponível em: https://issuu.com/itaucultural/docs/af_publicacao_alem_das_ruas_19.04.
- MARTI, Silas. Madonna contra a parede. Folha de S.Paulo, São Paulo, 2 dez. 2012.
- SALVE O TAPAJÓS. Revista Veja online, São Paulo, [s.d.]. Disponível em: vejasp.abril.com.br/atracao/salve-os-tapajos/. Acesso em: 23 set. 2020.
- SIMONE SAPIENZA SISS. Site Oficial da Artista. Disponível em: siss1.com.br/page2. Acesso em: 23 set. 2020.
- “SISSTEMA” de Simone Sapienza Siss. Vitruvius, [s.l.], 17 fev. 2012. Disponível em: https://www.vitruvius.com.br/jornal/agenda/read/2869. Acesso em 01 out. 2020.
- “SISSTEMA” em exposição na Matilha Cultural. Catraca Livre, [s.l.], 1 mar. 2012. Disponível em: catracalivre.com.br/rede/sisstema-em-exposicao-na-matilha-cultural/. Acesso em: 23 set. 2020.
Como citar
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SIMONE Siss.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa249745/simone-siss. Acesso em: 05 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7