Lia Chaia

Lingueirão, 1999
Lia Chaia
Fotográfia
Texto
Lia Chaia (São Paulo, São Paulo, 1978). Artista visual. Seu processo criativo tem uma intensa variedade de objetos, entre eles, a cidade, a natureza, a cultura e suas inter-relações. Desenvolve em suas obras combinações e atravessamentos de modalidades artísticas e de investigações temáticas, tendo como centralidade o corpo em sua esfera íntima e em encontro com intervenções em espaços públicos.
Filha de professores universitários e colecionadores de arte, sua formação artística se inicia muito cedo, no convívio com diversas obras espalhadas pelo chão e pelas paredes de sua casa e enquanto assídua frequentadora de exposições. Sua relação íntima com a arte prevalece ao longo dos anos. Lia ingressa no curso de comunicação e artes do corpo na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), mas o interrompe depois de um ano. Em 2003, gradua-se em artes plásticas pela Fundação Armando Álvares Penteado (Faap).
Em 2001, ainda durante sua graduação, desenvolve Desenho-corpo, um de seus primeiros trabalhos apresentados ao público. Em um vídeo de 51 minutos, a artista desenha sobre o próprio corpo, em uma performance sem pausas, que só termina quando não há mais tinta na caneta esferográfica que utiliza em contato com a pele. Ao mesmo tempo que as linhas desenhadas discursam sobre a intimidade do corpo, os enquadramentos utilizados na obra abordam uma relação com a fragmentação dele. O corpo exposto diante de um aparato maquínico torna sua superfície, a pele, um suporte abstrato e maleável. O ventre, o coração, braços e pernas perdem e ganham volume e dimensão conforme a proximidade ou distância da câmera; e as linhas contínuas ou descontínuas desenhadas criam caminhos impressos sobre uma tela virtual. Trata-se de um desenho de escalas variáveis que reflete sobre si mesmo, o corpo que desenha é o mesmo corpo desenhado, em um constante diálogo entre gesto e sensação. A obra compõe a primeira exposição individual da artista, Experiências com o Corpo (2002), no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo.
Em 2002, ainda desenvolvendo uma poética com o próprio corpo, mas expandindo para uma relação com a cidade, Lia Chaia produz a série Madrugada, composta de um conjunto de cinco fotografias em locais diferentes de São Paulo. Em cada imagem, a artista concebe uma personagem com traços de super-heroína, com base em um retrato de um corpo que exibe sua nudez. A cada composição são criadas fissuras nas representações mais tradicionais da cidade. Ao agregar elementos cotidianos e inusitados entre paisagem e corpo, Lia propõe outro olhar e outra vivência desse espaço.
Com uma produção intensa, a artista participa de uma série de exposições individuais e coletivas em institutos de arte como Galeria Vermelha, pela qual Lia Chaia passa a ser representada em 2002, Instituto Itaú Cultural e Centro Georges Pompidou, em Paris. Em 2003, torna-se artista residente na Cité des Arts [Cidade Internacional das Artes], em Paris; e em 2005, é contemplada com a bolsa Iberê Camargo.
Seus trabalhos criam uma comunicação entre si ao longo de sua produção, como entre o corpo humano e a cidade. A natureza surge incorporando um desenvolvimento das mesmas questões: quem somos e o que nos compõe, que mundo habitamos e o que criamos nele. Folíngua (2003) e Comendo Paisagens (2005) são obras que olham para o mundo vegetal e como este pode ser incorporado ou, até mesmo, engolido. No primeiro trabalho, por meio de um díptico fotográfico, a imagem de Lia é construída em um corpo híbrido humano, com a língua feita de folhas e uma paisagem de fundo que revela arbustos fora de foco. Reforça-se aqui mais que um desejo de constituir-se natureza, mas uma revelação dessa própria constituição. Já no segundo trabalho, a artista come fotografias de paisagem, pensando uma metáfora de intervenção e inserção da humanidade na paisagem que ela mesma altera. Lia continuamente coloca em questão a construção de seu corpo em relação à natureza e como este pode ser apropriado pela cultura.
Em 2013, inaugura sua primeira exposição individual em Porto Alegre, Contrapasso, na Galeria Ecarta. Um conjunto de três obras e um site specific trabalham a definição da palavra que dá nome à exibição: um passo em direção contrária refere-se à inversão e ao movimento dos pés. Na videoinstalação Piscina, Lia Chaia retira as linhas paralelas das raias e redesenha o espaço que orienta a natação, formando uma espécie de labirinto aquático. O corpo, aqui, não é o individual, e sim o corpo coletivo de um ambiente urbano. A vivência desse lugar é interferida com a proposta de outro ritmo.
Em seus gestos e processos artísticos, seja por meio da fotografia, do vídeo ou da performance, Lia Chaia opera com os paradoxos que acusam as fragilidades de um sistema. Assim, ela propõe novos corpos e formas de caminhar que rompem com a suposta harmonia entre cidade e natureza construída no cotidiano.
Obras 2
Lingueirão
Noturno
Exposições 85
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13/12/2001 - 23/12/2001
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27/4/2002 - 31/5/2002
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18/5/2002 - 22/6/2002
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6/7/2002 - 10/8/2002
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16/8/2002 - 28/9/2002
Performances 1
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1/5/2010 - 2/5/2010
Fontes de pesquisa 18
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Como citar
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LIA Chaia.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa249297/lia-chaia. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7