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Enciclopédia Itaú Cultural
Literatura

Paulo Rónai

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 25.04.2017
13.04.1907 Hungria / a definir / Budapeste
01.12.1992 Brasil / Rio de Janeiro / Nova Friburgo
Paulo Rónai (Budapeste, Hungria, 1907 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1992). Ensaísta, tradutor, linguista e professor. Filho de um livreiro, com 19 anos já traduz poetas latinos para revistas. Em 1929, termina o doutorado e começa a publicar textos de crítica literária. Lança, em 1939, uma coletânea de poetas brasileiros, traduzidos por ele m...

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Biografia

Paulo Rónai (Budapeste, Hungria, 1907 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1992). Ensaísta, tradutor, linguista e professor. Filho de um livreiro, com 19 anos já traduz poetas latinos para revistas. Em 1929, termina o doutorado e começa a publicar textos de crítica literária. Lança, em 1939, uma coletânea de poetas brasileiros, traduzidos por ele mesmo. No mesmo ano, por ter ascendência judaica, é enviado a um campo de trabalhos forçados. Em 1941, no entanto, por meio de contatos com intelectuais brasileiros, consegue refúgio no Rio de Janeiro. Logo no início de sua estadia, conhece Aurélio Buarque de Holanda (1910-1989), amizade que rende, mais tarde, a coletânea Mar de Histórias: Antologia do Conto Mundial, publicada em dez volumes. Em 1942, casa-se por procuração com sua noiva húngara, na tentativa de trazê-la ao Brasil; no entanto ela morre, na Europa, assassinada pelos nazistas. Dez anos depois, troca alianças com Nora Tausz, arquiteta italiana, com quem tem duas filhas. No Brasil, além de escrever textos para periódicos cariocas, passa a lecionar latim e francês e se empenha em trabalhos de tradução: coordena, a partir de 1945, a edição brasileira dos 89 títulos da Comédia Humana, de Balzac, publica a Antologia do Conto Húngaro (1957), e, mais tarde, traduz o romance Os Meninos da Rua Paulo (1971), de Ferénc Molnar. Seu compromisso com a tradução leva-o a fundar, em 1974, a Associação Brasileira de Tradutores. Vive a partir de 1977, com a esposa e as filhas, em Nova Friburgo. Em 1981, recebe o Prêmio Trienal Nath Horst da Federação Internacional de Tradutores, um dos mais importantes da área. Falece em 1992 e, três anos depois, é homenageado pela Fundação Biblioteca Nacional, que passa a conceder a tradutores brasileiros o Prêmio Paulo Rónai.

Análise

Os três caminhos pelos quais Paulo Rónai envereda - o ensino, a tradução e o ensaio literário - apresentam como denominador comum dois elementos essenciais para compreender a obra do autor: a prática, caracterizada pela atuação como professor e tradutor, e o amor às palavras, responsável pela escolha da filologia e linguística como áreas de pesquisa.

O primeiro elemento surge da própria cultura em que é educado: uma das grandes preocupações da intelectualidade húngara é verter os grandes clássicos de outros idiomas para a língua magiar, de modo a trazer à Hungria aquilo que Goethe chamava de "literatura universal" (Weltliteratur). Daí a valorização do trabalho do tradutor e a dedicação de grandes nomes das letras húngaras a esse ofício. Com Rónai não foi diferente, aos 19 anos publica traduções próprias de clássicos latinos.

Por conta dessa formação humanista, a função de lexicógrafo mostra-se ideal: permite não só o estudo formal de línguas como lhe garante todo um arcabouço cultural, que fica flagrante no grande volume de notas explicativas escritas pelo autor para a publicação da tradução de todos os volumes da Comédia Humana, de Balzac. A coordenação dessa coleção, a cargo de Rónai, é até hoje vista como um dos maiores empreendimentos editoriais realizados no Brasil, como lembra Magalhães Jr.

A amizade com Aurélio Buarque de Holanda também se mostra extremamente frutífera para a cultura brasileira: ambos organizam, com tradução de Rónai e revisão do dicionarista, a coletânea Mar de Histórias - Antologia do Conto Mundial, composta de dez volumes de narrativas provenientes de diversas partes do mundo. Novamente, nesse trabalho, verifica-se a preocupação humanista em tornar acessível o que é tido como "tesouro da cultura mundial".

Como nota o próprio Aurélio, trata-se de uma atitude de quem não só tenta entender outras culturas como também se esforça para divulgá-las o máximo possível. Não é "puro exibicionismo de um erudito", mas sim a tentativa fraterna de tornar comum o prazer que o autor tem ao entrar em contato com diferentes modos de pensar. E isso se faz sentir também em sua atuação como professor: suas aulas de latim e de francês rendem importantes volumes ao público brasileiro; suas palestras sobre tradução alimentam as experiências reunidas em volumes sobre o assunto: A Tradução Vivida e Escola de Tradutores.

Já no ensaio literário, Rónai aproxima-se de uma tradição montagniana, também presente em críticos como Antonio Candido (1918) e Otto Maria Carpeaux (1900-1978): seus textos, claros e concisos, não lidam com conceitos fixos nem almejam alcançar uma verdade absoluta, mas sim plasmam a experiência pessoal em um relato que não esgota a gama de possibilidades do tema tratado.

Essas características chegam a aproximar muitos de seus textos de verdadeiras obras literárias, como se pode perceber nos relatos de Como Aprendi o Português e Outras Aventuras. Não à toa, seu talento é percebido por outro grande nome das letras brasileiras. Guimarães Rosa (1908-1967) chega a utilizar interpretações e observações de Rónai em suas cartas aos tradutores italianos e alemães, para explicar-lhes determinados pontos obscuros que, muitas vezes, dificultam a tradução de suas obras.

Por fim, outro trabalho importante de Rónai é sua pesquisa acerca das línguas artificiais, que rende os textos que integram o volume Babel & Antibabel. Esse livro é composto de ensaios que analisam formal e historicamente as tentativas humanas de construir um idioma único, tal como, por exemplo, o esperanto. Os textos desse volume são escritos em linguagem bastante acessível e, de acordo com o próprio Rónai, são feitos para "avivar o filólogo amador que existe no fundo de todos nós".

Fontes de pesquisa 8

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  • ASCHER, Nelson. Paulo Rónai: tradução e universalidade. In: _____. Pomos da discórdia. São Paulo: Ed. 34, 1996.
  • ESQUEDA, Marileide Dias. O tradutor Paulo Rónai: o desejo da tradução e do traduzir. Dissertação de mestrado. Universidade de Campinas: São Paulo, 2004.
  • HOLLANDA, Aurélio Buarque de. O brasileiro Paulo Rónai. In: RÓNAI, Paulo. A tradução vivida. 2 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.
  • MAGALHÃES Jr., Raymundo. Prefácio. In: RÓNAI, Paulo. Guia prático de tradução do francês. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987.
  • ROSA, João Guimarães. Pequena palavra. In: RÓNAI, Paulo (Org.). Antologia do conto húngaro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1957.
  • RÓNAI, Paulo. Como aprendi o português e outras aventuras. São Paulo: Globo, 1992.
  • RÓNAI, Paulo. Escola de tradutores. 5º ed. ver. ampl. Rio de Janeiro: Nova Fronteira/INL, 1987.
  • SPIRY, Zsuzsanna Filomena. Paulo Rónai, um brasileiro made in Hungary. 2009. 202 f. Dissertação de Mestrado - Departamento de Letras Modernas, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2009.

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