Dudude Herrmann
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A marcha – Uma instalação coreográfica, 2022
Dudude Herrmann
Texto
Maria de Lourdes Arruda Tavares Herrmann (Muriaé, Minas Gerais, 1958). Bailarina, coreógrafa, professora de dança. É reconhecida pelo trabalho de improvisação e combinação de linguagens artísticas na criação de dança contemporânea.
Estuda dança a partir de 1968, na Escola de Dança Moderna Marilene Martins, em Belo Horizonte, importante espaço de formação da dança mineira. Lá também estuda danças afro, composição, consciência corporal, rítmica, e improvisação. O trabalho de improvisação na escola tem como referência Rolf Gelewski (1930-1988), bailarino e coreógrafo alemão radicado no Brasil e antigo professor de Marilene Martins (1935). O trabalho de Gelewski com a improvisação baseada em estrutura sonora abre o espaço para Dudude Herrmann perceber a proximidade entre as linguagens artísticas, e a bailarina expande seus trabalhos não apenas para a música, mas também para todas as formas no campo da expressão artística.
Em 1971, a escola de Marilene Martins passa a se chamar Trans-Forma Centro de Dança Contemporânea, e a diretora cria um grupo experimental em que Dudude começa a carreira profissional. Em 1976 o centro produz um trabalho da bailarina uruguaia Graciela Figueroa (1944). São previstos três movimentos, mas Figueiroa realiza dois e encarrega Herrmann de produzir o terceiro. A bailarina estuda a música, pensa em encaixes de ação e apresenta com o grupo um processo de improvisação, ainda que, naquele momento, não assuma a criação como improvisação.
Esse estilo de trabalho é assumido somente depois de 1996, quando, numa oficina da estadunidense Katie Duck (1951), Herrmann identifica seu próprio trabalho com o que é ali apresentado como improvisação, percebendo a coerência das próprias propostas e uma possibilidade de autorização para seu reconhecimento como artista desse estilo.
Antes de se assumir improvisadora, coreografa para o Trans-Forma, trabalha com a Companhia Absurda de teatro no final dos anos 1980 e funda, em 1991, sua própria companhia, a Benvinda Cia. de Dança. A Benvinda e seu primeiro espaço de trabalho, o Estúdio Dudude, se tornam centros de circulação de artistas e pesquisadores e se estabelecem como referência para a dança contemporânea brasileira. Coreógrafa e companhia são reconhecidas com diversos prêmios de destaque, como os da Fundação Nacional de Artes (Funarte) e as bolsas Vitae e Virtuose do Ministério da Cultura.
O trabalho da coreógrafa também se estende para fora da criação artística. A partir de 1986, ela coordena a área de dança do Festival de Inverno da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), evento artístico multilinguagens para o qual a dançarina traz a variedade de propostas e entendimentos de dança que marcam a programação, continuando a curadoria que também assinada por ela e Marilene Martins.
Herrmann deixa a coordenação de dança do evento em 1997. Fortemente ligado à universidade, o festival procura coordenações de professores pesquisadores, mas a coreógrafa mantém sua carreira afastada da academia, tentando separar o estudo da dança do estudo acadêmico sobre a dança. A dançarina se lança para o que considera a construção de um repertório e um conhecimento no campo livre das artes, sem estudos formais, calcado na experimentação e na descoberta.
Essa característica marca também sua prática pedagógica, que entende como processo construído com os alunos: não ensinar o que já se sabe, mas descobrir aquilo que pode ser produzido em conjunto. A noção de presença e compartilhamento forma a base dos processos de improvisação de Herrmann: um campo de possibilidades, mas que se alinham a partir do contato com o outro e orientadas pela atenção e pelo objetivo de trocar. Nesse sentido, a coreógrafa mantém na cidade mineira de Brumadinho, desde 2010, o Ateliê Casa Branca, cujos trabalhos assumem o tom ativista ligado a questões sociais e ambientais e buscam promover mudanças. O ateliê produz trabalhos de contato com o público para transformar os hábitos daqueles que os assistem.
Esse alargamento das noções de arte e vida se desenha também no livro Caderno de notações (2011) e se mostra em obras como A projetista (2011). Nesse trabalho solo, a dançarina se apresenta como uma artista que elabora projetos para serem financiados. Sentada em uma mesa tomada por papéis, livros e referências que pesquisa, questiona e enfrenta, oferecendo respostas em movimento para muito além do que os projetos demandam. Ao observar o que se exige da arte – sua pré-formatação, seu desenho específico –, Herrmann coloca em jogo os limites que os instrumentos de financiamento criam e os efeitos disso sobre o trabalho artístico.
A proposta de compartilhamento e de trocas sensíveis também está presente em reflexões que a artista publica em seu blog, Coisas de Dudude, desde 2009, e nos encontros que lança em suas redes sociais, o Café da Tarde, com conversas com artistas, realizadas desde 2019. Essas ações multiplicam os espaços e as possibilidades de se entrar em contato, afetar e ser afetado.
Orientada por uma proposta de pesquisa movida pela improvisação para estabelecer contatos afetivos e efetivos com o público que a assiste, atuando na formação e na criação em dança contemporânea, Dudude Herrmann é uma referência do trabalho de improvisação e pensamento sobre a dança.
Obras 1
Espetáculos 11
Espetáculos de dança 2
Performances 1
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 10
- DUNDER, Karla. A experimentação como base criativa do gestual. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 21 maio 2005.
- ESPETÁCULOS Teatrais. [Pesquisa realizada por Márcio Freitas]. Itaú Cultural, São Paulo, [20--]. 1 planilha de fichas técnicas de espetáculos.
- HERRMANN, Dudude. Cadernos de notações: a poética do movimento no espaço de fora. Belo Horizonte: Edição da Autora, 2011.
- HERRMANN, Dudude. Dudude Hermmann. [Entrevista cedida a] Henrique Rochelle. São Paulo, 2023.
- PEQUENAS Navegações. In: PAOLA RETTORE. Site Oficial da Artista. Belo Horizonte, 2022. Disponível em: www.paolarettore.com/obras/pequenas-navegacoes. Acesso em: 20 jun. 2022.
- Programa do Espetáculo - Amores Surdos - 2008.
- RETTORE, Paula. A improvisação no processo de criação e composição da dança de Dudude Herrmann. Dissertação (Mestrado em Artes) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010.
- RÁDIO MAR AZUL FM. Dudude Herrmann. Paracuru, cidade que dança. Paracuru: Rádio Mar Azul FM, 2023.
- TERRENO baldio, 1981. Programa do Espetáculo. Disponível em: http://www.angelvianna.art.br/arquivos/8/87/1981XXXX-MG-ILU-PRO.pdf. Acesso em: 14 jun. 2018.
- VIEIRA, Marcilio de Souza. Dudude Herrmann: inventora de improvisações. Dança – Revista do Programa de Pós-Graduação em Dança, Salvador, v. 7, n. 1, pp. 97-102, jul.-dez. 2022.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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DUDUDE Herrmann.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa224119/dudude-herrmann. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7