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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Solon Ribeiro

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 30.12.2019
José Francisco Ribeiro Solon (Crato, Ceará, 1956). Artista visual, professor e curador. Sua obra transita entre fotografia, audiovisual e performance para deslocar as imagens de seu contexto inicial e criar outros sentidos, muitas vezes, pelo engajamento do artista ou do público em ações.

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José Francisco Ribeiro Solon (Crato, Ceará, 1956). Artista visual, professor e curador. Sua obra transita entre fotografia, audiovisual e performance para deslocar as imagens de seu contexto inicial e criar outros sentidos, muitas vezes, pelo engajamento do artista ou do público em ações.

Durante a infância em Crato, Solon Ribeiro tem livre acesso à sala do Cine Moderno1, de seu tio, e convive com o colecionismo de seu pai. Este, desde menino, adquire fotogramas do cinema clássico diretamente dos projecionistas e confecciona álbuns para guardá-los.

Depois de morar em Fortaleza na adolescência, parte para São Paulo, onde se especializa como fotógrafo e trabalha para o Grupo Abril. Em 1978, acompanha o evento Mitos Vadios, na rua Augusta, organizado pelo artista plástico Ivald Granato (1949-2016) em contraposição ao tema Mitos e Magia da I Bienal Latino-Americana de São Paulo. Na ocasião, fotografa a performance Delirium Ambulatorium (1978), de Hélio Oiticica (1937-1980), que influencia seu trabalho posterior ao intervir corporalmente em imagens técnicas2. Anos depois, em 2005, na exposição Mitos Vadios, realizada no Museu de Arte Contemporânea do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (MAC/CE), em Fortaleza, essas fotografias têm sua importância reconhecida como documento de uma das últimas ações de Oiticica e como obra de Ribeiro.

Muda-se para Paris na década de 1980, onde estuda na École Nationale Supérieure des Arts Décoratifs (EnsAD). Encerra seu período formativo com o trabalho Lambe-lambe – Pequena História da Fotografia Popular (1997). Ao estabelecer um estudo comparativo da fotografia popular na França do século XIX e no Nordeste brasileiro do fim da década de 1980, o autor busca identificar suas origens e compreender suas funções.

De volta a Fortaleza nos anos 1990, envolve-se com atividades educacionais. Torna-se responsável pelo Núcleo de Fotografia do Alpendre – Casa de Cultura, Pesquisa e Arte e trabalha como coordenador e professor no curso de artes visuais da Faculdade Gama Filho (posteriormente denominada Faculdade Integrada da Grande Fortaleza), que forma importantes artistas, como Yuri Firmeza (1982), Waléria Américo (1979) e Cecília Bedê (1983) – que  Solon Ribeiro lança como curador –, e a curadora, pesquisadora e gestora Jacqueline Medeiros (1965).

No fim da década de 1990, com o falecimento do pai, o artista herda cerca de trinta mil fotogramas do cinema clássico, soltos em pastas e organizados em álbuns. A partir de 2005, Solon passa a trabalhar os fotogramas em várias combinações e múltiplas obras. A primeira, O Golpe do Corte (2005), exposta no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB), em Fortaleza, é composta por cinco vídeos em sequência, reproduzidos em uma televisão de tubo sobre o chão. O artista edita os fotogramas já digitalizados, constituindo um cinema feito sem câmera. Em frente à TV, é posicionada uma grande almofada sobre a qual incide a projeção de rostos de estrelas do cinema, como Orson Welles (1915-1985) e Grande Otelo (1915-1993). Ao se sentarem no estofado, as pessoas podem receber em sua pele a imagem projetada, evidenciando a dimensão performática também presente no último vídeo da obra, no qual se vê Solon Ribeiro interagindo com as projeções pela manipulação da almofada.

Seguem-se duas exposições em 2009 e 2013: Quando o Cinema se Desfaz em Fotograma, no CCBNB, e O Cinema É Meu Playground, no MAC-CE. As imagens do cinema são articuladas em outras configurações espaciais. Em Cinema Moderno (2013), 30 projetores feitos com caixa de madeira e lentes artesanais de bulbos de lâmpada incandescente com água são dispostos em diversas alturas. As imagens turvas ocupam salas escuras, nas quais o público pode observá-las ou se colocar entre o projetor e a parede, fazendo seu corpo interagir com elas. Essa obra invoca a prática da infância de Ribeiro ao construir mecanismos caseiros de visualização com caixas de sapato, remetendo a imagem a um estado aberto à fabulação e anterior à narrativa com começo, meio e fim.

Em Sage (2008-2009), os fotogramas são projetados em locais públicos. As ações ocultas de um projecionista performer formam junções entre a superfície das figuras e da cidade. Tem-se acesso ao resultado dos seus encadeamentos ao devolver as imagens estáticas ao movimento no espaço. Dos sete segmentos com trilha musical que compõem o trabalho, destaca-se o último, Myxomatosis (2008), que se torna uma obra autônoma. Nele, as imagens de divas do cinema passeiam por um matadouro. Cortadas por serra sobre as carcaças de boi, elas permanecem inteiras em suas projeções e ocupam o corpo de Ribeiro que, de projecionista, passa a performer. Ele se banha vigorosamente em sangue e vísceras e descansa enrolado no couro de um animal feito tela para os fotogramas.

Apesar da formação como  fotógrafo, o trabalho de Solon Ribeiro não pertence ao congelamento. Ele ocorre em permanente fluxo entre áreas da arte e mudança nas formas de visualização das imagens, buscando abrir outras possibilidades de leitura e sentidos. Uma obra ou uma exposição não são um ponto final, mas o compartilhamento de determinado estágio artístico com o público e um laboratório para novas criações.

Notas

1. Importante polo exibidor no interior do Ceará. Entre as décadas de 1950 e 1980, havia quatro salas de cinema na cidade.

2. Imagens feitas com máquinas.

 

Exposições 37

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Instalações 1

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Fontes de pesquisa 6

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  • BRITO, Annádia Leite. Dos fotogramas ao cinema menor: dispositivos, montagem e movimentos na obra de Solon Ribeiro. 2015. Dissertação (Mestrado em Artes) – Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2015.
  • MEDEIROS, Jacqueline (Org.). O olhar que espreita por meus olhos: Solon Ribeiro. Fortaleza: Pano de Roda – Território e Movimento, 2017.
  • O GOLPE do corte. Disponível em: http://www.ogolpedocorte.com.br. Acesso em: 30 dez. 2019
  • RIBEIRO, Solon. Lambe-lambe: pequena história da fotografia popular. Fortaleza: Imprensa Universitária UFC, 1997.
  • RIBEIRO, Solon. O golpe do corte. Fortaleza: [s.n.], 2006.
  • RIBEIRO, Solon. Perdeu a memória e matou o cinema. Rio de Janeiro: +2 Editora, 2013.

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